BRANDS' ECOSEGUROS Inflação, indexação e aumentos de prémio

  • ECOSeguros + Innovarisk Underwriting
  • 24 Novembro 2022

Rui Ferraz, diretor comercial da Innovarisk, explica como a inflação vai influenciar os seguros de Multirriscos Habitação em 2023.

Vamos ser claros: o primeiro trimestre de 2023, no que toca aos Seguros Patrimoniais, vai ser complicado. O Índice de Edifícios (IE) da ASF para esse período é 14% superior ao equivalente para 2022, e o Índice para Recheio de Habitação (IRH) cresce em 8%. Ou seja, e trocado por miúdos, essa será a indexação do seu seguro de Habitação caso o mesmo renove durante os primeiros 3 meses do próximo ano, já que estes índices são a base para a atualização de capitais nas apólices de Incêndio e de Multirriscos.

Quem trabalha com este tipo de seguros sabe que os aumentos do mesmo têm sido elevados (entre 9,5% e 10,5% para o IE) desde o segundo trimestre deste ano, e decorrem da inflação galopante que se tem verificado desde o eclodir da guerra na Ucrânia, já que utiliza um “cabaz de compras” como amostra para calcular os aumentos de valor expectáveis da reconstrução de Imóveis, e substituição dos bens que fazem parte do Recheio da nossa casa.

No entanto, algo que nem todos os que trabalhamos em Seguros sabemos, mas que é constantemente explorado nas transferências de riscos de uma seguradora para outra, é que a atualização dos capitais seguros apenas é obrigatória nos seguros de Incêndio. Nos seguros do tipo Multirriscos (ou Todos os Riscos) a atualização é recomendada mas não obrigatória. É da exclusiva responsabilidade do tomador do seguro que esta aconteça sendo que, caso não o faça, pode incorrer numa situação de infra-seguro e de aplicação da famigerada Regra Proporcional.

É por isso e, sejamos honestos, para evitar problemas de maior que a grande maioria das apólices de Patrimoniais opta pela aplicação dos Índices, evitando maiores chatices para clientes, mediadores e seguradoras.

E, com uma inflação controlada, a coisa até funciona de uma forma tranquila, com aumentos de índice na casa dos 2%/3% em média e pouco expressivas nos bolsos dos clientes. Porém, apenas serviu para esconder duas situações que não se vêm refletidas nas apólices com muita regularidade: o aumento do custo de reconstrução por m2, bem acima do que é utilizado pela maioria dos agentes do mercado segurador, e a aquisição de novos bens para a nossa habitação e que quase nunca são incluídos na nossa apólice de seguro, como por exemplo quando nasce um novo elemento da nossa família, seja de duas pernas ou quatro patas.

Rui Ferraz, Diretor Comercial da Innovarisk

Só para nos rirmos todos um pouco, o valor de construção por m2 em Lisboa, Porto, Faro, Cascais, etc, em 2022 é de € 830,03. Em Loulé, onde se situam alguns dos condomínios mais exclusivos do sul de Portugal, é de € 725,56. É claro que estes são os valores mínimos de reconstrução, mas são utilizados como dogma por muitos de nós para indicar o capital seguro de Edifícios que, em caso de sinistro, precisariam de 3 ou 4 vezes mais que esse valor. Mas enquanto a desgraça não acontece folgam as costas.

O aumento dos custos energéticos, de transportes e de matérias primas, entre outros, fez agora disparar novamente o custo de reconstrução e aquisição de bens. E põe as seguradoras, e os seus intermediários e clientes, perante um novo problema.

Numa linha de negócio que não é assim tão rentável, e em que uma percentagem bastante elevada de locais de risco apresentam capitais seguros muito insuficientes, as seguradoras não têm como não aplicar os atuais aumentos dos índices. O aumento do custo com a regularização de sinistros a isso o obriga. Mas haverá pressão do mercado para não o fazer.

Num negócio, o segurador, onde ainda se vende dizendo que se faz mais barato ou oferecendo vouchers ou jogos de lençóis, sem uma discussão séria sobre cobertura ou risco para o cliente, temos habituado os tomadores do seguro a que podemos manter capitais ou aplicar um desconto com uma simples transferência de seguro entre mediadores ou seguradoras. Mas omitimos que a cada uma dessas mudanças o património dele está cada vez mais em risco, seja ao abrigo da regra proporcional seja pela redução de cobertura que uma alteração muitas vezes traz, mas que é muitas vezes “ocultada” ao cliente enquanto se aponta para o preço.

Dizer a um cliente que terá de aumentar o capital de seguro da sua apólice, com o correspondente aumento de prémio, não é uma questão de coragem mas sim de profissionalismo e bom serviço. É garantir que o seu património está corretamente protegido. Aplicar a indexação aos capitais de uma apólice beneficia o seu cliente. Porque a alternativa para a seguradora será aumentar taxas.

É fácil de explicar isto: se não se aplicam aumentos consentâneos com a inflação, a seguradora assume (corretamente) que os capitais seguros não são suficientes e que a apólice não cobre a totalidade do risco. Como tal, e em caso de sinistro, a seguradora tem uma de duas opções: investigar a percentagem do valor total existente que está a segurar e aplicar a regra proporcional, ou assumir que está a segurar como um primeiro risco, pagar o valor da reclamação e cobrar uma taxa mais alta pela cobertura em primeiro risco.

Tendo em conta que a maioria dos sinistros são de valores relativamente baixos, onde não compensa todo o trabalho de investigação de capitais para definir a percentagem de infra-seguro, é fácil perceber qual é a opção de qualquer seguradora.

Sendo assim, o que é preferível? Atualizar o capital seguro e pagar mais por isso, ou manter capital e… pagar na mesma mais por isso?

Eu sei o que prefiro.

 

Texto por Rui Ferraz, Diretor Comercial.

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