Mariana Mortágua descreve dificuldades na prisão em Israel à chegada a Lisboa

  • Lusa
  • 6 Outubro 2025

Os quatro ativistas portugueses que participaram na flotilha humanitária a Gaza e que foram detidos pelas autoridades israelitas já estão em Portugal.

Os ativistas que estavam detidos em Israel, incluindo a deputada Mariana Mortágua, chegaram a Portugal na noite desta segunda-feiraLusa

Uma multidão de pessoas “invadiu” esta noite o átrio das chegadas do aeroporto de Lisboa para receber, hora e meia depois de aterrarem, os quatro ativistas portugueses, surpreendidos com a receção, que participaram na flotilha humanitária a Gaza. À chegada, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, descreveu esta noite como difícil o tempo que esteve presa em Israel, mas disse que muito pior deverão passar os detidos palestinianos.

“[Percebemos a diferença naquela prisão] entre ser europeus e palestinianos, e por muito que tenha sido difícil para nós, e foi, e por muito que tenha havido abusos, e houve, muitos, isso deu-nos uma ideia do grau de impunidade das forças israelitas contra palestinianos”, disse esta noite à chegada a Lisboa.

O ativista Miguel Duarte afirmou também, na mesma altura, que não existem direitos dos prisioneiros nas cadeias israelitas, e se os detidos portugueses que faziam parte da flotilha tiveram alguma proteção foi por serem europeus e por haver mobilizações por todo o mundo em apoio da flotilha.

Se cerca de uma hora antes da chegada do avião que os trazia de Madrid os ativistas eram cerca de três dezenas, depois das 22h32, hora a que a aeronave aterrou, a zona de chegadas foi literalmente tomada por mais de mil pessoas, estimou fonte policial à Lusa, que criou um perímetro de segurança para permitir a saída do átrio de Mariana Mortágua, Sofia Aparício, Miguel Duarte e Diogo Chaves.

Engolidos pela multidão, que gritava palavras de ordem anti-Israel, pró-palestinianas e contra o Governo português, os quatro ativistas foram “arrastados” pelo cordão policial para fora do átrio do aeroporto.

Com a polícia a deixá-los numa zona já fora do átrio e a dispersar, os quatro ativistas foram deixados, por instantes, a descoberto, oportunidade aproveitada pelos jornalistas para ouvirem as declarações dos participantes portugueses na Flotilha Global Sumud que, visivelmente cansados, reportaram as horas vividas durante a prisão em Israel.

[Percebemos a diferença naquela prisão] entre ser europeus e palestinianos, e por muito que tenha sido difícil para nós, e foi, e por muito que tenha havido abusos, e houve, muitos, isso deu-nos uma ideia do grau de impunidade das forças israelitas contra palestinianos.

Mariana Mortágua

Deputada e coordenadora do Bloco de Esquerda

Entre gritos de “Viva a luta do Povo Palestino, Israel é um Estado assassino”, “Palestina Livre” e, numa acusação direta ao chefe da diplomacia portuguesa, “Paulo Rangel é um pau mandado de Israel”, as primeiras palavras da coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) permitiram gerar silêncio entre os apoiantes.

O ativista Miguel Duarte falou dos “camaradas espancados”, de detidos 24 e 48 horas sem comer nem beber, alguns com doenças crónicas, como a diabetes, e sem medicação, de pessoas postas “em jaulas ao sol”. Explicou ainda que lhes foram entregues documentos e foram pressionados a assinar, percebendo depois que o documento dizia que os detidos aceitavam que Israel os tinha capturado legalmente e levado para Israel.

“Recusámo-nos a assinar e os soldados israelitas usaram os nossos passaportes e falsificaram as nossas assinaturas para mostrar que nós aceitámos que fomos intercetados legalmente. É preciso ser claro, fomos intercetados ilegalmente e levados contra a nossa vontade para Israel”, disse.

Mariana Mortágua referiu também que, enquanto estiveram detidos, desconheciam o que se estava a passar e que entre eles especulavam sobre qual seria a mobilização em Portugal e em cada outro país em relação “à atuação ilegal por parte de Israel”.

A atriz Sofia Aparício queixou-se de ter sido maltratada durante a detenção, tendo sido algemada como todos os outros, enquanto Diogo Chaves referiu que lhe custou “muito sair da prisão” israelita “e deixar camaradas para trás”.

“Mas também tínhamos a noção de que tínhamos de vir mais cedo para casa para podermos lutar por aqueles que por lá ficaram e pela causa palestiniana”, frisou.

Os quatro ativistas estavam detidos, em Israel, desde a noite de quarta para quinta-feira passada, quando as forças israelitas intercetaram as cerca de 50 embarcações da Flotilha Global Sumud, que pretendia entregar ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

Vários manifestantes empunharam bandeiras, lenços da Palestina e cartazes com palavras de ordem como “Libertem a Palestina” e “Obrigado Mariana, Sofia, Diogo e Miguel por nos representarem”. Entre os manifestantes encontravam-se antigos e atuais dirigentes do Bloco de Esquerda como Francisco Louçã, Catarina Martins, Luís Fazenda, Jorge Costa e outros.

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