BRANDS' ECO “Ignorar a transição energética é perder competitividade”

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  • 9 Maio 2023

Alcibíades Guedes, presidente do INEGI, revela, ao ECO, porque escolheu a transição energética como tema da IN Conference INEGI 2023 e porque é que a indústria não pode ficar para trás neste caminho.

O INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial está a organizar a IN Conference INEGI 2023, conferência que terá lugar dia 19 de maio, no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões. O tema da edição deste ano é “Transição Energética: Acelerar para Competir?” e dará palco a líderes da indústria e especialistas sobre a temática. As inscrições estão a decorrer até dia 12 de maio.

A transição energética é um tema central nas agendas política e económica de todos os países, e Portugal não é exceção. Por isso, urge entender como é que a indústria está a acompanhar esta transição, conhecer os exemplos de sucesso e provocar mudanças positivas na indústria portuguesa.

Em entrevista ao ECO, Alcibíades Paulo Guedes salienta a importância deste evento para a indústria portuguesa, apresenta alguns pontos cruciais para que esta transição aconteça de forma plena, e ainda revela qual o futuro que espera que o país tenha no setor energético.

O mote da IN Conference INEGI deste ano é ´Transição Energética: Acelerar para Competir?´. Porque considera este evento e este tema relevantes para a indústria portuguesa?

No INEGI, consideramos que a transição energética é, claramente, um dos maiores desafios que a indústria portuguesa enfrenta, a par dos temas relacionados com a transição digital, e é um dos pilares fundamentais para a competitividade. Nos últimos anos, a urgência desta transição acelerou devido a acontecimentos como a pandemia, a guerra, a crise climática e os seus impactos crescentes, e a própria segurança estratégica dos países, das regiões e das empresas. Portanto, se já tínhamos a noção da importância deste tema para a indústria, os últimos anos vieram mostrar ainda mais a sua relevância. O INEGI, como Centro de Tecnologia e Inovação que tem como missão contribuir para o desenvolvimento da indústria e da economia em geral, assumiu, por isso, este desafio de pôr à volta da mesa os vários atores de cada sistema e de cada indústria – quer fornecedores, quer clientes, quer os criadores e utilizadores das várias tecnologias – para proporcionarmos um momento de reflexão.

Como analisa a evolução da transição energética em Portugal? E que futuro prevê nos próximos anos?

Portugal tem tido um percurso bastante positivo pois tem vindo, de alguma forma, até a antecipar algumas metas europeias. Exemplo disso é termos uma elevada quota de produção de eletricidade de base renovável. Falo da questão da energia eólica, mas também, mais recentemente, do fecho das centrais de carvão e o fecho de uma refinaria.

Portugal tem sido reconhecido como um dos países que está a fazer este percurso mais atempadamente. Tenhamos como exemplo, voltando atrás uns anos, o peso da energia eólica e hídrica, onde Portugal sempre teve uma posição muito forte. Aliás, desde 1991 que o INEGI trabalha com os vários atores de energia eólica. Isto revela que o país em si está bem posicionado nesta área e, na nossa opinião, é importante que não perca velocidade, que mantenha o ritmo e que compreenda que este processo é irreversível. Sabemos que, de vez em quando, há dificuldades decorrentes dos contextos que surgem e que atrasam as mudanças. Ainda assim, achamos que a transição energética é irreversível e ignorar o problema é perder competitividade ao nível da indústria e ao nível do país.

Do ponto de vista tecnológico, o que é ainda necessário trabalhar para esta transição se tornar plena?

Cada vez que introduzimos novas componentes no mix energético – seja na lógica da produção, seja na lógica do consumo – há toda uma cadeia de valor que é preciso criar. A própria experiência da energia eólica mostrou isso. Isto é, foi preciso instalar o fabrico de aerogeradores, de pás e torres, criar as próprias ligações à rede. Mas a cadeia de valor não anda toda à mesma velocidade e há sempre questões tecnológicas a resolver.

Como lidar com isto? Enquanto país, e enquanto indústria, temos mais do que uma opção. Podemos escolher importar tudo ou desenvolver clusters à volta destas novas tecnologias. Assim foi o caso da eólica – o país acabou por conseguir desenvolver um certo cluster à volta dessa nova tecnologia. E é óbvio que, da perspetiva do país e da economia, é mais benéfico conseguirmos construir clusters. É uma forma de aumentar a competitividade e não só instalar capacidade, mas também fornecer soluções para outros países e para outras indústrias. Considero, por isso, que decidir se fazemos esta aposta é um dos aspetos mais fundamentais para o país.

Da perspetiva do INEGI, que é um instituto que trabalha a inovação de base científica e tecnológica, acreditamos que clusterizar competências e tecnologias será mais benéfico para o desenvolvimento do país a longo prazo e para o desenvolvimento da nossa economia. E, obviamente, ainda falta amadurecer alguns elos da cadeia de valor a nível tecnológico, por exemplo, em campos relacionados com o hidrogénio ou a hibridização dos parques eólicos.

Que suporte o INEGI dá à indústria para acelerar a transição energética?

Há muitos anos que trabalhamos as energias renováveis e a transição energética, nomeadamente através do desenvolvimento e a aplicação de tecnologias para a integração direta de energias renováveis em processos industriais. É de salientar que, desde que o instituo foi fundado, nunca trabalhou o tema das energias fósseis, sempre trabalhou nas renováveis. Começamos com a energia eólica, há mais de 30 anos, e hoje, naturalmente, acompanhamos a evolução do mix energético.

A introdução do vetor energético ligado ao hidrogénio, por exemplo, está a trazer desafios tecnológicos relevantes e estamos, neste momento, a ajudar a avaliar a viabilidade da introdução do H2 na rede de distribuição de gás. Temos, também, apoiado vários projetos de hibridização, juntando energia eólica com energia solar ou com hidrogénio. É, de facto, uma área em que estamos muito à vontade, até porque cerca de um quinto da nossa equipa, de um total de mais de 275 pessoas, trabalha em áreas ligadas à energia. Considero, por isso, que somos um dos centros de competência que, no país, está mais bem posicionado para apoiar a indústria nesse percurso.

De igual forma, paralelamente, temos vindo a apostar em áreas tecnológicas relacionadas com materiais, processos de fabrico, digitalização e economia circular. Áreas que complementam a nossa visão de um futuro sustentável de baixo carbono. Tudo isto apoiado por infraestruturas, quer de engenharia, quer laboratoriais, que nos permitem efetivamente apoiar as empresas.

Este evento tem-se realizado bienalmente. Qual a importância de uma conferência como a IN Conference INEGI para a indústria portuguesa?

Quando nós criamos o conceito da IN Conference, com a assinatura Inspiring Industry Inovation, foi precisamente para criar momentos de diálogo e reflexão. A ideia é que, de dois em dois anos, nos sentemos a olhar para os grandes desafios relacionados com a competitividade da indústria e do país. Trata-se de incentivar a reflexão sobre aquilo que, a cada momento, entendemos ser o desafio que estará mais à porta e que merece maior consciencialização entre empresas e restantes stakeholders. E é claro que nós estaremos sempre mais ligados à componente tecnológica desses desafios.

Escolhemos o tema desta edição e, entretanto, o evoluir da atualidade veio reforçar ainda mais a sua importância. Nesse aspeto, esta escolha foi feliz e esperamos que, da IN Conference, resultem reflexões de valor e que os atores da indústria saiam mais conscientes do que é relevante e do que não é. E que, mais uma vez, consigamos transformar este momento em inspiração para que as empresas inovem e apostem nas dimensões que lhes trazem mais competitividade. É este o mote.

Quais são as expectativas do INEGI para a conferência e qual é a mensagem que deseja transmitir aos participantes?

Acima de tudo, queremos que a conferência acrescente valor aos participantes. E queremos transmitir a ideia de que as empresas precisam de parar e refletir sobre como se vão adaptar à transição energética. Não podemos, por assim dizer, continuar a “empurrar o problema com a barriga”. A transição está a acelerar, há metas e prazos nacionais e europeus a cumprir e, no final de contas, todos ficaremos a perder se não o fizermos, ou se o fizermos de uma forma não planeada e não coordenada. Se não agirmos, corremos o risco de ver empresas a fechar e setores a abandonar a Europa, o que seria um passo de desindustrialização muito negativo para a nossa economia. Por isso, é preciso agir agora.

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