Após ano de montanha russa, novo plano da EDP vai reafirmar foco nos EUA

Passada a turbulência e chegada a desejada visibilidade, Miguel Stilwell d'Andrade vai sublinhar os EUA como motor de crescimento da EDP, a par do investimento nas redes e nas baterias, sabe o ECO.

ECO Fast
  • Após um ano marcado por forte volatilidade nas bolsas, a EDP prepara um novo plano estratégico que reforça os Estados Unidos como o principal motor de crescimento, a par do investimento em redes e armazenamento de energia.
  • Valorização recente das ações reflete a recuperação da visibilidade no mercado americano, impulsionada pela extensão dos incentivos às renováveis e pelo aumento da procura de energia devido aos centros de dados e à eletrificação.
  • Analistas esperam um plano de investimento disciplinado, centrado na desalavancagem e na estabilidade dos lucros, com a EDP a manter a aposta nas energias renováveis e a política de dividendos inalterada.
Pontos-chave gerados por IA, com edição jornalística

A 6 de novembro de 2024, no rescaldo da vitória de Donald Trump nas presidenciais, as cotadas do grupo EDP tombavam com estrondo na bolsa de Lisboa. Castigadas (tal como o resto do setor das utilities) pela aversão que o republicano sempre demonstrou às energias ‘limpas’, a EDP Renováveis (EDPR) fechava a sessão a afundar 11,08% e a ‘casa mãe’ EDP 7,10%. Passado precisamente um ano, o CEO das duas empresas prepara-se para esta quinta-feira apresentar um novo plano estratégico que, segundo apurou o ECO, vai reafirmar os Estados Unidos como mercado core para a empresa, o principal motor de investimento e crescimento.

Quando Miguel Stilwell d’Andrade falar aos investidores, no Capital Markets Day em Londres, o passado recente irá certamente relatar a história da montanha russa que a empresa teve de percorrer nos Estados Unidos. Dos 11,07 euros há um ano, a cotação das ações da EDPR chegou a descer aos 6,85 euros a 7 de abril, antes de recuperar para 13,82 euros a 16 de outubro. A da EDP, que controla 71,3% da subsidiária, desceu de 3,321 euros há 12 meses antes de subir para 4,451 euros a 21 de outubro. A ‘casa mãe’ acumula um ganho de praticamente 20% nos últimos 12 meses e a Renováveis já está acima da linha de água, com um ganho de 1%. No cômputo de 2025, as subidas já são de 41,18% e 28,98%, respetivamente.

EDPR “bem posicionada” nos EUA

Se em março Stilwell D’Andrade falava de “meses turbulentos” esta quinta-feira deverá sublinhar essa recuperação e a “visibilidade” que a elétrica agora tem sobre as perspetivas melhoradas nos Estados Unidos, sabe o ECO. As valorizações dos títulos do grupo não passaram, claro, ao lado do olhar das casas de investimento, com várias a cortarem as recomendações na reta final de outubro pois as ações já negociavam perto do patamar máximo das avaliações.

O CaixaBank BPI, que cortou os dois títulos para ‘Neutral’ de ‘Buy’ (e aumentou os preços alvo), aproveitou para analisar se o renovado otimismo sobre as renováveis – depois da aprovação em julho do One Big and Beautiful Bill Act, que prevê uma prorrogação plurianual dos incentivos às renováveis nos EUA, oferecendo visibilidade clara até 2030 – é ainda justificada. A resposta foi clara. “Sim. A procura de energia nos EUA está a sofrer uma inflexão, impulsionada pelo boom dos data centers, escreverem os analistas Pedro Alves e Flora Trindade, numa nota divulgada a 31 de outubro.

A procura de energia nos EUA continua a acelerar, impulsionada pelos centros de dados baseados em IA e pela eletrificação. A EDPR está bem posicionada.

Pedro Alves e Flora Trindade, analistas do CaixaBank BPI

“A procura de energia nos EUA continua a acelerar, impulsionada pelos centros de dados baseados em IA e pela eletrificação”, acrescentaram. “Apesar dos riscos tarifários e do ruído regulatório, as energias renováveis continuam a ser a solução de menor custo e mais rápida de implementar para responder a este aumento da procura“.

Neste contexto, sublinharam, “a EDPR está bem posicionada para capturar os preços crescentes dos PPA [Power Purchase Agreement, um contrato de longo prazo entre um produtor de energia e um cliente] e aprovar projetos altamente lucrativos em termos de NPV [Valor Presente Líquido].

Esperamos surpresas positivas nos novos projetos safe harbor este ano – provavelmente um múltiplo dos 1,5 GW garantidos no final do ano fiscal de 2024, sustentando as adições da EDPR até 2030″, acrescentaram, alertando, contudo que a potencial inflação do capex e as restrições da cadeia de abastecimento são riscos a serem monitorizados.

Geração, baterias e redes

Além de reafirmar o foco nos Estados Unidos, a par dos outros mercados core – a Europa e o Brasil – Miguel Stilwell d’Andrade irá, apurou o ECO, sublinhar esta quinta-feira o trio de prioridades do grupo em termos de tecnologia: geração de energia renovável, investimento em baterias para a armazenar e aposta nas redes para a distribuir.

Segundo os analistas do CaixaBank BPI, mesmo um aumento de investimento no negócio de redes reguladas na Península Ibérica e no Brasil não irá alterar a percepção dos investidores sobre a empresa. “O novo plano provavelmente apresentará uma maior participação do investimento em redes, mas não o suficiente para alterar a equity story a EDP continuará a ser uma aposta nas energias renováveis“.

O que esperar então da apresentação do CEO em Londres? Para Pedro Alves e Flora Trindade, a resposta curta é a seguinte: “um plano de investimento disciplinado com desalavancagem gradual, preservando alguma flexibilidade no balanço“.

“Prevemos um crescimento elevado de dois dígitos no EPS [lucro por ação] da EDPR (crescimento composto anual de cerca de 20%), mas uma trajetória estável no lucro líquido da EDP, o que acreditamos estar agora bem incorporado nas expectativas consensuais”, explicaram.

Os analistas do CaixaBank BPI acreditam que e “é improvável que a política de dividendos seja revista” dos 60-70% e 30-50% de pagamento do lucro líquido ajustado na EDP e na EDPR, respetivamente. “As principais variáveis desconhecidas que permanecem são o investimento em redes de distribuição, as adições brutas em energias renováveis e os rendimentos da rotação de ativos”, sinalizaram.

O Deutsche Bank, que cortou as recomendações para os dois títulos do grupo EDP para ‘Hold’ de ‘Buy’, em 27 de outubro, explicou que espera no Capital Markets Day ver, ao nível da EDP, um crescimento nas redes e na EDPR que irá superar as quedas no negócio hídrico em Portugal e Espanha, acrescentando prever para 2028 um EBITDA de 5,16 mil milhões de euros, um lucro líquido recorrente de 1,32 mil milhões de euros e uma dívida líquida de 16,2 mil milhões de euros.

Em relação à EDPR, o analista Olly Jeffery escreve que o banco alemão prevê, também para 2028, um EBITDA de 2,25 mil milhões de euros, um lucro líquido de cerca de 600 milhões de euros e uma dívida líquida de cerca de 7 mil milhões de euros.

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