“Em política, é impossível evitar falhas e erros”, diz Cavaco Silva a Montenegro
"Como costumo dizer, nobody is perfect", afirmou o antigo Chefe de Estado e de Governo. Cavaco Silva criticou a "rudez, gritaria e má-educação" dos novos tempos no Parlamento.
No meio da polémica sobre o caso da grávida que morreu no Hospital Amadora-Sintra, e face à decisão de Luís Montenegro de segurar ou não a ministra da Saúde — que já admitiu querer sair — o antigo Chefe do Estado e antigo primeiro-ministro, Aníbal Cavaco Silva, deixa um recado ao atual chefe do Executivo. “Em política, é impossível evitar falhas e erros. Como costumo dizer, nobody is perfect!“, afirmou esta quarta-feira, na residência oficial do primeiro-ministro, na cerimónia que assinala os 40 anos da tomada de posse do primeiro Governo de Cavaco Silva, a 6 de novembro de 1985.
Mas ainda que falhar seja “humano”, reconheceu, “os erros não podem ser escondidos”, mesmo que “às vezes sejam inventados”, alertou.
O antigo chefe do Executivo recordou ainda que um dos seus piores momentos ocorreu entre o final de 1989 e início de 1990, “no meio de feriados e festas”, “quando teve de demitir cinco ministros”, entre os quais o vice-primeiro-ministro e o ministro da Defesa. “Mas esta crise não impediu a maioria absoluta do PSD nas eleições legislativas que se seguiram em 1991″, congratulou-se, dando um sinal de esperança a Luís Montenegro caso venha a tomar a decisão de exonerar Ana Paula Martins do cargo de ministra da Saúde.
Depois, teorizou sobre o que define um bom Governo de um país da União Europeia: “É aquele que tem em devida conta as condicionantes externas, é formada por uma verdadeira equipa para alcançar objetivos, em que é garantida boa articulação e sintonia entre os ministros”. Esta foi a definição que guiou Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro. Ainda assim, e por “mais que trabalhasse intensamente, em política, é impossível evitar falhas e erros”, lamentou.
Para um dos seus melhores momentos quando líder do Executivo, Cavaco Silva escolheu a revisão constitucional de 1989. “O que me deu maior satisfação pessoal e política ocorreu na noite de 10 de outubro nesta residência, num reunião que se prolongou pela madrugada fora e em que acordámos com o secretário-geral do PS, Vítor Constâncio e António Vitorino os termos da revisão constitucional de 1989”, indicou. Foi essa revisão que “eliminou a plena gratuitidade do SNS, reduziu o número de deputados, consagrou o referendo popular”, exemplificou.
Criticou ainda os novos tempos que se vivem na Assembleia da República, fazendo a comparação com a época em que ainda era inexperiente na política. “A tarefa de um primeiro-ministro é muito dura e exigente e tinha uma óbvia falta de experiência, tive muito que aprender, mas beneficiei de um tempo em que imperava a boa educação, mantive relações cordeais com nove líderes da oposição”, afirmou. Nessa altura, “havia ausência de rudeza, de calúnia, de má-educação, de gritaria e da agressividade a que se assiste nos novos tempos”, criticou.
Dirigindo-se a Montenegro, que lidera um Governo sem maioria parlamentar absoluta, Cavaco Silva lembrou que, na sua época, também passou pelo mesmo, chefiava um Executivo minoritário, e muitos, como Manuel Alegre, vaticinaram de que se “tratava de um Governo com data para morrer”. “Mas as previsões dos analistas políticos falharam e acabei por exercer funções como primeiro-ministro durante 10 anos”, sublinhou, querendo dar alento e esperança ao atual primeiro-ministro.
(Notícia atualizada às 14h34)
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