Distribuidoras de gás querem aposta “equilibrada” em gás e eletricidade, de olho na carteira e economia

As empresas que gerem a distribuição de gás defendem que é importante que exista continuidade no investimento das redes como alternativa à opção elétrica.

Os líderes das operadoras das redes de distribuição de gás, Floene, REN Portgás e Sonorgás, defenderam esta terça-feira, perante os deputados, que “é vital um sistema equilibrado” que aposte tanto na eletricidade como no gás natural, a ser substituído por gases renováveis, olhando às poupanças no sistema, mas também no bolso dos consumidores, e ao impacto na economia. Os cortes no investimento propostos pelo regulador, num parecer à proposta destas entidades, é considerado “dramático”.

“É vital um sistema equilibrado”, afirmou Gabriel Sousa, CEO da Floene, no âmbito de uma audição perante a Comissão de Ambiente e Energia, esta terça-feira, na Assembleia da República, apoiado pelo CEO da REN Portgás, Nuno Fitas Mendes, que reforçou: “um sistema energético equilibrado é a melhor opção para o futuro do país“.

Fitas Mendes assentou a afirmação na estimativa de que, a nível europeu, uma aposta que incida apenas na rede elétrica terá um sobrecusto de 527 mil milhões de euros, em comparação a uma aposta que também inclua o investimento na distribuição de gás. No caso de Portugal, o sobrecusto seriam 9 mil milhões de euros.

Somos a favor de desenvolvimento de setor elétrico, mas não em oposição ao desenvolvimento do setor nacional de gás“, uma vez que o gás pesa 50% no mercado energético nacional, indica Fitas Mendes. “Acreditar que conseguimos montar 50% [de sistema elétrico] em cima de outros 50%… não é fácil em termos técnicos. Estamos cá para ajudar”, indica.

A “defesa” do papel do sistema nacional de gás foi feita na sequência do parecer que o regulador da energia fez à proposta de investimentos dos operadores de redes de distribuição de gás, no horizonte de 2025 a 2029. O CEO da Floene descreve como “cortes dramáticos” os que foram sugeridos pelo regulador no seu parecer.

Os projetos propostos para o período compreendido entre 2025 e 2029, pressupõem um volume total de investimento de 382,1 milhões de euros, que a ERSE propõe reduzir, em dois diferentes cenários, ora em 28% para 273,3 milhões de euros, ou 54%, para 174,9 milhões de euros.

Biometano como argumento

As distribuidoras de gás entendem que “é urgente avançar no plano de ação biometano”, nas palavras de Gabriel Sousa, apoiando-se em estimativas de que Portugal pode chegar a 2050 com cerca de 60% do consumo de gás substituído por biometano. “É essencial que sejam aprovados e definidos os incentivos e as medidas regulatórias e económicas para que o biometano seja uma realidade em Portugal”, concluiu.

Nuno Fitas Mendes sublinhou que o plano de investimentos apresentado pela REN Portgás tem em vista a preparação da infraestrutura de rede para a injeção de gases renováveis como o biometano e hidrogénio verde. E que, no caso de biometano, a indústria não tem de investir em novos equipamentos — a substituição do gás por biometano é direta.

Gás com papel no bolso das famílias e descarbonização das empresas

A expansão da rede de gás, sublinha Gabriel Sousa, serviu para ligar mais de um milhão de famílias, permitindo a redução da fatura energética. Afirma que o gás natural é, à data, “a solução mais económica para a fatura das famílias portuguesas”, considerando um “flagelo” os 2,5 milhões de consumidores que usam gás de botija, pela fatura mais elevada e com emissões.

Os planos de investimento da Floene preveem que o preço do gás suba de 10,19 euros por megawatt-hora no ano de 2024 para 10,46 euros por megawatt-hora em 2029, um acréscimo médio anual de 0,52%, “essencialmente direcionado para ligar consumo ao sistema”. A Portgás, que tem na calha 111 milhões de euros de investimento para os próximos anos.

Mais de 99% dos clientes abastecidos pelo sistema de gás são as famílias, embora mais de 80% do volume seja usado pela indústria. Os clientes residenciais suportam cerca de 58% dos custos deste sistema. Assim, “optar por desligar ou considerar a remoção do segmento residencial terá seguramente um impacto muito forte naquilo que é o equilíbrio do sistema, com impacto direto na economia e na indústria nacional”, alerta o CEO da Floene.

Por seu lado, o CEO da Sonergás refere-se ao setor do gás como um “motor do combate à pobreza energética”. “Conseguimos levar a determinadas regiões o desenvolvimento que elas não tinham“, aponta, ao fazer proliferar a indústria onde antes o gás não chegava. “Podemos gostar mais ou menos da energia, mas este é o impacto que tem no bolso as pessoas”, rematou.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Distribuidoras de gás querem aposta “equilibrada” em gás e eletricidade, de olho na carteira e economia

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião