Leilão eólico offshore. “Complexo” para a DGEG, “frustrante” para os promotores
O leilão de energia eólica offshore está em preparação. Os promotores mantêm o interesse, mas há também frustração e alertas.
A Direção Geral de Energia e Geologia afirma que o leilão de energia eólica offshore “está em preparação”, já que o processo “é complexo”. Do lado dos promotores, o interesse mantém-se, mas misturado com alguma frustração, assim como alertas de que Portugal pode estar a perder uma oportunidade de se industrializar.
“Estão em estudo os modelos para atribuição de capacidade, e o primeiro leilão está em preparação”, indicou Manuela Seixas Fonseca, da Direção Geral da Energia e Geologia, na conferência anual da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), que decorreu esta quinta-feira em Lisboa.
Para já, afirma ser necessário compatibilizar a instalação do eólico offshore com as outras atividades que existem no mar, como a defesa, o próprio ambiente, as pescas, o turismo e a navegação. “É um processo complexo e que leva o seu tempo”, rematou. Como desafios do processo, aponta o envolvimento de múltiplas entidades e ministérios, assim como a necessidade de robustez legal e clareza.
Manuela Seixas Fonseca evidenciou que está agora a correr o prazo para a entrega de uma proposta de peças de procedimento, um prazo que termina em janeiro para a DGEG, “mas que obviamente não representa uma obrigação para o lançamento imediato desse mesmo procedimento”.
Apesar do arrastar da data de lançamento do leilão, a administradora com a pasta do Impacto na Iberblue Wind, Val Cummins, confrontada no painel seguinte com a questão de se a empresa mantém o interesse em investir nesta tecnologia em Portugal, foi perentória: “Absolutamente”. Contudo, alerta que “é muito difícil manter o compromisso com uma região sem previsibilidade”, e afirma que contava “ouvir mais” novidades a partir do momento em que, em abril, foi publicado um despacho que apontava prazos para o lançamento das peças concursais.
Cummins diz mesmo ser “muito frustrante” esperar por alguma certeza, e que se há coisa que aprendeu no processo em Portugal foi “a ser paciente”. Nos últimos três anos, desde que decidiu olhar para Portugal como destino de investimento, a empresa tem-se dedicado a desenvolver trabalho técnico e a envolver-se com outras partes interessadas. “É um país fantástico, com um recurso ótimo, uma oportunidade incrível. Mas é também muito frustrante esperar pela certeza, que é chave”, remata.
José Pinheiro, diretor da Oceans Winds na região da Europa do Sul, avisou que, do ponto de vista do desenvolvimento industrial, a energia eólica offshore “é uma oportunidade que não aparece comummente no século XXI” e “se Portugal não dá o passo e começa a criar projetos comercias, quando virmos a maturidade [da tecnologia], vamos ser importadores de tudo”.
Na sua ótica, Portugal e Espanha “têm condições para atrair empresas” da cadeia de abastecimento do eólico offshore, mas avisa que, atuando esta empresa a nível global, o investimento pode acabar por ser alocado “em qualquer parte do mundo”.
Cummins alertou ainda que “a redução dos custos vem com o desenvolvimento de tecnologias, não com a passagem do tempo. Tem de se implementar, de se desenvolver a própria cadeia de abastecimento”. Tiago Palma Veigas, gestor da Vestas em Portugal, corrobora: “Precisamos de escala, não podemos ter só projetos piloto”.
Portugal pretende atingir 2 gigawatts de capacidade de eólico offshore até 2030, e potencialmente 10 gigawatts até 2040, de acordo com o atual Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC).
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