Subida de rating pela “amiga” DBRS limita ganhos para Portugal, dizem especialistas

Não há dúvidas de que a subida do rating para o nível A é uma boa notícia para a dívida soberana e para as empresas. Contudo, o impacto é limitado por ser apenas a DBRS, admitem analistas.

Portugal entrou na liga A dos ratings 11 anos depois. Os analistas dizem que é uma boa notícia não só para a dívida soberana, mas também para as empresas, pois poderão beneficiar de custos de financiamento mais baixos. Contudo, reconhecem que o impacto será limitado por ser apenas a DBRS, a mais amiga das agências de rating, a melhorar a notação de risco do país.

“Obviamente que não são más notícias, pelo contrário, mas o impacto deverá ser limitado. Em primeiro lugar porque a DBRS é uma agência normalmente tida menos em conta do que as ‘big three’ e tem sido mais benevolente do que estas ao longo do tempo”, admite o economista e presidente do IMF – Informação de Mercados Financeiros, Filipe Garcia, ao ECO.

O diretor de Investimentos do Banco Carregosa está de acordo. Filipe Silva diz que a decisão da DBRS “vai dar mais confiança aos investidores e permitirá uma exigência de prémios de risco mais baixos, não só para a dívida soberana como também para as empresas”, mas “este efeito será mais visível se outra agência de rating seguir o mesmo caminho, até porque a DBRS foi a única agência que nunca tirou o grau de qualidade a Portugal, mesmo em alturas mais complicadas e quando todas as outras o fizeram”.

Nos anos de maior pressão das agências de notação de risco, foram justamente os canadianos a segurarem o rating de Portugal com um grau qualidade de investimento (por oposição ao grau especulativo), mantendo assim dívida do país elegível para o programa de compras do Banco Central Europeu (BCE), o que ajudou a conter os custos de financiamento.

Esta sexta-feira, a DBRS deu mais uma boa notícia, justificando a melhoria do rating para o nível A – o nível mais alto em 11 anos – com o facto de “as vulnerabilidades de crédito a Portugal associadas a choques externos estarem a diminuir e as perspetivas macroeconómicas a melhorarem”. Já a Fitch e S&P dão nota BBB (perspetiva estável) e a Moody’s atribui Baa2 (perspetiva positiva) a Portugal, três níveis abaixo da notação que dá atualmente a DBRS.

A seguir à República, é expectável que as empresas públicas também vejam os seus ratings revistos em alta pela agência canadiana.

Apresentar-se no mercado com um rating A reforça a confiança dos investidores na capacidade de um país, empresa ou banco reembolsarem o que lhes foi emprestado.

"Não são más notícias, pelo contrário, mas o impacto deverá ser limitado. Em primeiro lugar porque a DBRS é uma agência normalmente tida menos em conta do que as ‘big three’ e tem sido mais benevolente do que estas ao longo do tempo.”

Filipe Silva

Economista e presidente do IMF

“Teria sido mais prudente não mexer no rating

Para reforçar a sua ideia, Filipe Garcia, que não deixa de manifestar alguma surpresa com a melhoria da notação de risco pela DBRS, salienta que o país sentirá um maior impacto quando passar a ter um rating “high grade”, ou seja, já com duplo “AA”.

“A passagem para A não traduz uma alteração muito significativa em termos qualitativos com aquela que é a passagem do high yield para grau de investimento ou a passagem para high grade”, diz, dando o exemplo da reação dos juros e do spread da dívida nos mercados secundários – esta segunda-feira até aumentaram por causa do discurso mais duro dos responsáveis do Banco Central Europeu (BCE).

"A subida de rating mostra o bom percurso que a economia portuguesa vem a fazer, mesmo tendo passado por uma pandemia. Vai dar mais confiança aos investidores e permitirá uma exigência de prémios de risco mais baixos, não só para a dívida soberana como também para as empresas. ”

Filipe Silva

Diretor de investimentos do Banco Carregosa

O economista da IMF estava contar com a manutenção do rating porque “há sinais preocupantes para o futuro como a previsível desaceleração económica, a evolução da guerra e da inflação, a subida dos juros e a incerteza sobre a política monetária do BCE”. Nesse sentido, “teria sido mais prudente não mexer já no rating, adianta, embora não veja a subida como uma surpresa total tendo em conta que “a posição orçamental do país é robusta este ano e a trajetória previsível da dívida/PIB é favorável”.

Filipe Silva considera que será importante reduzir o stock da dívida pública – atingiu os 280 mil milhões de euros – para consolidar a melhoria do rating e “não sentirmos tanto o efeito do custo do serviço da mesma nesta fase de subida de taxas de juro”.

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