Portugueses têm menor risco de pobreza que os espanhóis
A Andaluzia, que é quase do tamanho de Portugal e com mais de 70% da população portuguesa, tem risco de pobreza ou exclusão social ao nível de países do leste, indica o Eurostat. Mas será mesmo assim?
Se a União Europeia fosse um país, o risco de pobreza ou exclusão social seria de 21% da sua população, equivalente a 93 milhões de cidadãos. Os dados disponibilizados pelo departamento de estatísticas europeu, referentes a 2024, mostram Portugal como o lado ibérico onde os cidadãos enfrentam menores riscos de exclusão social e de pobreza.
Quando alargamos a vista do mapa do Eurostat a toda a Península Ibérica, os valores da vizinha Espanha revelam um cenário inverso ao que seria o senso comum de quem assistiu à evolução económica do país vizinho desde a entrada em simultâneo dos dois países ibéricos na União Europeia, já lá vão 40 anos. Se excluirmos a situação claramente privilegiada do País Basco (região a Norte correspondente a cerca de 15% de todo o país), os melhores valores de Espanha indicados pelo Eurostat estão alinhados com as zonas mais desfavorecidas do continente português.
Nota relevante neste estudo, o risco de pobreza é medido pela correlação entre o rendimento disponível, incluindo transferências sociais, e rendimento mediano de cada país. Ou seja, nestes dados do Eurostat é considerado o nível de riqueza médio da população, colocando o ponto de partida da definição de risco de pobreza em Portugal num nível mais baixo do que o dos países mais ricos.
Começando a sul, a Andaluzia, região com praticamente a área de Portugal continental e superior a países como Bélgica, Dinamarca e Áustria, tem um dos piores valores de pobreza ou risco de exclusão social em toda a Europa. Segundo dados do programa operacional de cooperação entre Portugal e Espanha (Interreg), a Andaluzia é casa de 7,85 milhões de pessoas, 18% da população espanhola.
Os 35,6% da Andaluzia estão ao nível dos valores da Roménia e Bulgária, pior do que Macedónia ou Grécia, e, se excluirmos as cidades autónomas de Melilla e Ceuta (enclaves em Marrocos) ou geografias tropicais como a Guiana Francesa (onde mais de metade da população se encontra em risco), só o Sul de Itália supera a dimensão de pobreza ou potencial exclusão social.
Ali, na Calabria (sudoeste do país, na “biqueira” da “bota” italiana), praticamente metade da população está em risco: 48,8%.
Continente português com mapa equilibrado
A comparação dentro de um mesmo país parte de pressupostos iguais, desde logo o nível mediano de rendimentos, a partir do qual se coloca a fasquia do risco de pobreza: 60% do rendimento mediano. Apenas as ilhas portuguesas apresentam risco de pobreza ou exclusão social acima dos 21% a que se chegou na média europeia, com os Açores na pior situação do país: 28,4%. As cores a que o país aparece pintado no mapa do Eurostat apontam para uma realidade não muito distante da segunda maior economia da Europa, França. Mais uma vez, tal como no caso de Espanha, a coloração do mapa do Eurostat parte do nível de rendimento mediano da população. Se olharmos para o PIB per capita divulgado pela Comissão Europeia, o francês é 20% superior ao português.
No território nacional, o Norte apresenta um risco de 21% de pobreza ou exclusão social e a Península de Setúbal 21,8%, territórios menos penalizados, ainda assim, que a Região Autónoma da Madeira, onde 22,9% da população se encontra neste limbo.
Abaixo, mais de metade do país alinha-se na casa dos 19%. É assim com o Centro, Alentejo (mancha que combina toda a região, com todas as suas idiossincrasias, do interior no Alto e Baixo Alentejo à faixa litoral), Oeste e Vale do Tejo e ainda o Algarve – tal como no Alentejo, a análise cobre toda a região, do “triângulo dourado” de Vale do Lobo, Quinta do Lago e Vilamoura, às aldeias do Caldeirão, Monchique e Espinhaço de Cão.
Sem surpresa, a Grande Lisboa é onde o risco de pobreza ou exclusão social menos impacta a população, abrangendo 16,5% da população. Em toda a Espanha, só mesmo o País Basco apresenta uma situação mais favorável.
Risco de pobreza ou exclusão social:
- Norte: 21%
- Centro: 18,9%
- Oeste e Vale do Tejo: 19,1%
- Grande Lisboa: 16,5%
- Península de Setúbal: 21,8%
- Alentejo: 18,7%
- Algarve: 18,7%
- Região Autónoma da Madeira: 22,9%
- Açores: 28,4%
Itália rica, Itália pobre
De acordo com os dados de 2024 agora disponibilizados pelo Eurostat, Itália é o país mais desigual da Europa, apresentando duas realidades absolutamente distintas entre Norte e Sul.
No topo da “bota”, a análise do gabinete de estatísticas da Comissão Europeia identificou níveis de risco até 15%. Há mesmo um caso, da província autónoma de Bolzano/Bozen (território tirolês num cruzamento histórico e geográfico de Itália, Alemanha e Áustria), onde só 6,6% da população enfrenta o risco de pobreza ou risco de exclusão, o valor mais baixo de todo o continente. A Sul no mapa italiano, a desproteção dos cidadãos mais que duplica, com valores entre 20% e 49%.
No total europeu, a média de 21% é superada em 93 das 243 regiões com dados disponíveis. Territórios com mais de um terço de cidadãos em risco de pobreza ou exclusão social são 25, distribuídos por Grécia (cinco), Bulgária, Espanha e Itália (quatro), e, com três regiões cada para lá dos 33%, França e Roménia.
O Eurostat identifica as carências consideradas neste estudo, resumidas na capacidade de um agregado familiar de responder às necessidades básicas, da alimentação à habitação, passando pela saúde e educação.
Como situações potencialmente conducentes à pobreza ou exclusão social, o gabinete de estatísticas europeu aponta o nível de educação, a idade, género, país de nascimento, os choques económicos como o vivido na Covid-19, o aumento do custo de vida e até os impactos da guerra na Ucrânia, não esquecendo o desemprego, entre outros. A amenizar estes impactos sobre os cidadãos estão, por exemplo, os apoios sociais que contribuem para o rendimento total do agregado familiar.
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