Banca a caminho de dividendos acima de três mil milhões de euros
Apesar da descida das taxas, setor continua com lucros robustos. Caixa paga mil milhões. BCP conta com banco na Polónia e BPI com venda em Angola. Com novo acionista, o Novobanco vai abrir a torneira?
Os maiores bancos nacionais vão a caminho de superarem a fasquia dos três mil milhões de euros em dividendos no próximo ano. Embora a descida das taxas de juro esteja a condicionar os resultados, o setor continua a apresentar lucros robustos e o aperto da margem financeira não deverá travar a generosidade com os acionistas.
Até setembro, a banca privada — BCP, Santander Totta, BPI e Novobanco — registou lucros de 2,55 mil milhões de euros (a Caixa só apresenta esta semana), praticamente em linha com o período homólogo, mas com diferentes comportamentos entre as instituições.
Por exemplo, o BCP esteve em ‘contraciclo’ com os seus pares. Os lucros subiram quase 9% para 775,9 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, um crescimento para o qual contribuiu decisivamente o negócio na Polónia.
Os analistas antecipam que o banco liderado por Miguel Maya alcance um lucro de perto de mil milhões de euros em todo o ano de 2025. O CEO lembrou na semana passada que a política de dividendos passa por distribuir metade do resultado líquido. O que significa que 500 milhões poderão cair nos bolsos dos acionistas no próximo ano. E isto sem contar com a parcela de 25% dos resultados que o BCP poderá destinar à recompra de ações.
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‘Espanhóis’ Totta e BPI mais generosos
Já os ‘espanhóis’ Santander Totta e BPI apresentaram decréscimos nos seus resultados por conta da redução da margem financeira. No caso do Totta, os lucros caíram mais de 6% para 728,2 milhões de euros. E no BPI caíram 12% para 389 milhões.
Na praça portuguesa, os dois bancos são os mais generosos com os seus acionistas, com payouts na ordem dos 85% e dos 75%, respetivamente. Ou seja, Santander e Caixabank não deixarão de receber bons cheques das suas operações portuguesas, como tem acontecido ao longo dos últimos anos.
O banco presidido por João Pedro Oliveira e Costa poderá reforçar o cheque com o encaixe de 100 milhões de euros que irá receber com a venda de uma participação de 14,5% no Banco Fomento Angola (BFA). Mas essas contas ainda terão de ser feitas, como esclareceu o gestor na semana passada aos jornalistas.
“Vamos verificar se esse capital é necessário para os riscos que temos ou crescimento. Será decidida pelo conselho de administração com o acionista essa mesma distribuição”, adiantou. “Não tirava a conclusão de que a venda da participação no BFA vai tomar algum rumo. Em primeiro lugar, precisamos de a receber em Portugal em dólares, que vai ter lugar nos próximos meses. Depois, em função da atividade em Portugal, nomeadamente do BPI, avaliaremos se distribuímos ou não”, esclareceu ainda.
Estado recebe mil milhões da Caixa
O Estado português também se prepara para esfregar as mãos. A Caixa Geral de Depósitos (CGD) irá entregar um dividendo recorde de mil milhões de euros no próximo ano –, que corresponde a um terço do montante que os maiores bancos irão pagar aos seus acionistas.
A previsão para o dividendo do banco público consta da proposta de Orçamento do Estado para 2026 que o ministro das Finanças apresentou há cerca de um mês.
Paulo Macedo só apresenta as contas dos primeiros nove meses na próxima quinta-feira à tarde. Na primeira metade do ano, o banco registou lucros de 893 milhões de euros, praticamente em linha com o resultado obtido no mesmo período do ano passado e com os juros a condicionarem a margem financeira.
Novobanco dá dividendo a franceses?
Quanto ao Novobanco, a mudança na estrutura acionista deixa tudo em aberto. O BPCE acabou de assinar a compra da participação de 25% detida pelo Estado e tem praticamente o caminho livre para selar a aquisição do banco português — cuja conclusão poderá ocorrer no primeiro trimestre do próximo ano, dependendo ainda da autorização das autoridades.
Se vai pagar dividendos? Tal cenário dependerá da vontade do novo acionista francês querer ou não começar a recuperar parte do investimento de 6,4 mil milhões de euros realizados na compra do Novobanco.
Em todo o caso, o banco liderado por Mark Bourke já pagou dividendos (à Lone Star e ao Estado português) e, portanto, não seria uma estreia se o fizesse novamente. Para os três próximos anos, de resto, tem em cima da mesa uma política de distribuição de 60% dos resultados anuais (lucrou 610 milhões até setembro) e o banco prevê remunerar o acionista com 3,3 mil milhões de euros (incluindo dividendos extraordinários e recompras de ações). Caso para dizer: “Oh là là!”
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