Os vencedores e os derrotados das eleições autárquicas

Dos sorrisos de Luís Montenegro à desilusão de André Ventura, passando pela tentativa de prova de vida de Carneiro, o ECO explica quem ganhou e quem perdeu nas eleições autárquicas.

Numa eleição em que os portugueses escolheram 308 presidentes de câmara, 2.058 mandatos de vereação, 6.463 lugares em assembleias municipais e 3.259 presidentes de junta, as linhas entre os vencedores e derrotados são muitas. Algumas são muito finas e portanto pouco claras. Mas apesar dos vários empates técnicos indicados pelas sondagens, tanto durante a campanha como no início da noite eleitoral – os resultados acabaram por ser claros, deixando indicar os atores políticos que vão para casa a sorrir e outros a refletir sobre o que correu mal na corrida ao poder local.

Se de um lado estão Luís Montenegro, Pedro Duarte e Carlos Moedas como claros vencedores , apesar de algumas nuances como o não-atingir da maioria absoluta em Lisboa, no outro moram José Luís Carneiro e Alexandra Leitão como derrotados, embora com o alivio de não terem sofrido hecatombes. À direita, o CDS-PP manteve a linha, o Chega ganhou três autarquias, mas André Ventura admitiu a desilusão.

Vencedores

Luís Montenegro (PSD)

O sorriso e as palavras de Luís Montenegro – falou pelo menos três vezes depois de conhecida a tendência dos resultados – refletiram o estatuto de grande vencedor da noite. Os seus candidatos em Lisboa e no Porto afastaram longos espetros de empates técnicos. O partido ganhou mais presidências que o PS e também mais freguesias, dando direito a liderar a ANMP e a ANAFRE. “O PSD obteve uma vitória histórica nos cinco maiores concelhos do país”, sublinhou o primeiro-ministro, declarando ainda: “Somos o maior partido português no poder local, no poder regional e na AR”. Irritado no início da semana passada com notícias sobre o caso Spinumviva, o presidente do PSD voltou a sorrir no domingo.

Carlos Moedas (PSD/CDS-PP/IL)

O elevador da Glória acabou por não fazer cair o presidente da Cãmara Municipal de Lisboa. Eleito de forma surpreendente há quatro anos, Moedas não teve um mandato fácil, lidando com problemas nacionais como a crise na habitação e locais como a higiene urbanos sem uma maioria absoluta, e culminando com a tragédia que matou 16 pessoas no centro histórico da cidade. A vitória deste domingo frente a Alexandra Leitão ofereceu mais quatro anos para resolver os problemas da capital, mas não deu a tão desejada maioria absoluta, elegendo oito vereadores, apenas mais um do que primeiro mandato. No discurso de vitória, Moedas pediu responsabilidade à oposição, exigindo que ponha os interesses de Lisboa acima de tudo, incluindo dos interesses partidários.

Pedro Duarte (PSD/CDS-PP/IL)

A corrida para suceder a Rui Moreira, que atingiu o limite de três mandatos à frente da Invicta atraiu vários participantes, até porque o autarca cessante não ‘apadrinhou’ nenhum. E acabou por ser renhida, com apenas 2.008 votos a separarem dois ex-ministros, o social-democrata Pedro Duarte e o socialista Manuel Pizarro. O mandato deverá ser difícil, no entanto, e exigir pontes: o número de vereadores acabou em meia dúzia para cada, com o Chega a colocar um vereador que poderá fazer a diferença.

Luís Filipe Menezes (PSD/CDS-PP/IL)

Um regresso vitorioso mas não completo. Depois de ter liderado a terceira maior autarquia do país entre 2007 e 2013, Luís Filipe Menezes voltou para ‘tirar’ os socialistas do poder. A vantagem de quase cinco pontos percentuais não foi suficiente para conquistar a maioria absoluta (ao contrário do que o candidato da AD tinha ‘cantado’ durante a noite), ficando com cinco vereadores, o mesmo número que os socialstas.

Ana Abrunhosa (PS)

A vitória da ex-ministra da Coesão Territorial frente teve um sabor especial para os socialistas, pois ‘roubou’ de volta a câmara de Coimbra ao incumbente, José Manuel Silva, ex-bastonário da Ordem dos Médicos, que há quatro anos foi eleito pela coligação “Juntos Somos Coimbra”. Abrunhosa já prometeu que uma das primeiras medidas que vai pôr em prática é a reorganização interna da câmara, “falando com os trabalhadores, ouvindo as pessoas”.

Nuno Melo (CDS-PP)

“Hoje foi uma noite muito feliz para o CDS”, declarou o atual ministro da Defesa, vincando que “hoje acabou um ciclo muito importante, que foi um ciclo de resistência e começa um ciclo de crescimento” para o partido. O CDS manteve as seis câmaras que já tinha sozinho e ainda conquistou “mais uma” em coligação com o PSD, a de Mêda, no distrito da Guarda, com cabeça de lista dos centristas.

 

Derrotados

José Luís Carneiro (PS)

Passavam poucos minutos da meia-noite quando José Luís Carneiro falou na sede do PS em Lisboa e confirmou a grande tendência dos resultado entre os dois principais partidos – os socialistas iriam ficar com menos câmaras e freguesias do que o PSD. Carneiro ainda tentou dourar a pílula. Disse que o PS “voltou como grande partido de alternativa política ao Governo da AD” e que “mostrou vitalidade”. Depois da hecatombe nas legislativas de 18 de maio, nas quais o PS ficou atrás do Chega, o resultado deste domingo pode até parecer menos mau, mas não deixa de ser uma derrota. Os socialistas falharam os assaltos a Lisboa e Porto e perderam a liderança no mapa autárquico. Não há pílula, nem mesmo dourada, que possa reverter isso.

Alexandra Leitão (PS/BE/Livre/PAN)

A cabeça de lista da coligação de esquerda (sem CDU) foi escolhida por Pedro Nuno Santos, mas acabou por dar uma derrota ao seu sucessor, José Luís Carneiro. A recuperação da capital depois da traumatizante derrota de Fernando Medina em 2021 até parecia possível, com as sondagens a apontarem para o empate técnico, mas o resultado final acabou por ser dilatado (33,95% face aos 41,69% de Carlos Moedas. De (pouco) consolo servirá o empate na vereação, na qual Leitão vai ocupar o lugar que ganhou.

Manuel Pizarro (PS)

O ex-ministro da Saúde, e ex-vereador de Rui Moreira, não pode ser acusado de falta de ambição para chegar à liderança da Câmara Municipal do Porto, mas a mais recente candidatura terminou como exatamente como as duas primeiras, em derrota. Pizarro admitiu que “o resultado não é manifestamente o almejado”, apesar de ter vencido em quatro das sete freguesias da cidade. “É uma diferença escassa, mas em democracia ganha-se e perde-se por um voto”, refletiu. Na política nunca se diz nunca, mas uma quarta corrida parece, neste momento, improvável e até pouco aconselhável.

André Ventura (Chega)

A linha ténue entre vitórias e derrotas é muitas vezes definida pelas expectativas. No caso do Chega, depois do segundo lugar obtido nas últimas legislativas, André Ventura colocou a fasquia bem alta. Não foi claro no número de autarquias que o partido de extrema-direita ambicionava conquistar, mas falou muito sobre derrotar o bipartidarismo. O Chega ganhou as suas primeiras três câmaras – Sâo Vicente, Entroncamento e Albufeira. “O Chega mais que quadruplica os resultados face a 2021 e isso são factos que é importante assinalar”, sublinhou Ventura. Ainda tentou classificar os eventos como uma “noite boa”, mas o resultado ficou muito além das ambições. “Queríamos ter mais câmaras, queríamos vencer e ter mais resultados”, admitiu.

André VenturaLusa

Paulo Raimundo (CDU)

Os comunistas baixaram de 19 para 12 câmaras e perderam as duas capitais de distrito. Évora e Setúbal. Em Lisboa caíram para quarta força atrás do Chega, enquanto no Porto deixaram de ter vereador eleito, pela primeira vez. Paulo Raimundo admitiu o “resultado negativo”, mas salientou que a CDU manteve-se como uma “importante força autárquica”.

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