CMVM lança ofensiva contra burlas financeiras

O polícia dos mercados financeiros sobe o tom na luta contra as burlas financeiras, unindo redes sociais e literacia digital para combater esquemas que usurpa identidades e prometem ganhos ilusórios.

O regulador dos mercados de capitais carregou as armas contra os burlões, lançando uma área específica sobre fraudes no Portal do Investidor, ao mesmo tempo que lançou nas redes sociais a rubrica “Negócios, negócios, burlas à parte”.

A ofensiva da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) surge integrada na Semana Mundial do Investidor 2025, que incluiu sessões específicas sobre “Fraude Financeira e Cibersegurança”, e numa altura em que a usurpação de identidade de figuras públicas do setor financeiro atingiu níveis inéditos, com o ex-banqueiro António Horta Osório, o gestor de ativos Pedro Lino e o professor do ISEG João Duque a serem os rostos mais recentes de campanhas fraudulentas que prometem ganhos milionários.

Os esquemas fraudulentos têm vindo a crescer e a tornarem-se mais sofisticados, utilizando as novas tecnologias e o comportamento humano, para aceder às poupanças dos investidores”, alerta a CMVM em comunicado.

Desde a última semana, têm circulado na Internet anúncios fraudulentos que utilizam indevidamente a minha imagem e o meu nome para promover alegados produtos ou oportunidades de investimento. Essas campanhas são totalmente falsas.

António Horta Osório

Publicação no Linkedin

Só nos últimos dias, os três foram alvo de apropriação abusiva da sua imagem e nome para vender produtos financeiros inexistentes ou esquemas que captam dados pessoais e transferências bancárias. O fenómeno já não é episódico. Tornou-se sistemático, com burlões a profissionalizar redes de anúncios falsos que replicam logótipos oficiais e criam perfis credíveis para induzir confiança junto do público menos informado.

O ex-presidente do Lloyds e do Credit Suisse, António Horta Osório, alertou há dias num post da sua conta no LinkedIn para a circulação de anúncios fraudulentos que usam o seu nome e imagem para vender “oportunidades de investimento”. “Desde a última semana, têm circulado na Internet anúncios fraudulentos que utilizam indevidamente a minha imagem e o meu nome para promover alegados produtos ou oportunidades de investimento. Essas campanhas são totalmente falsas”, referiu o ex-banqueiro.

Além disso, o ex-banqueiro sublinha que não tem qualquer ligação ou envolvimento com o conteúdo dessas publicações, plataformas ou produtos financeiros. E deixa recomendações diretas ao público: “Aconselho todos a não fornecerem dados pessoais nem efetuarem transferências com base neste tipo de anúncios” e “caso encontrem comunicações suspeitas, denunciem-nas junto das autoridades competentes ou das próprias plataformas.”

Também o professor João Duque confirmou a usurpação da sua imagem em publicações e vídeos que promovem supostos produtos financeiros. Numa nota enviada às redações há dias, refere que a sua imagem está a ser usada por desconhecidos para promoção e venda de produtos financeiros e “que tais posts ou vídeos são falsos, estando a minha imagem a ser usada de forma fraudulenta e não autorizada, pois que não me encontro associado a qualquer instituição ou campanha nesse sentido.”

Além disso, João Duque deixa também um aviso. “Tratando-se de instituições que atuam fraudulentamente nesta área, desaconselho totalmente a subscrição de tais produtos, sugerindo a denúncia às entidades gestoras das referidas plataformas/aplicações onde tais produtos financeiros estão a ser anunciados e ainda às autoridades.”

Já Pedro Lino, presidente da Optimize, tem registado e denunciado através das suas contas em diferentes redes sociais, algumas das muitas publicações que o tentam associar a “aconselhamento” e a grupos de WhatsApp inexistentes, além de falsas vendas de cursos.

“A aldrabice não tem limites…. Há que estar atento!”, alerta o CEO da gestora, ao mesmo tempo que esclarece que “nem eu nem a Optimize Investment Partners fazemos qualquer tipo de aconselhamento, nem público nem privado, e muito menos temos grupos de WhatsApp!” e “todo o conteúdo que eu ou a Optimize Investment Partners fazemos de literacia financeira é completamente gratuito! Não vendemos cursos!”

Padrões de fraude em crescimento

Os esquemas identificados seguem metodologias conhecidas: criação de perfis falsos com logos e identidade visual de instituições credíveis, promessas de rentabilidades elevadas sem risco, pressão para decisões rápidas e solicitação de dados pessoais ou transferências antecipadas. A CMVM tem também sido um dos alvos dos burlões, tendo para o efeito alertado repetidamente que não comunica através de WhatsApp e que as comunicações oficiais partem exclusivamente de endereços.

Os burlões recorrem também a alegadas “oportunidades de recuperação” de perdas anteriores, contactando vítimas por chamadas telefónicas, WhatsApp ou e-mail com propostas para “ajudar na alegada recuperação de montantes perdidos em fraudes anteriores”. O regulador recomenda “desconsiderar os contactos, não executar ações solicitadas, nem aceder a links ou anexos” sem verificação prévia da legitimidade do remetente.

O aumento de casos envolvendo figuras públicas demonstra a sofisticação crescente dos esquemas fraudulentos, que já não se limitam a perfis anónimos, mas apostam na credibilidade de personalidades reconhecidas.

A nova área do Portal do Investidor da CMVM concentra recursos práticos para investidores, como listas de entidades autorizadas, procedimentos de verificação, canais de contacto oficiais e instruções detalhadas sobre como proceder perante contactos suspeitos. A rubrica “Negócios, negócios, burlas à parte” nas redes sociais complementa esta informação com conteúdos regulares sobre literacia financeira e deteção de fraudes.

Para verificar a legitimidade de uma proposta de investimento, os passos essenciais incluem:

  • Consultar o registo de entidades autorizadas pela CMVM,
  • Confirmar contactos através dos canais oficiais,
  • Desconfiar de garantias de rentabilidade ou promessas de “sem risco”,
  • Reportar imediatamente situações suspeitas através da Linha de Apoio ao Investidor (800 205 339) ou do e-mail investidor@cmvm.pt.

O aumento de casos envolvendo figuras públicas demonstra a sofisticação crescente dos esquemas fraudulentos, que já não se limitam a perfis anónimos, mas apostam na credibilidade de personalidades reconhecidas. A resposta regulatória, através da centralização de recursos informativos e do reforço da comunicação preventiva, procura reduzir o sucesso destas campanhas e facilitar a denúncia por parte do público.

As medidas agora lançadas integram-se numa estratégia mais ampla de literacia financeira, com a CMVM a manter o foco na capacitação dos investidores e na rapidez de resposta a situações de fraude. Como sublinhou António Horta Osório, “a utilização indevida da imagem de figuras públicas para fins fraudulentos é uma prática grave, que deve ser combatida e reportada”, um princípio que a nova área do Portal do Investidor pretende operacionalizar de forma mais eficaz.

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