Draghi regressa para fazer “whatever it takes” na economia
O ex-presidente do Banco Central Europeu vai elaborar um relatório sobre a competitividade europeia. Draghi defende novas regras orçamentais para fazer face aos desafios.
“Whatever it takes”. Foi esta a mentalidade adotada na crise das dívidas soberanas para preservar a integridade do euro e é o que Ursula von der Leyen quer que se assuma outra vez para salvar a competitividade da Europa. Foi por isso que incumbiu Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) que cunhou a frase originalmente, de fazer um relatório sobre o futuro da competitividade europeia, marcando assim o regresso do político italiano aos palcos europeus.
O anúncio foi feito pela presidente da Comissão Europeia no discurso do Estado da União, onde sublinhou a importância de preservar e reforçar a competitividade da Europa face aos concorrentes, nomeadamente a China, a quem vai lançar uma investigação aos subsídios atribuídos na indústria dos veículos elétricos.
Depois de elencar os principais desafios económicos que a Europa enfrenta – relacionados com o mercado de trabalho, a inflação e o ambiente de negócios – avançou que pediu a Mario Draghi, “uma das grandes mentes económicas da Europa, que preparasse um relatório sobre o futuro da competitividade europeia”.
Isto num contexto em que existem três grandes desafios económicos com os quais a Europa se vê a braços atualmente: mercado de trabalho, inflação e ambiente de negócios.
O objetivo é “definir como a UE pode permanecer competitiva e ao mesmo tempo liderar transição limpa”, como se lê no resumo das principais iniciativas do discurso. O relatório deverá ser entregue nos próximos meses de junho ou julho, segundo sinalizou uma fonte próxima do assunto à Reuters, que adiantou também que Draghi estava “muito interessado” nestes assuntos.
Foi há cerca de um ano que Draghi deixou o cargo de primeiro-ministro de Itália, depois da coligação governamental entrar em crise com o boicote de um voto de confiança vinculado a um pacote social para lidar com o aumento da inflação.
Agora, surge o “ritorno“, como escreveu o jornal italiano La Repubblica na manchete do dia seguinte ao discurso do Estado da União. Na imprensa local, há mesmo quem alvitre que poderá ser candidato a presidente do Conselho Europeu, sendo que o mandato de Charles Michel termina em novembro do próximo ano.
Draghi ocupou o cargo de presidente do BCE de 2011 a 2019, um mandato que ficou marcado pela ação na crise das dívidas soberanas. Apesar de não ter assumido mais cargos europeus desde aí, privou com os líderes europeus enquanto primeiro-ministro italiano.
Após a saída do governo italiano, Draghi manteve-se longe dos jornais mas nos últimos tempos tinha começado a voltar a aparecer, tendo apelado a uma união orçamental da UE num artigo no The Economist. “Forjar uma união mais estreita acabará por revelar-se a única forma de proporcionar a segurança e a prosperidade que os cidadãos europeus desejam”, escreveu Draghi. Isto já que “as estratégias que garantiram a prosperidade e a segurança da Europa no passado – a dependência da América para a segurança, da China para as exportações e da Rússia para a energia – tornaram-se insuficientes, incertas ou inaceitáveis”, argumenta.
O ex-banqueiro central defende que as regras orçamentais atuais limitam a capacidade dos países atuarem de forma autónoma e apoia as novas regras apresentadas pela Comissão Europeia. Este artigo pode assim dar umas pistas para a posição e conclusões de Draghi no relatório encomendado por Ursula von der Leyen , sendo que aponta os empréstimos federais e a despesa como soluções.
A escolha do antigo primeiro-ministro italiano para a tarefa é vista como um sinal da parte de von der Leyen de que leva o assunto a sério e foi elogiada até pela primeira-ministra italiana, Georgia Meloni, que disse que Draghi era “um dos mais influentes italianos” e que esperava que fosse uma voz a proteger o país em Bruxelas.
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