Editorial

O último que apague a luz

A EDP vai perder até 300 milhões de euros, mas não deveríamos abrir garrafas de champanhe. O governo conseguiu alinhar acionistas estrangeiros em torno de Mexia e contra o Estado português.

Muitas garrafas de champanhe terão sido abertas nas últimas 24 horas depois do comunicado da EDP a reconhecer que os resultados líquidos de 2018 vão ser menores do que o previsto em 200 ou 300 milhões de euros. Então, isso não é positivo? Não é, não, porque a forma como o governo está a liderar uma guerra contra a elétrica, por razões políticas, financeiras e até pessoais, tem consequências muito negativas no investimento empresarial, especialmente o estrangeiro. É mesmo isso que o país precisa?

Bater na EDP é uma espécie de desporto nacional. É fácil, é barato e dá milhões. De receita e de votos. É assim que António Costa pensa, foi assim que definiu a sua estratégia. Por várias razões, uma delas trágica para o país: Não há mais ‘EDPs’, com lucros desta ordem de grandeza, que satisfaça os apetites orçamentais. Escolheu uma empresa que por várias razões, algumas delas da responsabilidade da própria, é mal-amada. Uma empresa que nos manda uma fatura pesada mensalmente, carregada de impostos escondidos, diga-se. E até do financiamento da RTP. E desmontar a demagogia e o circo em torno da empresa e do seu gestor? É difícil.

Este governo, talvez influenciado pelo BE e PCP, ou talvez não, detesta as grandes empresas. As que têm lucros mais elevados, mesmo que não sejam as mais rentáveis, coisa bem diferente porque, aqui, é preciso ter em conta o capital investido. À boleia da discussão sobre as rendas da energia, o governo tem sucessivamente atacado a operação da EDP e, consequentemente, os seus lucros. Dá votos no curto prazo, mas só pode dar maus resultados no longo prazo.

Se as rendas são excessivas, o caminho adequado seria renegociar contratos. Porque eles existem. Foi o Estado português que, anos atrás, quis passar de um mecanismo chamado CAE para outro, designado de CMEC. À data, ainda era um dos donos da empresa, assinou um contrato e, agora, quer revê-lo à força. Porque é preciso ir buscar o dinheiro onde ele está. Mas agora já não é acionista, já vendeu as suas ações, com o preço influenciado pelos ditos CMEC, ou Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual. As tais rendas.

Hoje, os acionistas da EDP são sobretudo estrangeiros, são chineses, são americanos, são europeus, são árabes. O que pensarão estes investidores que decidiram investir em Portugal em determinadas condições contratuais e, agora, vêm o governo, em nome do Estado, a mudar as regras? Costa e o governo conseguiram, aliás, outra coisa, fortalecer o papel de Mexia. O gestor está sob pressão, sim, do poder político. Mas está hoje mais reforçado do que há seis meses junto dos seus acionistas. Precisam dele mais do que nunca. É isso que explica o alinhamento da China Three Gorges no processo no tribunal arbitral contra o Estado português. Uma empresa pública chinesa contra o Estado português… Por falar nisso, está aí à porta a viagem do presidente da China a Portugal. Vai ser bonito.

Poderemos estar todos muito felizes com as mudanças de regras, com as poupanças forçadas impostas à EDP. A prazo, perderemos todos. Porque quando os acionistas da EDP decidem recorrer para tribunais internacionais, a relação de António Costa e António Mexia é irrelevante. O que conta é que há investidores estrangeiros a sentirem-se enganados pelo Estado português. E isso paga-se.

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