Quarto português na flotilha é estudante e recusa silêncio perante “tanto sofrimento”

  • Lusa
  • 2 Outubro 2025

"Não sou um ativista experiente. Sou um marinheiro, um estudante, alguém que simplesmente não podia continuar calado perante tanto sofrimento que poderia ter sido evitado", afirma o jovem.

Diogo Chaves, o quarto português que seguia a bordo da Flotilha Global Sumud, intercetada pelas forças israelitas a caminho de Gaza, é um estudante que se juntou à iniciativa humanitária por recusar ficar “indiferente” perante “tanto sofrimento”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português revelou esta quinta-feira ter tido conhecimento da existência de um quarto cidadão nacional a participar na flotilha humanitária, além da coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, da atriz Sofia Aparício e do ativista Miguel Duarte.

Fonte oficial identificou o português como Diogo Chaves e adiantou à Lusa que as autoridades portuguesas tiveram conhecimento da sua presença após familiares terem contactado o Gabinete de Emergência Consular. Num vídeo publicado nas redes sociais do Movimento Global para Gaza dos Países Baixos, Diogo Chaves é identificado como “um membro da tripulação”, tendo partido do porto da Sicília, Itália, a bordo da embarcação “Selvaggia”.

“Não sou um ativista experiente. Sou um marinheiro, um estudante, alguém que simplesmente não podia continuar calado perante tanto sofrimento que poderia ter sido evitado”, afirma o jovem, no vídeo, divulgado no início desta semana. Sobre a iniciativa, Diogo Chaves diz tratar-se de uma “missão civil não violenta para levar ajuda humanitária e chamar a atenção para o bloqueio ilegal a Gaza imposto pelas forças de ocupação israelitas”.

A flotilha é “uma missão pacífica”, mas “transporta uma mensagem forte”, refere: “O mundo está a ver e não deixaremos isto acontecer em silêncio”.

“Acredito que a vida humana tem valor e que as pessoas em todo o lado merecem viver sem serem bombardeadas, sujeitas à fome ou esquecidas”, acrescenta. Diogo Chaves afirma-se ainda consciente dos riscos desta missão.

“Mas também sei que não fazer nada comporta um outro tipo de risco: o risco de me tornar indiferente. Por isso, eu vou navegar não para espalhar mais ódio, mas porque ainda acredito em justiça, em dignidade e na possibilidade de um mundo melhor e que todos podemos fazer uma parte para o tornar uma realidade”, sustenta ainda. Num vídeo publicado ao início da tarde, Diogo Chaves dá conta da sua detenção.

“Olá. O meu nome é Diogo Chaves e sou um cidadão português. Se estás a ver isto, significa que fui detido pelas forças de ocupação israelitas e levado contra a minha vontade para Israel”, afirma, enquanto pede ao Governo que “faça tudo o que for possível” para o fazer regressar a Portugal. “Mas, ainda mais importante, Israel deve parar o bloqueio e permitir a entrada de ajuda humanitária a Gaza”, salienta.

Segundo o seu perfil na rede social Linkedin, o português estuda Física do Clima na Universidade de Utrecht, Países Baixos.

O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, disse esta quinta que o Governo está a tentar perceber se todos os portugueses que estão “sob responsabilidade das autoridades israelitas” estão “num porto” e a tentar contactos com os ativistas detidos. Montenegro afirmou esperar que os cidadãos portugueses possam regressar ao país “sem nenhum incidente”, considerando que a mensagem da flotilha humanitária foi transmitida.

As forças israelitas intercetaram entre a noite de quarta-feira e a manhã de hoje a Flotilha Global Sumud, com cerca de 50 embarcações, que se dirigia à Faixa de Gaza para entregar ajuda humanitária, detendo os participantes, incluindo quatro cidadãos portugueses. Também foram detidos ativistas espanhóis, italianos, turcos, malaios, tunisinos, brasileiros e franceses, bem como cidadãos dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, México e Colômbia, entre muitos outros — os organizadores denunciaram a falta de informação sobre o paradeiro de 443 participantes da missão humanitária.

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