O PS definitivamente não se dá bem com entidades independentes

Agora é vez da Entidade das Contas do Tribunal Constitucional que criticou os gastos nas primárias do partido. Antes tinha sido o Banco de Portugal e o Conselho das Finanças Públicas.

Definitivamente não se dão bem. É uma espécie de água e azeite. E a reação do partido ao recente relatório da Entidade das Contas e Financiamento dos Partidos (ECFP) é no mínimo azeiteira.

A reação e a relação de confronto do Partido Socialista com tudo o que são entidades independentes está longe de ser um exemplo. Depois do Banco de Portugal e do Conselho das Finanças Públicas, agora foi a vez de o partido embirrar com o Tribunal Constitucional.

Esta semana, o jornal online Observador noticiou que a ECFP, um organismo do Tribunal Constitucional, analisou e não gostou do que viu nas contas do partido em 2014, ano em que se realizaram as primárias.

Primeiro, aponta a Entidade das Contas, o PS previa que as primárias custassem 328 mil euros, mas os custos totais passaram os 1,65 milhões de euros, cinco vezes mais do que o orçamentado. A segunda crítica do organismo do TC, ainda de acordo com o Observador, é que os locais de acesso público onde se realizaram as eleições como juntas de freguesia, escolas ou quartéis de bombeiros deviam, no entender dos auditores, ter cobrado ao PS pelo aluguer do espaço.

Perante estas críticas, qual foi a reação do dirigente socialista responsável pelas contas, Luís Patrão? “Até parece que a ECFP não gostou do sucesso e da dimensão que tiveram as primárias, quer financeiramente, quer de adesão.”

O partido até pode ter mil e uma razões para discordar das críticas da ECFP. Mas daí a partir logo para a tentativa de descredibilização do organismo é de uma violência democrática excessiva que devia ser evitada. A Entidade de Contas tem lá de gostar ou deixar de gostar do sucesso das primárias do PS? É patético.

Infelizmente não é a primeira vez que nas últimas semanas o partido ou o Governo embirram e se incompatibilizam com entidades independentes.

As críticas que o Executivo faz ao governador do Banco de Portugal são mais do que justas. Mas das duas uma; ou é consequente, aponta uma falha grave e pede a saída de Carlos Costa, ou mete a viola no saco. Esta situação caricata a que temos assistido nas últimas semanas, de vetar sucessivamente os nomes propostos para a administração do banco central (que está a funcionar com um quórum mínimo de cinco administradores), é igualmente patética.

No caso do Conselho das Finanças Públicas, o governador do Banco de Portugal e o presidente do Tribunal de Contas, tal como manda a lei, apresentaram uma proposta para substituir dois membros que estavam de saída, sendo que um dos nomes sugeridos era o da insuspeita Teresa Ter-Minassian e o outro era o de Luís Vitório, a quem o Governo torceu o nariz pela proximidade aos social-democratas e pela alegada falta de currículo em macroeconomia. Chumbou os dois.

A entidade liderada por Teodora Cardoso nasceu de um acordo entre o PS e PSD durante o período da troika para tentar credibilizar as contas públicas, e tem sido crítica em relação à política económica seguida por este Governo. E como paga, o Executivo decidiu boicotar politicamente a nomeação de novos membros.

Esta birra dos socialistas contra tudo o que são entidades independentes de que não gosta começa a ser ridícula e perigosa. Parafraseando Luís Patrão,”até parece que não gostam do sucesso das entidades independentes”.

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