Amarenco: “Portugal é, sem dúvida, um país certo para aposta em renováveis”

  • ECO
  • 6 Junho 2022

Para Elsa Ferreira, CEO Ibéria da Amarenco, não restam dúvidas do potencial de Portugal no setor das energias renováveis e confirma a aposta da empresa no país já este ano e nos seguintes.

“Nunca tanto como hoje tivemos tanta consciência do que a dependência de terceiros traz como consequências à Europa.” Elsa Ferreira, CEO Ibéria da Amarenco, fala de como o contexto geopolítico de instabilidade que se vive hoje pode — e está — a afetar o desenvolvimento do setor das energias renováveis. A verdade é que, mesmo pelas piores razões, as políticas estão a ser “aceleradas” e novos enquadramentos legais a ser “impulsionados”.

A Amarenco é um produtor independente de energia verde através do solar fotovoltaico, mas Elsa Ferreira confirma que a sua atuação vai mais além, também em Portugal, participando ainda na “regeneração dos ecossistemas”, de forma a restaurar a “biodiversidade e as reservas naturais de carbono”, como explica nesta entrevista.

Em que ponto estão os projetos em desenvolvimento pela Amarenco em Portugal?

Atualmente, o portfólio de projetos que temos em Portugal encontra-se, grande parte, num estado avançado de desenvolvimento. Vamos começar a construção de parte do portfólio durante 2022 e assim continuaremos em 2023 e nos próximos anos.

Quais as principais oportunidades que encontram no investimento na energia solar em Portugal?

Portugal é um país com excelente radiação solar o que beneficia e incentiva o investimento solar, e não só. Apesar de algumas crises económicas, com consequente crescimento mais lento da economia, é um país bastante seguro e estável a nível regulamentar, que o torna atrativo a nível de investimento. Nos últimos anos temos visto uma grande aposta do Governo para o cumprimento das metas estabelecidas a nível europeu e bem mais do que isso, uma aposta em metas mais ambiciosas, o que promove e incentiva a que se invista no país. Julgamos que Portugal tem todas as condições reunidas para atrair investimento e pretendemos continuar a investir no país sendo a nossa estratégia de longo prazo.

E quais os principais constrangimentos e como podiam ser resolvidos?

Falar de constrangimentos acerca de um país onde se investe não é tarefa fácil e não deixa de ser um pouco controverso, mas necessário. Portugal é, sem dúvida, um país certo para aposta em renováveis. Claro que não é tudo fácil, óbvio que temos constrangimentos sobre os quais, e na nossa ótica recentemente, têm vindo a ser reduzidos de alguma forma através de regulamentação específica para o setor. No entanto, não podemos deixar de salientar o “tempo”, os muitos e longos meses, que certos procedimentos de licenciamento levam, em todas as suas vertentes. Notamos, igualmente, que continua ainda a existir (alguma) falta de conhecimento “mais fino” acerca de renováveis, que leva a que não exista critério de avaliação entre os diversos organismos envolvidos e, muitas das vezes, a que processos fiquem parados. Apesar de já existir contemplado na legislação um “balcão único”, sem dúvida o mesmo deveria ser implementado o mais rápido possível, pois o facto de não existir um elemento comum facilitador e desburocratizador leva a constrangimentos sérios e a desistências de investimento devido a tempos de espera.

Quais os planos futuros para Portugal? Investimento em novos projetos ou aquisições?

A Amarenco tem uma forte estratégia de investimento para a Ibéria e a intenção é continuar a investir em Portugal e participar de uma forma inequívoca na transição energética e descarbonização do país. Chegámos mesmo no final de 2020, mas a aposta é continuar e crescer de forma sustentada e responsável. A Amarenco não é apenas um IPP que produz e fornece eletricidade, que ajuda a reduzir os gases de efeito estufa, a Amarenco participa também na regeneração dos ecossistemas, restaurando a biodiversidade e as reservas naturais de carbono – são estes os nossos planos em Portugal.

Que impacto o contexto geopolítico na Europa e os preços elevados da energia poderão ter nas políticas para o setor?

Claramente vivemos tempos atípicos e estamos em adaptação aos mesmos. Pelas piores razões (guerra), atualmente as políticas do setor estão a ser aceleradas e mesmo novas políticas e frames legais estão a ser impulsionados para que a transição energética seja uma realidade a curto prazo e a dependência de outros países passe a ser de independência. Sem dúvida, o contexto geopolítico atual está a levar a uma aceleração das políticas do setor das renováveis.

Elsa Ferreira, CEO Ibéria da Amarenco confirma uma “forte estratégia de investimento para a Ibéria e intenção de continuar a investir em Portugal”.

Qual o impacto da subida das taxas de juro no financiamento do setor?

Já nos diz a macroeconomia que “trabalhamos” por ciclos e este é mais um ciclo que vivemos. Atualmente, as entidades financiadoras são cada vez ambiciosas, não só em taxas de juro, mas nas condições e requisitos dos seus financiamentos e querem realmente ter a certeza que os financiamentos em renováveis são sustentáveis. Obviamente que a subida das taxas de juro impacta, mas não passa apenas por aí, é todo um conjunto de requisitos que levam a adaptações para uma efetiva e clara eficiência dos projetos, que muitas vezes é fortemente desafiada pelos constrangimentos que encontramos a nível de desenvolvimento/licenciamento.

Teme um aumento do custo dos painéis fotovoltaicos e outros fatores de produção devido à inflação e ao crescimento da procura na Europa?

Claro que sim, aliás este efeito já se tem vindo a verificar desde 2021. Em 2020 todos tínhamos “certezas” e podíamos “especular” sobre preços para os anos seguintes, mas tudo mudou (literalmente). Deixámos de poder assumir algumas certezas e passámos a pensar mais no curto prazo e a criar estratégias de mitigação para continuar a ter sucesso e prosseguir com os investimentos. Seria bom ver que este crescimento de procura na Europa levasse, embora talvez não se conseguisse em tempo útil, a uma nova (e mais limpa) “revolução industrial”. Nunca tanto como hoje tivemos tanta consciência do que a dependência de terceiros traz como consequências à Europa.

A rentabilidade dos projetos será menor no futuro?

Diria que, de alguns projetos, sim, outros projetos talvez não, e na generalidade, não. Nestes anos a trabalhar em renováveis apreendi que a teoria de Darwin está em constante aplicação. Evolução e adaptação aliadas a criatividade para se encontrar soluções rentáveis são o mote do setor das renováveis. Sendo as renováveis, em âmbito, um negócio puramente financeiro, é necessário estar-se em constante reinvenção para manter as rentabilidades e, ao mesmo tempo, que tais rentabilidades reflitam projetos sustentáveis e com pegada ecológica positiva. É sem dúvida um trabalho desafiante!

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