BRANDS' ECO “O que vem a seguir à IA? Ninguém sabe, graças a Deus”
Na 10.ª edição da Porto Tech Hub Conference, Samuel Santos, vice-presidente da associação, destaca uma programação dominada pela inteligência artificial e o reforço da cibersegurança.
A edição de 2025 da Porto Tech Hub Conference chegou com um sinal inequívoco: a inteligência artificial não foi tema imposto pela organização, foi a própria comunidade a trazê-lo. Samuel Santos, vice-presidente, diz que a conferência recebeu “cerca de 500 submissões” e que, entre conferência e workshops, contou “com cerca de 30 speakers”, a que se somaram “mais de 12” no palco das comunidades. A pressão temática veio de fora. “Exatamente, é um tema que está na moda. Tivemos muitas submissões e tivemos muito interesse também das pessoas nesse tema“, resume, sublinhando que o alinhamento procurou manter-se plural e útil ao ecossistema: “Tentamos sempre ter uma conferência equilibrada em termos de temas. Não estamos focados num só tema”.
Mesmo assim, duas áreas sobressaíram além da IA: a arquitetura de software – com “muito mais submissões do que em edições anteriores” – e a convergência com outras frentes tecnológicas. Há cruzamentos a ganhar tração, diz, como a sessão que “mistura a parte das blockchains com a parte da IA“. A lógica é de vasos comunicantes: o interesse do público e as propostas dos oradores “adaptam-se um ao outro”.
Questionado sobre o que vem a seguir à vaga da IA, Samuel Santos não dramatiza a incerteza; celebra-a. “Na verdade, acho que ninguém sabe responder a essa pergunta. Graças a Deus”, afirma. O vice-presidente admite que as empresas estão sob novos desafios e terão de se adaptar, mas recusa prognósticos apressados: “Só daqui a uns anos é que vamos olhar para trás e perceber as alterações que isto provocou nas empresas. O mais provável é que haja empregos daqui a uns anos que neste momento nem sequer existem”.
Cibersegurança é tema transversal
No terreno, a cibersegurança aparece como prioridade transversal – e mais técnica do que regulatória. “O que estamos a focar mais é a cibersegurança ligada também à IA”, explica. A razão é concreta: “Não se pode deixar o modelo aceder à base de dados sem proteção. É preciso impor limites e garantir que os dados privados continuam privados e que os acessos são monitorizados”. Para isso, a conferência convoca especialistas que partilhem práticas “que muitas empresas, se calhar, não têm como foco” e cujo know-how é hoje crítico para reagir “a desafios que antigamente não existiam”.
No plano geracional, Samuel Santos rejeita a narrativa de rutura e vê continuidade. “Isso é o que sempre existiu“, nota, lembrando que, quando entrou no setor, “já havia malta que trabalhava em COBOL e tecnologias mais antigas, que continuaram até à reforma”. O que mudou foi a tentação de substituir gente por automatismos: “Há notícias de empresas grandes que deixaram de contratar para substituir recursos por IA.” Considera isso um risco e aponta sinais de retorno: “Já houve backlash. As pessoas gostam de interagir com pessoas humanas“. Por isso, a advertência: “A IA é inevitável e a maior parte das empresas tem de acompanhar para não ficar para trás. Agora, temos de a usar para criar valor e aumentar o negócio, não para substituir.” E deixa a regra de ouro do ecossistema: “Para haver seniores é preciso haver juniores primeiro. Se os juniores não forem formados, daqui a uns anos vai ser complicado haver seniores”.

A internacionalização é outro eixo em marcha, articulado com a missão associativa. Samuel Santos descreve a Porto Tech Hub como uma plataforma para “criar valor para os associados“, recorda a evolução do programa Switch – “começou como requalificação e hoje é mais especialização” – e vê nas parcerias externas uma ponte para novos mercados. “A conferência acaba por ser um ponto de celebração do ano e das conquistas”, diz, notando que o público estrangeiro tem crescido. “No ano passado já eram mais de 10% e este ano penso que poderemos estar nos 20% ou perto disso“. Também o painel de oradores se internacionalizou, com a “maior parte” a chegar de fora, entre Europa e Estados Unidos.
A celebração dos 10 anos trouxe mudanças operacionais: a organização reposicionou áreas e criou um lounge amplo para reuniões e networking, deslocando o catering para o piso térreo. A ambição de crescer esbarra, porém, na limitação física do recinto. “No Porto acho que não há um espaço maior que este”, admite. A prioridade imediata é qualidade e estabilidade: “Às vezes, o desafio é manter e não estragar o que está bem“. O modelo futuro – manter a configuração de 2025 ou regressar ao do ano passado – ficará dependente do feedback de participantes, sponsors e speakers: “Com base nesse feedback vamos tomar a nossa decisão para que, para o ano, seja ainda melhor”.
Por fim, as comunidades: a associação quis dar-lhes palco próprio, visibilidade e circulação. “Criámos uma parte de gamification só para as comunidades”, além do habitual jogo com sponsors, para convidar os participantes a conhecerem coletivos que, muitas vezes, “têm dificuldade em encontrar membros”. O saldo tem sido encorajador. “Passei por lá e disseram-me: ‘Ainda não parei. A sala está cheia, não estava à espera‘.” Para muitas, o mini-palco dedicado – onde “trazem sessões e speakers” – funciona como montra e ponto de encontro. “Está a resultar muito bem”.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
“O que vem a seguir à IA? Ninguém sabe, graças a Deus”
{{ noCommentsLabel }}