FMI alerta para perigo do crescimento explosivo dos nonbanks

O FMI alerta para a vulnerabilidade crescente da banca às interligações com nonbanks, que já controlam metade dos ativos financeiros, e exige medidas urgentes para travar risco sistémico global.

A rápida ascensão dos intermediários financeiros não bancários (“nonbanks”) está a reconfigurar os alicerces do sistema financeiro mundial e revela novas ameaças à estabilidade, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI) num dos capítulos do mais recente “Global Financial Stability Report”, publicado esta terça-feira.

O relatório põe em destaque como a influência crescente destes agentes — incluindo fundos de investimento, fundos de pensões, seguradoras e veículos de crédito privado — está a criar redes de risco mais densas, ampliando vulnerabilidades sistémicas e tornando mais complexa a gestão de crises financeiras.

Segundo o FMI, “os nonbanks já detêm cerca de metade dos ativos financeiros do mundo”, tornando-se forças centrais nos mercados de capitais, no crédito e até na negociação em mercados cambiais, onde já representam metade do volume diário global.

Os nonbanks ou instituições financeiras não bancárias são entidades que prestam serviços financeiros, mas não possuem licença bancária completa, não podendo aceitar depósitos, dedicando-se a prestar serviços como investimento, gestão de risco, consultoria financeira, intermediação e transmissão de pagamentos.​

Os testes de stress realizados mostram que as vulnerabilidades destes intermediários não bancários (nonbanks) podem ser rapidamente transmitidas ao sistema bancário nuclear, amplificando choques e dificultando a gestão de crises.

Fundo Monetário Internacional

Relatório Global Financial Stability Report

A interligação entre bancos e nonbanks não pára de crescer, com muitos bancos, tanto nos EUA como na Zona Euro, a registarem exposições a estas instituições superiores ao seu capital de nível 1 (“Tier 1”) — a principal almofada de capital que permite absorver perdas em tempos de crise –, alertam os analistas do Fundo.

Embora o FMI reconheça que os nonbanks desempenham um papel positivo ao facilitar atividade nos mercados de capitais e canalizar crédito a empresas e famílias, o ritmo do seu crescimento e o alcance das suas operações também trazem fragilidades acrescidas. “Os testes de stress realizados mostram que as vulnerabilidades destes intermediários não bancários podem ser rapidamente transmitidas ao sistema bancário nuclear, amplificando choques e dificultando a gestão de crises”, destaca o FMI.

Dos fundos de investimento abertos com liquidez desajustada — que podem ser forçados a liquidar posições em grande escala em contexto de turbulência — até à concessão de crédito privado mais opaca e menos regulada, os canais de contágio proliferam.

Ao contrário dos bancos, os nonbanks, na sua maioria, operam com uma regulação prudencial mais leve. Além disso, muitos divulgam informação limitada sobre ativos, alavancagem e liquidez.

Fundo Monetário Internacional

Relatório Global Financial Stability Report

O FMI sublinha que, em cenários de stress, “desenvolvimentos adversos nos nonbanks — como downgrades de rating de crédito ou quedas no valor de colaterais — poderão afetar significativamente os rácios de capital e liquidez dos bancos”.

Além disso, os analistas sublinham que “em cenários de stress em que os nonbanks se tornem mais arriscados e esgotem as suas linhas de crédito junto da banca, cerca de 10% dos bancos norte-americanos e 30% dos bancos europeus, em termos de ativos, veriam os seus rácios de capital regulatório cair mais de 100 pontos base”.

O crescimento dos nonbanks na economia mundial tem ocorrido sob regras prudenciais frequentemente menos exigentes e com menor transparência de ativos, alavancagem e liquidez face aos bancos tradicionais, tornando mais difícil para reguladores detetarem vulnerabilidades e interligações. Em muitos casos, as autoridades ainda não dispõem de informação abrangente ou ferramentas adequadas para mapear riscos que atravessam fronteiras e setores.

“Ao contrário dos bancos, os nonbanks, na sua maioria, operam com uma regulação prudencial mais leve. Além disso, muitos divulgam informação limitada sobre ativos, alavancagem e liquidez, tornando vulnerabilidades e interligações mais difíceis de detetar”, nota o FMI, ilustrando o risco sistémico destas instituições com exemplos concretos e alertas quantitativos:

  • Em testes de stress, já assumindo um cenário de estagflação, o FMI estima que bancos que representam 18% dos ativos globais veriam o seu rácio de capital principal descer abaixo dos 7%.
  • Se os nonbanks esgotassem linhas de crédito junto da banca, haveria bancos cujo rácio regulatório cairia mais de 100 pontos base, o que poderia colocar em causa a solvência ou forçar intervenções de emergência.
  • Fundos de investimento abertos, por exemplo, nos EUA, ao serem forçados a vender obrigações do Tesouro num cenário de subida de taxas e saídas massivas, poderiam desestabilizar o próprio mercado obrigacionista e as condições de financiamento do setor público.

Face ao novo contexto, o FMI identifica como “essencial” que as autoridades reforcem a resiliência dos bancos – nomeadamente pela plena implementação dos padrões de Basileia III — e promovam regulações mais abrangentes para os nonbanks, incluindo melhor recolha de dados, análises sistémicas de liquidez e coordenação entre supervisores de diferentes setores.

A importância crescente dos nonbanks e as suas ligações à banca exigem uma supervisão reforçada. Isto implica recolher dados mais completos, melhorar análises prospetivas — como testes de liquidez em todo o sistema – e reforçar a coordenação entre supervisores setoriais”, recomenda o FMI no relatório.

Os analistas destacam ainda que limitar a tomada de riscos excessivos, garantir mecanismos eficazes de gestão de liquidez nos fundos de investimento e estabelecer quadros de resolução e assistência de liquidez para o setor bancário são fundamentais para travar potenciais contágios.

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