LNEG, as mulheres e o pioneirismo na transição energética

  • Juliana Barbosa
  • 26 Janeiro 2023

Portugal tem sido, historicamente, pioneiro na transição energética. E, ouso dizer que o processo tem sido construído com mulheres fortes.

Portugal tem sido, historicamente, pioneiro na transição energética. E, ouso dizer que o processo tem sido construído com mulheres fortes (sem desprimor pelo trabalho de muitos colegas homens, muito competentes).

Há quase vinte anos, o país desenhou e executou uma política energética-industrial-climática de incentivo à energia eólica que até hoje reverbera positivamente, seja na oferta de eletricidade limpa endógena, seja no tecido industrial do território. Se na altura, haviam dúvidas se seria possível uma participação expressiva de renováveis na rede, a história mostrou que sim.

Portugal já foi até exemplo de como é possível gerir um sistema com 100% de renováveis por alguns dias. Pioneiro no compromisso com a neutralidade carbónica, Portugal foi dos primeiros países a propor um Roteiro Nacional de Baixo Carbono (RNBC), construído de forma participativa por diversos profissionais e coordenado por mulheres. Em 2021, conseguiu antecipar a meta de 2023 para a finalização do uso de carvão na geração de eletricidade.

Na minha opinião, um anterior estudo sobre reforma da fiscalidade verde terá contribuído para esta antecipação. Foi coordenado também por mulheres. O Roteiro para a Neutralidade Carbónica (RNC2050), construído por mulheres e apresentado em 2019, propunha metas de renováveis de 47% do consumo de energia até 2030 — superiores ao valor de 42% inicialmente apontado para Portugal pela Comissão Europeia.

O Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), presidido por uma mulher, desenvolveu trabalhos relevantes na identificação de alternativas para a transição energética, nomeadamente ao nível do hidrogénio verde e às renováveis marinhas. Destacam-se o Atlas para o Hidrogénio Verde lançado em 2022 e o projeto OffShore Plan — mais uma vez, trabalhos coordenados por mulheres.

Mais recentemente, noutro trabalho pioneiro, destaca-se o papel importante das mulheres: perante a comunicação do RepowerEU e da revisão da diretiva das renováveis, Portugal inovou na proposta de uma metodologia para acelerar a transição energética.

Tive a honra de fazer parte de uma iniciativa multi-institucional de política pública para uma avaliação técnica inicial das áreas com menor sensibilidade ambiental e patrimonial com vista à implementação de energias renováveis. O LNEG lança neste mês de janeiro de 2023, no seu GeoPortal, os mapas resultantes deste esforço realizado em tempo recorde.

Publicamos também um relatório onde se explica este mapeamento. O trabalho colaborativo foi coordenado e executado em grande parte por mulheres e Portugal antecipa (novamente) o objetivo europeu de acelerar a transição energética garantindo a sustentabilidade territorial.

Em dezembro de 2022, a revisão da diretiva das renováveis estabelece que os Estados-membros terão até dois anos para a indicação das áreas mais propícias para a implementação de centros eletroprodutores renováveis terrestres e marítimos. Já foi dado um grande passo no que diz respeito à dimensão terrestre com este primeiro levantamento de áreas onde o licenciamento de renováveis poderá vir a ser agilizado, e tenho muito gosto de compartilhar estas boas notícias.

O trabalho conclui que existem áreas menos sensíveis espalhadas por todo o Portugal Continental e em quase todos os municípios. Considerando (para já) apenas a geração centralizada e o compromisso assumido no Plano Nacional de Energia e Clima atual, a ocupação potencial do território com eólica e solar seria inferior a 3% das áreas menos sensíveis identificadas.

Assim, Portugal está novamente na vanguarda da transição energética com intensa participação feminina, mostrando ao mundo que é possível e como se pode fazer. Ficou curioso? Vá ao GeoPortal do LNEG e dê uma espreitadela.

(Nota: esta é a segunda coluna do Women in ESG Portugal para o ECO/Capital Verde, e por meio deste canal pretendemos trazer conteúdos ligados ao ESG de forma descomplicada para a sociedade, na voz de mulheres que detém expertise técnica na área. Para mais informações, aceda ao site: www.winesgpt.com)

  • Juliana Barbosa
  • Investigadora do LNEG e Doutora em Alterações Climáticas e Política de Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Nova de Lisboa

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