Energia vai à COP. É o “epicentro da crise climática” e precisa de velocidade e escala

Nelson Lage, presidente da ADENE, fala-nos de energia no podcast Clima 3.0, no qual poderá acompanhar os temas que irão marcar a agenda da COP30.

  • Este texto é escrito com base no podcast Clima 3.0, que trará aos leitores, diariamente e ao longo das duas semanas da COP, uma visão sobre os principais temas discutidos na COP30, numa série de dez entrevistas a especialistas das diversas áreas em discussão.

A energia é o epicentro da crise climática“, afirma Nelson Lage, presidente da ADENE — Agência para a Energia, tendo por base a estatística de que esta é responsável por cerca de três quartos daquilo que são as emissões que estão associadas à crise climática. “A energia é, por um lado, aqui o problema, o desafio, mas, por outro lado, também é a solução”, assegura.

Para que a energia passe a ser uma força adjuvante na luta contra as alterações climáticas, há que mudar a forma como esta se produz e é consumida: “Temos, realmente, de usar uma energia mais renovável, uma energia muito mais eficiente e temos que fazer com que essa energia seja também mais acessível“, resume o líder da ADENE.

De acordo com os dados da Agência Internacional de Energia, “o consumo vai continuar a aumentar”, pelo que, na ótica de Nelson Lage, “essas necessidades de crescimento têm de estar cada vez mais alinhadas com as metas climáticas”.

O presidente da ADENE identifica três desafios à evolução necessária do setor: velocidade, acessibilidade e financiamento. No primeiro capítulo, afirma que “a mudança está a acontecer, mas está a acontecer demasiado devagar”, referindo-se à transição dos combustíveis fósseis para fonte renovável. Aqui, Portugal tem sido “um bom aluno”, e Lage entende que está na altura de passar a ser “o professor”.

Sobre a oposição à transição que tem sido feita pela administração da maior economia do mundo, liderada por Donald Trump, Lage reconhece que há “forças de bloqueio expressivas”. Mas contrapõe: “O setor percebe que isto não é um problema, que isto realmente é uma oportunidade e temos de fazer esta aposta”, acreditando que o solar, por exemplo, continuará a impor-se nos Estados Unidos. “Precisamos de acelerar e precisamos ter outras zonas geográficas a liderar esse caminho“, remata.

Em relação ao incentivo que existe — ou não — para as economias dependentes de combustíveis fósseis, como as do Médio Oriente, a avançarem e não atuarem como forças contrárias à transição energética, Nelson Lage acredita estes países não impedirão a mudança. “As renováveis estão cá para ficar e que há um conjunto de países com expressão que estão a fazer a aposta certa. A questão é perceber se esses países estão também a fazer esta transição, sabendo que esse recurso não é infinito“, diz.

Sobre o desafio da acessibilidade, afirma que “ainda há uma grande desigualdade energética”, e defende que a COP só será uma “reunião de sucesso” se se falar também desta transição como “uma transição social”. Finalmente, quanto ao financiamento, avisa que os fluxos de capital continuam todos concentrados na Europa e na América do Norte. “Em África, um projeto de energia solar é algo que é muito difícil de implementar, quando deveria ser algo que deveria ser mais fácil”, considera.

Pede-se escala e números concretos

A resolução dos problemas passa por “variadíssimas soluções”, desde o hidrogénio verde até aos biocombustíveis, passando pela captura de carbono. “O que nós precisamos é de escala”, que se consegue com mais cooperação — algo que é esperado de uma conferência como a COP, indica o presidente da agência.

Temos pôr lá uma percentagem, temos por lá um número”, pois “números e percentagens forçam o compromisso, e o compromisso leva depois à ação.

Nelson Lage

Presidente da ADENE

Para que a cimeira climática “consiga realmente marcar a diferença e não ser a última COP”, no entendimento de Nelson Lage, “as metas têm de ser claras até 2030”, e essa clareza é mais importante do que definir metas para o horizonte de 2050. Sobre a redução gradual da utilização de combustíveis fósseis, apela a que se seja, também, taxativo: “Temos pôr lá uma percentagem, temos por lá um número”, pois “números e percentagens forçam o compromisso, e o compromisso leva depois à ação”, conclui.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Energia vai à COP. É o “epicentro da crise climática” e precisa de velocidade e escala

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião