Seca provocou quebra na produção de pinhões. Miolo pode chegar aos 110€/kg

  • Mariana Marques Tiago
  • 24 Dezembro 2022

Produtores anteveem estabilização do preço do miolo de pinhão, apesar da quebra na produção e no abastecimento do mercado. Nos próximos anos esperam um recuo na valorização do "caviar da floresta".

O miolo de pinhão do pinheiro-manso (ou PinusPinea) já é presença habitual na mesa dos portugueses na época natalícia. Este ano antevê-se uma estabilização do preço face a 2021, mas uma quebra na produção e no abastecimento do mercado (por oposição à realidade espanhola). Nos próximos anos, os produtores esperam uma inversão da tendência e uma queda dos preços.

Nos últimos dois anos têm-se registado preços cada vez mais elevados na venda do miolo de pinhão, por vezes apelidado de “caviar da floresta”. Mas este ano o paradigma pode mudar, já que se prevê uma “estabilização do preço”, adianta ao ECO a Associação Florestal de Portugal (Forestis).

À data de 12 de dezembro, os valores do produto oscilavam “entre 85€/kg e 110€/kg nas grandes superfícies comerciais”, adiantou a União da Floresta Mediterrânica (UNAC), sendo que no último ano os valores rondavam os 50 e os 140 euros ao quilo. Já em 2020, a média do preço do miolo de pinhão rondava os 60 euros.

“O aumento que temos estado a observar no preço do miolo de pinhão nos últimos três anos deve-se à quebra na oferta”, tendência que se verificará novamente este ano. Segundo Conceição Santos Silva, secretária-geral da associação, “o principal fator para a fraca produção deste ano é mesmo o fator climático”.

Em consequência, antecipam-se “dificuldades no abastecimento do mercado interno e externo”, completa a Associação de Produtores Florestais (APAS Floresta).

Seca prejudicou reprodução das pinhas

Antes que as pinhas desta espécie de pinheiros sejam colhidas, desenvolvem-se na árvore durante três anos. E é no segundo ano que o clima tem um verdadeiro impacto. “Verões muito secos, como aqueles que temos tido nos últimos anos, levam a uma elevada mortalidade da pinha no segundo ano porque não tem água”, relata Conceição Santos Silva.

A falta do recurso natural influencia também o tamanho da pinha e, consequentemente, o número de pinhões que contém. Em média, “um quilo de pinhas dá apenas entre 15 e 45 gramas de pinhões”, contabiliza o projeto My Planet, criado pela The Navigator Company.

O projeto My Planet, criado pela The Navigator Company, contabiliza que, em média, um quilo de pinhas dá apenas entre 15 e 45 gramas de pinhões.

Tanto a UNAC como a APAS Floresta destacam ainda as pragas como fator que tem prejudicado os níveis de produção nacional. Não que se tenham registado mais do que nos outros anos, ressalva Conceição Santos Silva, mas porque, “como a produção é menor e o número de insetos é o mesmo”, concentram-se “todos nas mesmas pinhas”.

Dados avançados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) revelam que até ao momento os produtores portugueses declararam a colheita de 21.887 toneladas de pinha. Apesar de os dados serem provisórios, o valor apresentado ainda se encontra abaixo do registado na campanha do último ano (2020/2021), no qual se colheram 33.690 toneladas. No entanto, o instituto português não consegue confirmar a antevisão de dificuldades no abastecimento de pinha.

Segundo a secretária-geral da UNAC, o país vizinho irá ter valores de produção superiores aos portugueses. Isto porque as zonas onde existe pinhal manso (6% da área florestada do país) apresentam características distintas das zonas espanholas. No entanto, “o país está a apostar nas zonas de exploração corretas”, tranquiliza Conceição Santos Silva, que alerta para a existência de ciclos de safra e contrassafra.

“Quando uma árvore tem produções elevadas num ano, nos seguintes terá uma produção muito menor, por uma questão de gestão de recursos”. Anos depois, a tendência altera-se e a produção volta a aumentar.

Preço do pinhão deverá cair nos próximos anos

Nos próximos anos, os níveis de produção da pinha e do miolo de pinhão deverão aumentar, confia a secretária-geral da UNAC. A esperança reside na melhoria dos níveis de precipitação e na regeneração da capacidade de produção dos pinheiros. “Quando isso acontecer [aumentar a produção], vai haver uma diminuição do preço, evidentemente”, prevê.

Quando isso acontecer [aumentar a produção], vai haver uma diminuição do preço, evidentemente.

Conceição Santos Silva

Secretária-geral da UNAC

Mas Conceição Santos Silva realça ao ECO que é necessário investir nos projetos de investigação e apostar em espécies semelhantes, mas “que sejam mais resistentes às alterações climáticas”. Isto porque “esses indivíduos vão assegurar a produção [de pinhão] no futuro”.

Assegurar a produção passa também por continuar a investir em estratégias como os enxertos. Esta evolução tecnológica teve início em 2001, mas a principal expansão foi a partir de 2010. O resultado foi “antecipar o início da produção [de pinha] para os 10 anos”, estando anteriormente nos 25, conclui a secretária-geral.

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