“Empresas demoram em média 204 dias a perceberem que foram ciberatacadas”

Ameaças e a situação atual da cibersegurança foram dissecadas no auditório da Universidade da Beira Interior que encheu para uma conferência montada pela corretora Acrisure e pela seguradora Hiscox.

A corretora de seguros Acrisure e a seguradora Hiscox lançaram o mote na conferência Cibersegurança: Estratégias para um Mundo Global que teve lugar na terça-feira na Universidade da Beira Interior (UBI) na Covilhã.

José Rodrigues, CEO da Acrisure Portugal e Ricardo Inácio, Vice-Reitor da Universidade da Beira Interior, introduziram o tema destacando a extrema atualidade com que ia ser tratado o tema nesse dia.

 

Como lembrou Pedro Inácio, vice-reitor da UBI, o local foi adequado ao tema, já que a UBI foi alvo de um ataque informático de ransomware em outubro de 2022 tendo como consequência a paralisia dos sistemas informáticos e a exigência, pelos hackers, de um resgate de cerca de 1 milhão de euros em bitcoins para entrega da chave de desbloqueio.

Pedro Inácio aproveitou para dizer que o resgate não foi pago e que os sistemas foram recuperados, mas lembrou a audiência para terem todos os planos de recuperação em papel “porque nos computadores também ficam cifrados”.

As empresas demoram, em média, 204 dias a perceberem que foram ciberatacadas”, acrescentou na sua introdução, citando o estudo da IBM Cost of a Data Breach, refletindo que o problema “já não é só tecnológico, é estrutural das empresas “. Como alvos atualmente mais apetecíveis para ataques estão educação e países fora do contexto de guerra, porque “a Educação é bom setor para treinar hacking” concluindo que “nem as empresas portuguesas nem Portugal estão preparadas para uma coisa séria”, concluiu.

José Rodrigues, CEO da Acrisure Portugal, foi anfitrião do evento e salientou que a cibersegurança está hoje num estado de consciência coletiva, assinalou a NIS 2 (nova Diretiva da União Europeia para a cibersegurança, que alarga os setores vigiados) como um desafio para muitas empresas e concluiu que hoje a cibersegurança “já não é um tema de IT, agora é tema de governance”.

Um primeiro painel juntou Ricardo Oliveira, Pedro Inácio, Vasco Lopes e Ricardo Adóni, sob moderação de Patrícia Figueiredo, jornalista da SIC.

Em três momentos, diferentes intervenientes contribuíram e partilharam conhecimento e experiência. Na área técnica começou Ricardo Oliveira, CISO (diretor de segurança da informação) da Eurotux, empresa especialista em sistemas de IT e habituado a intervir em crises, notou que muitos incidentes acontecem devido “a colaboradores das nossas empresas por desconhecimento dos processos ou, por fornecedores da empresa” e assinalou que os e-mails de phishing “já estão em português de Portugal porque os hackers estão a usar IA”, pelo que segundo ele “devemos usar IA para combater IA dos atacantes”. Concluiu garantindo que “estabelecer regras mínimas, garantir o mínimo de boas práticas entrava muitos ataques, e fazer backups e atualizar software pode mitigar em muito as consequências de um ataque.

Ricardo Adonis, do Coficab Group, uma multinacional de cabos para a indústria automóvel, concordou que “o erro humano é a porta de entrada para ataques e por isso a formação tem de ser contínua”. Confirmou ainda que muitos erros se cometem quando se clicam links em e-mails, mas considera causa maior a “falta de cultura de risco, não há plano de contingência e, a haver, nunca foi testado”, disse.

Vasco Lopes, da DeepNeuronic, start-up de machine learning, salientou que os atacantes usam mails, emojis, sites, ficheiros disfarçados em imagens para penetrar nos sistemas das empresas e que os riscos dependem da dimensão, processos, cloud e opção entre computadores ou papel. Apesar de tudo as “empresas digitalizadas têm maior conhecimento dos riscos que correm”, concluiu.

Intervenção de Bruno Januário num momento que juntou o técnico da IBM com Ana Silva, Tancred Lucy e José Limón Cavaco.

Bruno Januário, da Softinsa, uma subsidiária da IBM, deu um panorama sobre a evolução tecnológico que se espera num futuro próximo, apostando na computação quântica como a grande revolução aguardada e que “é impossível de hackear”, afirmou.

“60% das companhias abaixo dos 25 milhões de faturação fecha 6 meses após um ataque”, alertou Tancred Lucy, da Acrisure London e abordou a possibilidade de segurar riscos cibernéticos: “o mercado segurador já está favorável a compradores, após a crise de ataques entre 2020 e 2022 ter reduzido o capital disponível da indústria seguradora para coberturas ciber e os preços dos prémios terem disparado”, disse.

No painel de fecho estiveram em debate Ana Silva, José Rodrigues, Ricardo Silva e Nuno Pais com moderação de Francisco Botelho, do ECOseguros (ao centro).

O advogado especialista em seguros José Limón Cavaco, sócio da CCA Law Firm, chamou a atenção para a nova diretiva NIS2 e para a responsabilidade direta dos gestores e não só da empresa, nos incidentes ciber. Precisou que, para além do alargamento de setores fiscalizados, as novas regras incidem sobre políticas de segurança, resposta a incidentes, plano de continuidade de negócios, gestão de crise e autenticação multifatorial.

Ana Silva, Liability & Financial Lines Manager da seguradora Hiscox, revelou que os seguros ciber podem ser muito comportáveis para todas as empresas “começando nos 500 euros por ano”. A resposta a sinistros reúne de imediato um painel de especialistas, compensa perdas com reparação tecnológica e responsabilidades com indemnizações. Sinistros de lucros cessantes é uma das consequências mais importantes, bem como ter de responder pela violação de dados pessoais e confidenciais, tudo resultando em perda de clientes. Também confirma que dois terços dos ataques resultam devido a erro humano, devido a golpes de engenharia social como manifestação psicológica pressionando, por exemplo, uma transferência bancária e concordou no perigo da melhoria dos golpes de phishing, já em perfeito português e com imagem muito semelhante aos das empresas reais.

No derradeiro painel de debate, Ricardo Silva, da Ferpinta, produtora de tubos metálicos para 34 países, salientou que hoje uma empresa como a sua tem de mostrar solidez de segurança ciber ao mercado. Nuno Pais, vice presidente da AECBP, associação que junta centenas de empresas na região da Covilhã, Belmonte e Penamacor, mostrou recetividade para pensar num seguro para os seus associados.

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