Como as Fintech já mexem com o seu dia-a-dia

Pagar com o smatphone em vez do cartão, comprar numa loja online sem cartão de crédito, e usar a impressão digital em vez do código para ir ao homebanking, são operações que têm o "dedo" das fintech.

Fintech. É bastante provável que desconheça o seu significado, ou sequer tenha já ouvido a palavra. Contudo, esta expressão está mais presente no seu dia-a-dia do que imagina. Se já utilizou o telemóvel para fazer um pagamento ou realizou uma simples compra através da internet, o mais certo é que por detrás de qualquer destas operações esteja ou já tenha estado uma fintech.

A palavra fintech, nada mais é do que um anacrónico para designar as empresas da chamada tecnologia financeira. Ou seja, empresas que disponibilizam serviços financeiros com base numa tecnologia diferenciadora que concorre, mas também pode acrescentar valor, aos serviços prestados pela banca tradicional. A maioria dessas empresas atuam na área dos pagamentos e transações, mas já há algumas a operar no segmento dos investimentos. Outras desenvolvem ainda tecnologia que permite maximizar a segurança das operações financeiras, bem como detetar fraudes.

Parte dessas empresas prestam de forma autónoma esses serviços financeiros, ou estabelecem parcerias com os bancos tradicionais. Por exemplo, quando paga uma compra na internet através da PayPal está a trabalhar diretamente com uma fintech que acede a uma conta que lhe esteja associada. Já quando usa o smartphone para fazer um pagamento ou transferir dinheiro para outra pessoa através do MB WAY, esta possibilidade resulta da parceria entre a SIBS, que disponibiliza a tecnologia, e os vários bancos aderentes ao sistema.

Evolução do investimento em fintech

Fonte: Accenture e CB Insights | Valores em milhões de dólares.

As fintech são um segmento que se tem desenvolvido muito nos anos mais recentes, concentrando um elevado grau de investimento, prova de que a revolução digital está a chegar em força ao setor financeiro. De acordo com o relatório The Future of Fintech and Banking: Digitally disrupted or reimagined?, da Accenture, só em 2014, o investimento global em empresas deste segmento triplicou, para um total de 12,21 mil milhões de dólares (11,38 mil milhões de euros).

“Novas fronteiras como a robótica, o blockchain e a internet das coisas são menos dependentes da geografia do que da capacidade da indústria em adotar e dar escala a ideias inteligentes que melhorem os serviços e as eficiências. A chamada quarta revolução industrial é um fenómeno global que traz novas empresas inovadoras e digitais que competem e colaboram com os serviços financeiros tradicionais. Os clientes da banca podem ganhar com isso”, dizia Richard Lumb, diretor executivo da área de serviços financeiros do Grupo Accenture, num estudo recente da consultora.

"A chamada quarta revolução industrial é um fenómeno global que traz novas empresas inovadoras e digitais que competem e colaboram com os serviços financeiros tradicionais. Os clientes da banca podem ganhar com isso.”

Richard Lumb

Accenture

Do ponto de vista dos utilizadores de serviços financeiros, o que é que estes têm a ganhar com o trabalho das fintech? Entre as principais vantagens do ponto de vista dos utilizadores incluem-se a maior comodidade, a poupança de tempo e muitas vezes também de dinheiro. Uma aposta que se começa a enraizar nos hábitos de muitos utilizadores a nível global.

De acordo com um estudo recente, metade dos clientes do setor financeiro a nível global utilizam produtos ou serviços de pelo menos uma fintech. Os dados surgem do primeiro World Fintech Report, estudo da Capgemini e do LinkedIn, realizado em parceria com a Efma, e que foi divulgado no final do ano passado. Esta análise concluiu ainda que este tipo de serviços financeiros prestados pelas fintech estão a ganhar tração sobretudo entre os jovens, dos adeptos da tecnologia e dos clientes mais ricos. Entre os inquiridos que revelaram ser clientes de tecnológicas financeiras, 46,2% afirmaram utilizar serviços de mais de três empresas deste setor.

Cada vez mais presentes no dia-a-dia

Apesar da realidade nacional ainda estar um pouco distante do que acontece a nível global no que respeita ao envolvimento com as fintech, há já muitas operações financeiras realizadas pelos portugueses que não seriam possíveis sem uma ligação aos serviços financeiros criados por essas empresas.

A PayPal é o exemplo de uma das empresas mais representativas do setor fintech a nível global. Muitos portugueses já terão utilizado o sistema PayPal para efetuar o pagamento de uma compra numa loja online. O sistema é considerado mais seguro do que a utilização de um cartão de crédito e não significa que tenha de pagar mais por isso, já que o custo da operação está do lado da loja onde adquiriu produto.

Quando cria um cartão de crédito virtual através do MB NET para realizar uma compra online está a utilizar também uma ferramenta com uma forte ligação ao setor das fintech. A SIBS que disponibiliza esta ferramenta também nasceu como uma startup, tendo-se conseguido impor como uma das mais inovadoras empresas do setor das fintech. A aplicação MB WAY é uma das mais representativas inovações tecnológicas da SIBS. Esta permite associar os seus cartões bancários ao número de telemóvel e assim fazer compras ou transferências imediatas através do smartphone ou tablet. O MB WAY prepara-se para ver incorporada uma nova funcionalidade que está a ser desenvolvida por unidade específica da SIBS: os levantamentos sem cartão.

As mobile wallets são outra das funcionalidades que resultam da adequação da tecnologia aos serviços financeiros. Tratam-se basicamente de carteiras virtuais e móveis (smartphone) que permitem pagar as compras sem utilizar dinheiro ou um cartão físico. O conteúdo é gerido através de plataformas como a Windows Phone Wallet, a Google Wallet ou a Apple Passbook.

O contactless é outra das tecnologias que veio para ficar na relação dos consumidores com os pagamentos. Esta permite realizar pagamentos sem inserir o cartão bancário nos terminais de pagamento. Para valores até 20 euros o pagamento é automático, enquanto para quantias superiores é necessário inserir o código do cartão. Será difícil encontrar quem tenha um cartão de débito na carteira que não disponha dessa funcionalidade.

Uma das apostas mais recentes em termos de prestação de serviços financeiros que tem emanado das fintech é a concessão de crédito. A ITSector é uma tecnológica portuguesa que está a apostar nesse setor. A empresa criou uma app cujo objetivo é permitir, em tempo real, simular e contratar crédito. A tecnológica já tem parcerias com um grande leque de bancos que operam em Portugal.

Na perspetiva dos bancos, as principais vantagens são a redução de custos e o aumento do volume de crédito, bem como o promover de uma maior proximidade e contacto direto com o cliente, em tempo real e com soluções atuais e inovadoras. Para os clientes dos bancos, representa a possibilidade de, em tempo real, poderem aceder a soluções bancárias e à contratação de crédito através do telemóvel, recorrendo a ferramentas de comunicação com o banco muito semelhantes às que já se habituaram a utilizar no dia-a-dia”, dizia recentemente João Pinto, CEO da ITSector.

Aceder a crédito através de uma app já é possível desde o início do ano no Banco CTT e no Santander Totta. No final de janeiro, o banco liderado por Luís Pereira Coutinho estreou-se no negócio de concessão de crédito à habitação, tendo para tal criado uma app específica para tratar de todas as fases do processo que conduzem à contratação do empréstimo: a Casa Banco CTT. Poucos dias depois, foi a vez de também o Santander Totta anunciar a possibilidade de contratar um crédito pessoal através da sua app: o CrediSIMPLES.

A CrowProcess é outra das fintech que também está a trabalhar na área do crédito. A empresa portuguesa desenvolveu uma aplicação que pretende responder ao problema do crédito malparado, facilitando a análise dos riscos de crédito em bancos de média dimensão.

O investimento é outra das áreas em que as fintech também estão apostar. A portuguesa Seedrs é um desses exemplos. Foi a primeira plataforma da Europa a permitir a qualquer pessoa investir numa startup, a partir de dez euros, na ótica do financiamento coletivo: mais em específico do equity crowdfunding.

Adaptar para não morrer

Das bitcoins (moeda virtual) ao mobile banking, quase todas as áreas do setor financeiro estão a ser transformadas pela tecnologia. E quem não souber adaptar-se pode correr o risco de ficar para trás na corrida. E os bancos estão cada vez mais conscientes da necessidade de se adaptarem à crescente presença das fintech.

Ainda recentemente, o governador do Banco de Portugal incluía a revolução digital no conjunto dos principais desafios do setor financeiro tradicional. “Obriga os bancos a absorvê-la e obriga ainda a enfrentar atores (fintech) a que não estavam habituados e que vāo aparecer como concorrentes”, dizia Carlos Costa na abertura de uma conferência da ASFAC. “Ganha quem absorver primeiro e tirar partido dos seus ativos”, vaticinou na ocasião o governador do Banco de Portugal.

Futuro hipotético da banca na relação com as fintech

Fonte: Accenture

De acordo com as respostas dadas por um conjunto de 25 operadores do setor financeiro no relatório The Future of Fintech and Banking: Digitally disrupted or reimagined?, da Accenture, o caminho futuro vai mais no sentido da cooperação entre a banca tradicional e as fintech. Do total de inquiridos, 56% disseram que o rumo mais provável seria a anião de posições no sentido de acrescentar valor para ambas as partes. Contudo, 20% apostaram no cenário de desagregação da banca tradicional.

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