“Só nos queixamos dos combustíveis. É um crime o que se tem passado”, diz o CEO da Vialsil

O CEO da Vialsil, que atua na área das vias de comunicação de autoestradas, diz que "é um crime o que se tem passado" com a questão dos combustíveis e a empresa sofreu na pele o impacto.

Há três décadas ao leme da empresa Vialsil – opera na área das vias de comunicação de autoestradas de todo o país –, Paulo Portela afirma que 2021, em plena pandemia, foi o melhor ano da empresa, tendo faturado seis milhões de euros, mas “2020 também foi bom”.

O empresário admite que até poderia ter mais ganhos se deslocalizasse a empresa de Baião para cidades como o Porto, por exemplo. Mas é no interior do país que Paulo Portela quer continuar a criar riqueza e mais postos de trabalho. Só 80% dos 90 colaboradores habitam em Baião e alguns deles são estrangeiros que o empresário admitiu para solucionar a falta de mão-de-obra. Entre eles estão indianos, vietnamitas e senegalenses, alguns deles “vítimas de exploração no Alentejo” e que, entretanto, aprenderam a língua portuguesa e tiveram apoio em todas as questões legais.

Paulo Portela espera faturar os seis milhões de euros de 2021, vai aumentar o capital social para mais de 1 milhão de euros e construir uma sede nova. Pelo terceiro ano consecutivo, a Ascendi distinguiu a empresa com o 1º lugar no cumprimento das normas de segurança e saúde no trabalho. O empresário quer abraçar outros negócios e até pisca o olho à ferrovia, “um mundo novo”, como caracteriza esta área mais recente na empresa.

Quando há três décadas pensou criar um negócio, que tipo de dificuldades encontrou?

Há 30 anos era completamente diferente do que é hoje. Quando criei a empresa, as qualificações exigidas eram baixas. Primeiro, abri uma empresa de contabilidade a que se seguiu depois o negócio de manutenção de vias de comunicação que é o que ainda hoje fazemos. Recordo perfeitamente de adquirirmos, em 1996, o primeiro equipamento – uma autobetoneira. No início, tínhamos uma mercado muito restrito: fazíamos corte de vegetação limpezas de bermas e valetas nas estradas nacionais e pouco mais. Queríamos crescer, além de acharmos que o mercado precisava de uma empresa mais abrangente.

Decidiu apostar noutras áreas de negócio…

Foi aí que enveredámos por outras áreas. Começamos em Baião e, neste momento, cobrimos o país todo, desde Évora, passando por Lisboa, Santarém, Pombal, Aveiro, Guarda, Vilar Formoso, Lamego até Vila Real. Já tivemos uma operação nas ilhas, durante cinco anos, para onde fomos a reboque de uma concessionária nossa parceira na altura. Com o tempo, a concorrência era muita e acabámos por abandonar a área de negócio do corte de vegetação e das limpezas de bermas das estradas.

Quais são as áreas de negócios em que a empresa passou a atuar?

Guardas de segurança, sinalizações, pinturas, reparações de obras de arte – como foi o caso da empreitada da ponte de Leça da Palmeira junto ao Porto de Leixões, ou passagens superiores e inferiores. Executamos tudo o que envolve as vias de comunicação. E os nossos clientes são as concessionárias de autoestradas. A concessionária com quem mais trabalhamos é a Ascendi. Apesar de muito sofrimento e de termos vivido alguns momentos maus, sempre lutámos por crescer cada vez mais. Hoje temos uma empresa com 27 anos que é a Vialsil.

Quando fala em momentos maus, refere-se ao acidente que vitimou três trabalhadores?

Marcou-nos muito a morte dos três colaboradores. Estavam a fazer reparações de obra de arte na A41 e um carro desgovernado abalroou-os. Tivemos alguns colaboradores que se recusaram a trabalhar a seguir e não foram despedidos por isso. Demos todo o apoio e a empresa parou três dias. Todos os anos assinalamos a data; ao meio-dia de 1 de abril todos fazem uma pausa. A nível de segurança e higiene no trabalho não brincamos em serviço, não abdicamos disso.

E têm sido distinguidos na segurança e higiene do trabalho.

Sim, a Vialsil foi distinguida, pelo terceiro ano consecutivo, com o 1º lugar, pela excelência demonstrada no cumprimento das normas de segurança e saúde no trabalho no âmbito da campanha Ascendi SST – segurança em obra. O que nos dá muita credibilidade. É um prémio para as equipas da empresa que se esforçam, diariamente, por cumprir com rigor e profissionalismo todas as regras e normas do trabalho. Esta distinção aumenta ainda mais a nossa responsabilidade.

Os nossos melhores anos empresariais foram os três últimos. Aliás, o melhor ano da Vialsil foi 2021, em plena pandemia, mas 2020 também foi bom.

Paulo Portela

CEO da Vialsil

Prevê aumentar os recursos humanos?

A Vialsil começou com dez pessoas e agora já somos 94. Temos andado um bocado ao sabor do mercado e das oportunidades. Mas pensamos crescer mais nos próximos anos, o que depende de vários fatores, nomeadamente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e da situação económica do país. As câmaras vão ter muito trabalho e vão ter de o adjudicar a alguém, as concessionarias também. De uma forma direta ou indireta vem parar às empresas.

Sentiu o impacto da pandemia da Covid-19 nas contas da empresa?

Não me posso queixar, porque os nossos melhores anos empresariais foram os três últimos. Aliás, o melhor ano da Vialsil foi 2021, em plena pandemia, mas 2020 também foi bom. As oportunidades surgiram mais. Mesmo em época de confinamento, tivemos que ir para a rua e acabámos por ter custos acrescidos no transporte das pessoas, no alojamento e alimentação para conseguirmos cumprir as regras da contingência. Se não tivéssemos esse cuidado, muitas obras tinham ficado paradas. Mas, conseguimos dar resposta. Os nossos parceiros estavam alinhados connosco e ajudaram a suportar muitos desses custos.

A guerra na Ucrânia teve impacto na aquisição de matérias-primas e combustíveis?

Só nos queixamos dos combustíveis. É um crime o que se tem passado. Não consigo perceber como é que o preço do petróleo aumenta fora do país e todas as reservas que as petrolíferas têm sofrem logo um aumento de preço. Hoje a matéria-prima representa 7 ou 8% da nossa faturação. A nossa maior despesa é relacionada com custos de mão-de-obra.

Tem tido alguma dificuldade em angariar mão-de-obra?

Sim e por isso é que estamos a recrutar estrangeiros. Mas já sabemos que não conseguimos competir com os salários dos outros países europeus. Temos 17 colaboradores de países tão variados como Senegal, Vietname ou Índia. Asseguramos o alojamento. Primeiro, fomos buscar alguns colaboradores estrangeiros à agricultura, no Alentejo. Muitos deles trabalhavam ao dia e quiseram vir. Não faltavam depois telefonemas de cidadãos indianos a quererem vir trabalhar connosco. Dois dos senegaleses estavam a dormir na rua no Porto e precisavam de trabalho. Hoje já temos quatro senegaleses. Também temos um vietnamita que até trouxe a família para Baião. Muitos deles já ganham 900 e mil euros por mês. Mesmo assim, compreendo que não é um trabalho fácil. É, sim, pesado, pois estão à chuva e ao sol nas obras da reparação de vias de comunicação. Queremos que eles se fixem na localidade e tentamos que tragam as famílias. Eles sabem que estamos cá para os ajudar. Os recursos humanos são o maior património que a Vialsil tem.

Porque é que tem dificuldade em contratar mais trabalhadores portugueses?

Uma coisa é as pessoas estarem desempregadas, porque não arranjam trabalho; outra bem diferente é não quererem trabalhar. Hoje, fruto da ação social do Estado, muitas das pessoas que estão no desemprego, e que arranjam sempre forma de sobreviver com o subsídio de desemprego ou rendimento mínimo, não estão para acordar cedo quando têm o Estado a mantê-las. Isto é um handicap. Temos este problema do Estado e na sociedade em geral, porque estamos a sustentá-los.

Quais são as metas para a empresa e quanto espera faturar este ano?

Esperamos faturar os seis milhões de euros de 2021. Vamos aumentar o capital social para mais de 1 milhão de euros e construir uma sede nova. Queremos ter sempre credibilidade no mercado e os caminhos que nos norteiam são: ter disponibilidade para os clientes, muita pontualidade e qualidade: Não estamos no mercado porque somos melhor do que os outros, mas sim porque fazemos diferente dos outros. E sabemos ultrapassar as crises.

Dentro de dez anos, gostaria de ter uma empresa muito sólida financeiramente e ser um exemplo na criação de melhores condições de vida para os colaboradores. Também gostaria de avançar para outras áreas, como a metalomecânica, por exemplo. Mas não está nos nossos horizontes mudarmos a sede da empresa, em Baião, ainda que já tenhamos percebido que temos alguns prejuízos por causa da localização e sabemos que o Estado não nos dá qualquer benefício em relação a isso. Mas o nosso interesse é económico, mas também temos alguma responsabilidade social, porque grande parte dos colaboradores é de Baião, onde a empresa foi constituída.

A Ferrovia é um mercado de negócio novo…

A Ferrovia é um mercado em que entrámos, no ano passado, desafiados por um dos nossos parceiros. Estamos a fazer um troço da linha de Évora, entre Sines e Espanha. Dada a falta de mão-de-obra, conseguimos entrar no mercado. São trabalhos de subempreitada. A ferrovia é um mundo novo, porque o que fazemos nas autoestradas é durante um período de movimento constante, com maior risco, estamos em perigo permanente. Na via-férrea não há perigo de terceiros como nas autoestradas. Acredito que com o rumo, vamos conseguir estar na via-férrea tão à vontade como na autoestrada.

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