Crimes informáticos e concorrência

A pirataria digital é uma arma cada vez mais importante na globalização. E os processos que opõem blocos comerciais vão aumentar.

Na quinta-feira, o Departamento de Justiça norte-americano anunciou uma ação contra dois chineses ligados às forças de segurança, acusando-os de uma ação de pirataria informática à escala global para roubar propriedade intelectual. O assalto durava pelo menos desde 2014 e impactou dezenas de países em mercados como a banca, a biotecnologia, a eletrónica de consumo, as telecomunicações e a energia. O processo está longe de ser original e serve para recordar o impacto económico das fraudes digitais.

No ano passado, as estimativas mais conservadoras apontaram para 500 mil milhões de euros perdidos em falhas de segurança um pouco por todo o mundo, graças ao impacto em propriedade intelectual e em reservas monetárias. E, com a crescente dependência da informática e de sistemas de inteligência artificial para todos os negócios, esta situação só tende a piorar.

Estes ataques são cada vez mais frequentes e não se limitam à economia: as violações de informação pública sensível são frequentes, tendo sido revelado esta semana mais um assalto coordenado a partir de Pequim, desta vez tendo por alvo milhares de comunicações diplomáticas da União Europeia e das Nações Unidas. A situação é de tal forma corriqueira que um especialista em segurança disse à Wired que não é estranho que os chineses leiam todos os telegramas diplomáticos, estranho é que tenham sido apanhados a fazê-lo. E, para complicar as coisas, a empresa que detetou a falha de segurança fez o favor de enviar as comunicações diplomáticas para o New York Times, ganhando notoriedade com o golpe de marketing mas arriscando multas milionárias ao abrigo da lei de proteção de dados.

A situação em Portugal é caricata: os nossos atrasos na proteção digital são tantos que a surpresa não será que existam violações informáticas, a surpresa será que alguém dê por isso. O crónico desinvestimento em infraestruturas e a incapacidade de modernização das PME tem como consequência um tecido produtivo que não é capaz de desenvolver políticas eficazes de cibersegurança.

No que toca aos serviços públicos, é um mistério: ninguém sabe onde estão as falhas de segurança mas os especialistas vão repetindo de forma discreta que a vulnerabilidade é imensa. O Centro Nacional de Cibersegurança foi criado com uma dúzia de anos de atraso e o quadro nacional de referência ainda não existe, pelo que cada entidade pública atua de forma descoordenada – e a supervisão continua a ser feita pelos serviços militares, ao contrário do que se passa noutros países europeus.

Ler mais: Fred Kaplan, um jornalista norte-americano especializado em geopolítica e segurança, publicou no ano passado o livro Dark Territory, que é um texto fundamental para este tema. Nele é contada a história dos últimos trinta anos da ciberespionagem e da sua relação com os conflitos militares desse período, para além dos gabinetes secretos na National Security Agency onde se executam estas ações. O melhor elogio que se lhe pode fazer é que é um livro de investigação que se lê como um romance de espionagem.

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