Quarto português na flotilha é estudante e recusa silêncio perante “tanto sofrimento”
"Não sou um ativista experiente. Sou um marinheiro, um estudante, alguém que simplesmente não podia continuar calado perante tanto sofrimento que poderia ter sido evitado", afirma o jovem.
Diogo Chaves, o quarto português que seguia a bordo da Flotilha Global Sumud, intercetada pelas forças israelitas a caminho de Gaza, é um estudante que se juntou à iniciativa humanitária por recusar ficar “indiferente” perante “tanto sofrimento”.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português revelou esta quinta-feira ter tido conhecimento da existência de um quarto cidadão nacional a participar na flotilha humanitária, além da coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, da atriz Sofia Aparício e do ativista Miguel Duarte.
Fonte oficial identificou o português como Diogo Chaves e adiantou à Lusa que as autoridades portuguesas tiveram conhecimento da sua presença após familiares terem contactado o Gabinete de Emergência Consular. Num vídeo publicado nas redes sociais do Movimento Global para Gaza dos Países Baixos, Diogo Chaves é identificado como “um membro da tripulação”, tendo partido do porto da Sicília, Itália, a bordo da embarcação “Selvaggia”.
“Não sou um ativista experiente. Sou um marinheiro, um estudante, alguém que simplesmente não podia continuar calado perante tanto sofrimento que poderia ter sido evitado”, afirma o jovem, no vídeo, divulgado no início desta semana. Sobre a iniciativa, Diogo Chaves diz tratar-se de uma “missão civil não violenta para levar ajuda humanitária e chamar a atenção para o bloqueio ilegal a Gaza imposto pelas forças de ocupação israelitas”.
A flotilha é “uma missão pacífica”, mas “transporta uma mensagem forte”, refere: “O mundo está a ver e não deixaremos isto acontecer em silêncio”.
“Acredito que a vida humana tem valor e que as pessoas em todo o lado merecem viver sem serem bombardeadas, sujeitas à fome ou esquecidas”, acrescenta. Diogo Chaves afirma-se ainda consciente dos riscos desta missão.
“Mas também sei que não fazer nada comporta um outro tipo de risco: o risco de me tornar indiferente. Por isso, eu vou navegar não para espalhar mais ódio, mas porque ainda acredito em justiça, em dignidade e na possibilidade de um mundo melhor e que todos podemos fazer uma parte para o tornar uma realidade”, sustenta ainda. Num vídeo publicado ao início da tarde, Diogo Chaves dá conta da sua detenção.
“Olá. O meu nome é Diogo Chaves e sou um cidadão português. Se estás a ver isto, significa que fui detido pelas forças de ocupação israelitas e levado contra a minha vontade para Israel”, afirma, enquanto pede ao Governo que “faça tudo o que for possível” para o fazer regressar a Portugal. “Mas, ainda mais importante, Israel deve parar o bloqueio e permitir a entrada de ajuda humanitária a Gaza”, salienta.
Segundo o seu perfil na rede social Linkedin, o português estuda Física do Clima na Universidade de Utrecht, Países Baixos.
O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, disse esta quinta que o Governo está a tentar perceber se todos os portugueses que estão “sob responsabilidade das autoridades israelitas” estão “num porto” e a tentar contactos com os ativistas detidos. Montenegro afirmou esperar que os cidadãos portugueses possam regressar ao país “sem nenhum incidente”, considerando que a mensagem da flotilha humanitária foi transmitida.
As forças israelitas intercetaram entre a noite de quarta-feira e a manhã de hoje a Flotilha Global Sumud, com cerca de 50 embarcações, que se dirigia à Faixa de Gaza para entregar ajuda humanitária, detendo os participantes, incluindo quatro cidadãos portugueses. Também foram detidos ativistas espanhóis, italianos, turcos, malaios, tunisinos, brasileiros e franceses, bem como cidadãos dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, México e Colômbia, entre muitos outros — os organizadores denunciaram a falta de informação sobre o paradeiro de 443 participantes da missão humanitária.
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