Trump provoca queda de 14% no comércio entre a União Europeia e EUA

A ofensiva tarifária de Trump atinge em cheio as exportações europeias para os EUA, que caíram 22% em agosto na maior correção homóloga desde a pandemia de Covid-19.

As trocas comerciais de bens entre a União Europeia e os EUA sofreram em agosto a maior contração desde janeiro de 2021, com uma quebra homóloga de 14,3% para cerca de 59,3 mil milhões de euros. Esta queda acontece numa altura em que as tarifas de 15% impostas pelos EUA sobre produtos europeus começaram a produzir os primeiros efeitos visíveis, ameaçando pilares fundamentais da economia europeia como a indústria automóvel e farmacêutica.

Os dados do Eurostat publicados esta quinta-feira mostram que as exportações europeias para os EUA registaram em agosto uma contração homóloga de 22,2%, caindo para menos de 33 mil milhões de euros. Trata-se não apenas do valor mais baixo dos últimos quatro anos, como também da maior quebra anual desde maio de 2020, em pleno início da pandemia Covid-19. Face ao mês anterior, a queda mensal foi ainda mais dramática: as exportações europeias para território norte-americano desabaram 26% entre julho e agosto.

Esta forte travagem nas trocas comerciais entre os dois blocos económicos resultou numa compressão abrupta do excedente comercial da União Europeia com os EUA. Segundo cálculos do ECO, o saldo da balança comercial europeia com os EUA caiu 50% face a julho e 57,7% em termos homólogos, fixando-se em menos de 6,5 mil milhões de euros em agosto. É preciso recuar a janeiro de 2023 para encontrar um saldo comercial tão reduzido entre as duas economias.

Numa perspetiva histórica ainda mais alargada, a última vez que o saldo comercial de bens entre a União Europeia e os EUA sofreu uma correção homóloga tão forte foi em fevereiro de 2009, durante a profunda crise financeira global.

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A forte deterioração do comércio transatlântico deve-se em grande medida à imposição de uma taxa de 15% sobre bens importados da União Europeia pelos EUA, anunciada em abril e que entrou formalmente em vigor a 1 de setembro de 2025. O acordo comercial, celebrado a 27 de julho na Escócia entre a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente norte-americano, Donald Trump.

Esta taxa aplica-se de forma abrangente a setores estratégicos como automóveis e componentes automóveis, produtos farmacêuticos, semicondutores e madeira.

No entanto, alguns produtos beneficiam de regime específico e ficam isentos desta tarifa adicional, nomeadamente recursos naturais indisponíveis como a cortiça, todas as aeronaves e peças para construção e manutenção, produtos farmacêuticos genéricos e respetivos ingredientes e precursores químicos.

Europa enfrenta uma balança comercial deficitária

A deterioração do comércio com os EUA insere-se num contexto mais amplo de fragilização das trocas comerciais da União Europeia com o resto do mundo. Os dados do Eurostat revelam que, em agosto, a União Europeia registou um défice de 5,8 mil milhões de euros no comércio de bens com países terceiros, comparando com um défice de apenas 2,4 mil milhões de euros em agosto de 2024.

As exportações extra-comunitárias de bens totalizaram 183,6 mil milhões de euros em agosto, uma queda homóloga de 6,7% face aos 196,8 mil milhões registados há um ano. As importações provenientes do resto do mundo fixaram-se em 189,4 mil milhões de euros, recuando 4,9% comparativamente aos 199,3 mil milhões de agosto de 2024.

Retirando a sazonalidade, as trocas comerciais revelam que as exportações europeias caíram 1,2% entre julho e agosto, enquanto as importações recuaram 2,1%. ​

O impacto imediato das tarifas nas trocas comerciais evidencia que o equilíbrio da balança comercial está a deslocar-se de forma duradoura, com implicações diretas para o crescimento e a competitividade da União Europeia nos próximos trimestres.

A Zona Euro, por seu lado, viu o seu excedente comercial reduzir-se drasticamente para apenas mil milhões de euros em agosto, contra 3 mil milhões de euros no mesmo mês de 2024 e muito abaixo dos 12,7 mil milhões registados em julho de 2025. “Esta quebra deveu-se principalmente a uma redução acentuada do excedente nos setores de maquinaria e veículos, que caiu de 18 mil milhões de euros em julho para apenas 7,8 mil milhões em agosto”, refere o Eurostat em comunicado

Os setores automóvel e farmacêutico, dois dos pilares das exportações europeias para os EUA, estão entre os mais penalizados pela nova realidade tarifária. As exportações de produtos farmacêuticos europeus para os EUA, que representaram 92,1 mil milhões de dólares em 2024, são as mais significativas entre todas as categorias de bens. O setor automóvel, que inicialmente enfrentava tarifas de 27,5%, viu a taxa reduzir para 15% com efeito retroativo a 1 de agosto, o que deverá trazer algum alívio aos fabricantes europeus.

Os analistas do ING alertam que as tarifas e a perda estrutural de competitividade internacional estão a afetar fortemente as exportações europeias. Numa nota de 29 de setembro, o economista Ruben Dewitte aponta para um impacto direto no PIB da União Europeia de -0,3% no curto prazo, com riscos significativos para o crescimento no longo prazo, além de sublinhar que a tendência descendente das exportações europeias para os EUA deverá aprofundar-se no segundo semestre de 2025, à medida que os efeitos completos das tarifas se fazem sentir nos fluxos comerciais.

A contração das exportações europeias para os EUA há três meses seguidos, que culminaram numa queda histórica em agosto, sinaliza um novo ciclo nas trocas transatlânticas e expõe a vulnerabilidade estrutural da indústria europeia face à política comercial de Washington.

Além disso, o impacto imediato das tarifas evidencia que o equilíbrio da balança comercial está a deslocar-se de forma duradoura, com implicações diretas para o crescimento e a competitividade da União Europeia nos próximos trimestres.

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