“Cada vez mais, a função do CEO é tornar-se inútil”

Os líderes da Luz Saúde, Santander Portugal e Benfica juntaram-se num painel para discutir as preocupações dos gestores portugueses, à luz de um inquérito publicado pela consultora PwC.

Num mundo cada vez mais incerto, a função do CEO “é tornar-se inútil”. É ter “uma organização tão ágil e tão talentosa” que o que se tem de fazer é “não atrapalhar e deixar fluir”. A ideia foi defendida por Isabel Vaz, líder da Luz Saúde, num painel integrado no evento de apresentação do estudo CEO Survey Portugal 2019, elaborado pela PwC.

O inquérito, que envolveu 70 presidentes executivos portugueses, concluiu que o populismo é uma das principais ameaças percecionadas pelos presidentes executivos, mas também o aumento da carga fiscal, o excesso de regulação e o protecionismo. Estes aspetos da vida económica e social, que fogem ao controlo dos gestores, estão na origem dessa incerteza. E a líder da Luz Saúde não discorda.

“Incerteza, no meu caso, [é a] fiscalidade. Tenho um concorrente que, não olhando a custos, disse ‘vamos passar a 35 horas por semana’, sem reparar que estava a aumentar os ordenados em 12,5%”, afirmou a líder da Luz Saúde, numa crítica clara à medida do atual Governo. “Tenho problemas por ter um concorrente que tem um saco sem fundo, que são os nossos impostos, que não é racional”, frisou a gestora.

E exemplificou: “Sei que que a [minha concorrente] José de Mello Saúde não pode fazer certas coisas, e eles sabem que eu também não. Quando entra o Estado, entra uma irracionalidade que nos esmaga”, indicou Isabel Vaz, no evento que decorreu no Palácio Sottomayor, em Lisboa.

Da esquerda para a direita: António Costa (publisher do ECO), Isabel Vaz (CEO da Luz Saúde), Domingos Soares de Oliveira (CFO da Benfica SAD) e Pedro Castro e Almeida (CEO do Santander Portugal).Hugo Amaral/ECO

Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander Portugal, mostrou, por sua vez, uma atitude otimista, mas alertou que as empresas devem ser autoconscientes, porque há uma “sensação de que tudo está bem”.

O banqueiro justificou este ponto com o exemplo do aumento do peso das exportações no Produto Interno Bruto (PIB) português. “O número de empresas que começou a exportar aumentou muito”, reconheceu. “Mas o problema é que muitas exportam só para um país, que é Espanha”, alertou o gestor do Santander Portugal.

Da saúde para a banca, e depois para o desporto. Domingos Soares de Oliveira, administrador financeiro da Benfica SAD, também marcou presença no painel e considerou que as oportunidades em Portugal para um clube desportivo “são cada vez mais limitadas”. “Temos tentado identificar áreas de crescimento a nível nacional e elas são cada vez mais limitadas”, indicou. Por isso, o Benfica tem ido procurar oportunidades lá fora, em mercados como a China, os EUA e o Reino Unido.

“O nosso setor é especial. Primeiro, é um setor que cresce todos os anos. Segundo, a nossa concorrência é cada vez menos local e mais internacional. Disputamos os mesmos recursos em termos de patrocinadores que os nossos concorrentes europeus. Atacamos o mesmo dinheiro das competições europeias”, elencou. “Há muito tempo deixamos de ver o nosso mercado como o mercado português”, disse Soares de Oliveira.

Domingos Soares de Oliveira considerou, por fim, que é necessário que as organizações deem um empoderamento maior às equipas. “Todos os setores investem cada vez mais no digital, mas esse investimento tem de ser acompanhado por pessoas multidisciplinares e de uma mudança de paradigma na forma como agimos e responsabilizamos as equipas”, atirou. “Hoje temos um conjunto de equipas que têm o poder de decisão nas mãos deles”, indicou.

Um ponto que é tocado pelo estudo da PwC, perentório em concluir que os CEO portugueses já percecionam uma falta de competências essenciais no mercado de trabalho, sobretudo numa altura em que o talento em tecnologia é cada vez mais necessário. Mais de 30% dos entrevistados pela consultora apontou a falta de talento como uma ameaça aos negócios.

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