Oásis Atlântico investe 25 milhões em empreendimento em Cabo Verde (sem desistir de Portugal)

Empresário português Alexandre Abade avança em 2026 com um novo projeto imobiliário no Sal, mais pensado para investidores. Casas de férias serão rentabilizadas com turistas quando os donos não estão.

O grupo hoteleiro português Oásis Atlântico está a preparar um investimento de mais 25 milhões de euros em Cabo Verde para construir um empreendimento turístico-residencial na ilha do Sal. A primeira pedra do projeto imobiliário com 177 apartamentos, pensados para turistas e investidores, será lançada em abril do próximo ano.

“Continuamos a apostar em Cabo Verde, onde começámos numa fase incipiente, num destino turístico emergente, com muito poucas ligações aéreas internacionais para os países emissores de turistas. Mas ainda tem potencial. Tem verificado, como noutros mercados de turismo, uma procura por investimentos de segunda habitação”, disse ao ECO o CEO da Oásis Atlântico, Alexandre Abade.

Em entrevista a partir da nova sede da Oásis Atlântico em Lisboa, o empresário explica que a chegada da Easyjet ao Sal, bem como a operação de outras companhias aéreas low cost, dinamizaram o destino e podem atrair mais investidores. “Podem conjugar capital num ativo (apartamento) com rentabilidade. Em linha com o aumento de procura por esse tipo de produtos, decidimos avançar com um modelo assim misto na Ilha do Sal”, explica.

O imóvel Salinas Residence, cuja construção deverá estar concluída em outubro de 2027, terá um modelo que permite a aquisição de propriedades integradas no resort, das quais os donos poderão usufruir para férias durante quatro semanas por ano e, simultaneamente, entregá-los ao grupo para exploração no restante tempo, beneficiando de um rendimento associado ao arrendamento.

Impelido pelos voos da Easyjet de Lisboa, da Transavia (grupo Air France-KLM) a partir de Paris ou da Edelweiss (grupo Lufthansa) a partir de Zurique (Suíça), vai nascer um empreendimento com 20 mil metros quadrados, com área comercial e de escritórios, 153 apartamentos turísticos e 24 residenciais, de T0 a T2. A ideia é combinar casa de férias com “rentabilidade hoteleira” de 6% sem custos de condomínio e serviços de segurança, jardinagem ou limpeza.

A situação [do transporte entre as ilhas] tem estado a melhorar. Recentemente foi constituída uma nova empresa para o tráfego interilhas em Cabo Verde e parece-nos que está no bom caminho para o tema ser resolvido e gerar confiança suficiente para que as pessoas possam viajar sem qualquer preocupação.

A Oásis Atlântico tem propriedades em várias ilhas de Cabo Verde, nomeadamente Sal (Oásis Salinas Sea e Oásis Belorizonte), Boavista (Oásis White Hotel), São Vicente (Oásis Porto Grande e Tarrafal Alfândega Suites) e Santiago (Oásis Praiamar). O grupo tem ainda presença no Brasil com o Oásis Imperial & Fortaleza e em Marrocos através do Oásis Saïdia Palace & Blue Pearl. No futuro, o CEO vislumbra a entrada do grupo nas ilhas de Santo Antão, do Fogo – onde a Oásis Atlântico chegou a estar presente nos anos 1990, mas vendeu o hotel – e de Maio.

Alexandre Abade, CEO do grupo Oasis Atlantic Hotels & Resorts, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

Contudo, investir em Cabo Verde envolve “múltiplos desafios”, entre os quais o fornecimento de equipamentos e matérias-primas ou o desenho de operações financeiras que conjuguem bancos locais, internacionais e instituições multilaterais. Além de, à semelhança dos grupos hoteleiros que estão presentes em Portugal, da necessidade de trabalhadores.

“Por um lado, investir em Cabo Verde tem um desafio logístico, porque importa grande parte dos seus produtos e bens. Por outro lado, tem o desafio de financiamento no mercado local para projetos de maior dimensão, além do da mão-de-obra, como em Portugal, que já se começa a sentir em Cabo Verde”, enumera.

No caso do financiamento, o novo projeto terá o mesmo modelo (banca local e internacional), contudo não será com o IFC – Grupo Banco Mundial, com quem assinou um pacote de financiamento, no montante de 35,5 milhões de euros, no final de 2023.

Questionado sobre o facto de ‘ignorar’ os alertas da AICEP ou CIP sobre a necessidade de diversificação de mercados, Alexandre Abade admitiu que “internamente” discutem muito esse tema na hora de pensar nos investimentos a prazo. “A questão é que Cabo Verde está numa fase de crescimento e, se estivemos presentes na fase inicial mais difícil, em que foi preciso construir mercado, não vamos deixar de investir só por causa do risco de concentração”, justifica.

“Continuamos à procura de oportunidades em Portugal”

E em Portugal, de onde é o fundador do grupo e se localiza a sede do grupo? Desde 2019, que é um assunto levado à mesa de reuniões da empresa, porém na hora de fazer contas apercebem-se de que pode (ainda) não compensar, porque o preço é mais elevado e a rentabilidade inferior, o que torna o risco superior. A Oásis Atlântico não quer ter um hotel “por ter”, mas continua à procura do momento (ou lugar) certo.

Tem de se ponderar bem. É verdade que, desde há uns anos, dizemos que temos interesse em ter alguma operação em Portugal, mas continuamos à procura. Vamos ser pacientes.

“Tivemos previsto uma entrada nos Açores que acabámos por ter de cancelar devido aos efeitos da pandemia, mas continuamos atentos a oportunidades. O problema é que, hoje em dia, a rentabilidade de um investimento em Portugal, em muitas situações, é muito baixa. É mais difícil e não tão óbvio como há dez anos fazer investimentos no Porto, em Lisboa ou noutras zonas do país”, afirma, acrescentando que os custos do terreno e da construção sobem o preço final médio e, consequentemente, reduzem a “rentabilidade potencial”.

Alexandre Abade, CEO do grupo Oasis Atlantic Hotels & Resorts, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

Sem Portugal na equação e com mais uma centena de quartos, o que também deverá dar boas noites de sono à gestão da firma é a previsão de que 2025 seja o “melhor ano de sempre” com vendas de cerca de 43 milhões de euros e um EBITDA (resultado operacional) em torno dos 14 milhões de euros.

No ano passado, a Oásis Atlântico – Hotelaria e Turismo SGPS teve lucros de 2,1 milhões de euros, o que representou uma subida de 10% em relação ao resultado líquido obtido em 2023, de acordo com os dados consultados pelo ECO.

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