2017 ao virar da esquina: os 2 trunfos e os 5 problemas da economia portuguesa

  • Marta Santos Silva
  • 4 Novembro 2016

O Brexit é uma ameaça, mas a instabilidade fiscal também pode fazer tremer a economia portuguesa. Mas há pontos favoráveis que podem acelerar o crescimento em 2017, diz o BBVA.

O BBVA continua pouco otimista para a economia portuguesa. Os economistas do banco espanhol preveem que a economia portuguesa vai continuar com um crescimento comedido, continuando a sua tendência de desaceleração. Há, diz, cinco fatores que podem pesar, mas vê dois pontos positivos. E há um bónus.

No seu relatório de research que contém já previsões para o crescimento registado nos últimos trimestres de 2016 e para 2017, o economista-chefe do BBVA para Espanha e Portugal, Miguel Cardoso, sublinha que Portugal tem tido uma recuperação mais lenta do que outras economias que estiveram em circunstâncias semelhantes, e prevê para 2017 que o país continue em maiores dificuldades do que a vizinha Espanha em dinamizar a economia e gerar um crescimento mais acelerado.

Para 2016, o BBVA mantém a sua previsão de um crescimento que se situe no 1%, e para 2017 à volta dos 1,3%. E o pessimismo que permanece relativamente a 2017 é motivado principalmente por um conjunto de cinco fatores adversos. São tanto fatores internos como externos. Por exemplo, o Brexit.

Cinco problemas

  • Brexit: A sombra da saída do Reino Unido da União Europeia também se vai fazer sentir no crescimento de Portugal, prevê o BBVA, mas nem mais nem menos do que no resto dos 27 ou do que em Espanha. Portugal, com as suas exportações de serviços e também as de bens a dependerem em cerca de 3% do PIB da procura britânica, encontra-se mais ou menos alinhado com a média da União Europeia. O BBVA prevê assim que, com o Brexit, a economia de Portugal (e a da Zona Euro) cresça cerca de três décimas menos do que o que aconteceria com o Reino Unido na UE.
  • Elevado endividamento privado: Em Portugal, as empresas não financeiras têm-se endividado cada vez mais. Enquanto em 2008 a dívida das empresas não financeiras em Portugal era semelhante à de Espanha em percentagem do PIB — 143% em Portugal e 127% em Espanha — no país vizinho esta teve tendência a diminuir, enquanto em Portugal aumentou para chegar aos 148% do PIB em 2016. É um fator que influencia negativamente a previsão do BBVA para o próximo ano.
  • Sistema financeiro debilitado: Os problemas da banca portuguesa baseiam-se em parte na dívida profunda, mas também na morosidade dos processos bancários, na baixa rentabilidade destes, e nos grandes custos operacionais.
  • Ajuste fiscal insuficiente: Acertar o défice continua a ser uma das grandes prioridades de Portugal, e o esforço ainda não acabou. A necessidade de continuar a fazer esforços orçamentais para atingir o objetivo de 2017 de um défice de 1,6% também puxa para baixo as previsões de crescimento económico em Portugal. Para atingir o objetivo será necessário um esforço estrutural de cerca de 0,6% do PIB.
  • Incerteza da política económica: Não saber o que vem aí em termos de políticas económicas deixa as empresas inseguras — investem menos e também pedem menos crédito, o que debilita o crescimento do país. Em Espanha, houve uma recuperação substancial entre o primeiro trimestre de 2015 e o de 2016 no que toca às novas operações de crédito a empresas não financeiras — uma recuperação que também foi sentida em Portugal mas que não foi suficiente para puxar os valores para um terreno seguro.

Dois trunfos

  • Preços do petróleo continuam baixos: A conjuntura internacional favorece Portugal aqui — o petróleo manter-se barato significa transportes mais baratos, o que favorece tanto a exportação como o turismo.
  • Política monetária favorável: O crédito está mais barato — um fator importante para favorecer o investimento no tecido produtivo português, realça o research do BBVA.

Bónus: um grande desafio

Como é que Portugal pode continuar a internacionalizar-se, diminuir o endividamento público e privado e, no geral, fazer crescer a economia? O BBVA oferece uma estratégia: apostar na digitalização.

Portugal está ainda abaixo da média europeia nos avanços da transformação digital, segundo o BBVA Research com base em dados do Eurostat e do INE. Trata-se de um investimento que poderia favorecer os vários setores da economia, e resultar na abertura de novos mercados, na introdução de novos bens e serviços na economia portuguesa e criar maior eficiência na organização e gestão de empresas.

Editado por Paulo Moutinho

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