#Coolunch com Nuno Pinto de Magalhães: “Estou há 45 anos na SCC, trabalhei com 18 CEO e 6 acionistas. Como? Adaptando-me”

A família queria que fosse diplomata. Desde os anos 90 assumiu uma certa “diplomacia económica” ao ser o rosto da comunicação da SCC. Ao lado da carreira, corre a arte. A estética. E o Instagram.

"I think it is possible for ordinary people to choose to be extraordinary
Elon Musk”

No Café Príncipe Real com Nuno Pinto de Magalhães, Diretor de Comunicação e Relações Institucionais da SCC (Sociedade Central de Cervejas).

Não lhe perguntámos a idade. Porque mesmo a um homem pode não cair bem. Mas quando estamos com Nuno Pinto de Magalhães parece-nos sempre que é mais velho do que realmente é. E sim, é um elogio. Porque já viveu tantas vidas, já conheceu tanto mundo e — mesmo para quem o conhece há anos — tem sempre um episódio novo para contar. A observação diverte-o. “Obviamente que vou lendo — nunca em demasiado, que viajo –, o que tenho aprendido é com as pessoas. E se há coisa que aprendi com o Alberto da Ponte é nunca fechar a porta a uma conversa. Tenho ganho tanto na vida por ouvir mais uma opinião, uma crítica, um comentário. São as pessoas que me inspiram”, começa por nos dizer.

Para um amante e colecionador de tudo o que é belo, escolhemos propositadamente uma mesa com uma “vista esplendorosa” para a cidade de Lisboa, numa sala que convida à conversa e que celebra as heranças portuguesas espalhadas pelo mundo. Nuno Pinto de Magalhães acaba de chegar de uma curta viagem pelo sul de França e começamos por aí. “As viagens inspiram-me imenso, primeiro dão-me o contraste daquilo que nós somos, porque quando comparamos culturas, civilizações e países, eu conheço a minha realidade comparada, e depois sou um curioso. Vou sempre na perspetiva ‘Conhecem Portugal? O que sabem ou pensam dos portugueses?’. E as viagens influenciam depois a minha maneira de ser, a minha personalidade, a minha visão relativa das coisas e do nosso estado de evolução” explica-nos.

Mas são também esses momentos, confessa, que o levam a pensar o quanto “é bom regressar a casa, ao meu país, àquilo que é o meu ADN”. Ainda que a única coisa que mudaria, se voltasse atrás na carreira, teria sido a experiência de viver uns anos fora. “A minha educação foi talhada para ser diplomata, tinha muitos diplomatas na família e teria essa questão de ir viver para fora uns tempos, mas nunca se proporcionou…”.

Londres é uma segunda casa, passo sempre lá o meu aniversário. Já em Paris fico embasbacado com a beleza, mas contamina-me pouco. Os ingleses têm uma forma simpática de abordar quem vem de fora. Mas bom é viver num sítio e poder ir a outro, tudo o que nos permite essa liberdade de optar e poder contrastar é uma grande valia.

Nuno Pinto de Magalhães

Uma vida com mundo — ou uma pessoa com mundo — que lhe dá uma abertura natural para trabalhar num grupo internacional. “Ao contrário do que muita gente pensa, eu trabalho há mais de 20 anos com grupos estrangeiros. Dos anos 90 até 2000 com o sul-americano Bavaria da família Santo Domingo, estive muitas vezes na Colômbia e adorei, há muito para além daquele episódio triste do país, é extraordinário e com pessoas afáveis. Tivemos um grupo português que passado um ano vendeu à Scottish & Newcastle, trabalhei com escoceses até 2008, e depois é que entrou o Grupo Heineken” explica. E acrescenta: Se há marca de cerveja ou de água que encarna a Portugalidade, é a Sagres e a Luso, acionistas estrangeiros isso não é relevante para o consumidor, ele quer é saber das marcas”.

Às vezes questionam-me “então e as marcas”? As marcas seguem o seu percurso com a sua identidade, independente de onde está o capital. Esta história de se querer classificar as marcas de acordo com o acionista é um completo nonsense, nomeadamente quando as empresas estão cotadas em bolsa, como é o caso da Heineken.

Nuno Pinto de Magalhães

Os tempos hoje são de adaptação. “Os consumidores questionam a emoção, a relação com a marca, quais as histórias que estão por detrás, nomeadamente as novas gerações que estão muito bem informadas. Já não querem saber da campanha de publicidade, é uma geração preocupada com a sustentabilidade, com os códigos de valores e quer respostas hoje, não para amanhã” explica.

Ou, na verdade, os tempos sempre foram de adaptação. “Antigamente falava-se em multinacionais, depois passou-se a falar de grupos internacionais, hoje são multi-locais, é engraçado a fraseologia também se foi adaptando”, reflete: “a vida é exatamente adaptação ao mundo, aos novos desafios e pensamentos. Eu fiz tudo na Companhia, só não passei pela área financeira e pela produção, nunca me cansei, sempre me adaptei, nunca perdendo os meus valores profissionais, de homem, aqueles que considero corretos, os matriciais da minha personalidade”.

A experiência com o Alberto da Ponte foi muito interessante, era um homem notável, marcou-me totalmente, o que aprendi com ele foi extraordinário, eu não o conhecia e ficamos amigos. Era desafiante e exigente, de quem se gosta ou não. E teve a coragem, quando a Sagres atinge a liderança, de fazer um anúncio pela companhia.

Nuno Pinto de Magalhães

Isto na época que ficou conhecida na imprensa nacional como a “Guerra das Cervejas”, quando dois CEO — Pires de Lima na Unicer e Alberto da Ponte na Central — “colocaram o setor cervejeiro muito acima do seu valor real”, uma altura muito forte em lançamentos e inovações. Para Nuno Pinto de Magalhães, o Rugby, paixão que herdou do pai e transmitiu aos três filhos, talvez o ajude a “saber jogar em equipa, onde cada um com o seu papel e todos juntos a contribuírem para um resultado”; o tal “desporto de arruaceiros, jogado por Gentlemen’s”, como diz a brincar.

“Se o meu pai continuasse ligado ao Rugby e ao Comité Olímpico hoje tinha que ver as coisas de outra forma; por exemplo, ele era contra os patrocínios, então se me visse agora a patrocinar futebol ia ser crítico” diz , recordando logo de seguida o que aprendeu com Alberto da Ponte: “Ele, um sportinguista ferrenho, dizia-me de forma magistral: ‘Oh Nuno, se eu fosse o senhor Soares do Santos eu é que escolhia o clube que queria, não tinha que dar contas a ninguém. Mas eu não sou dono da Companhia, sou um gestor. O melhor para te explicar: Tenho o Sporting no coração mas tenho o Benfica na carteira’, como quem me diz quem me dá retorno é o Benfica” recorda.

Nuno Pinto de Magalhães é curiosamente um homem da comunicação mas que não está no Facebook, no Linkedin nem no Twitter. “Estou na rede mais jovem, o Instagram”. É onde faz a sua curadoria? “Exatamente, há uma coisa de que gosto muito que são antiguidades, hoje já não digo que sou colecionador, sou um amontoador. Fui negociador muitos anos mas, à medida que vou sabendo mais, mais fico com a sensação que sei menos. Questiono-me sou especialista de quê? Século XVI, em louças?”

No Instagram tenho as minhas viagens, a minha arte, é uma belíssima plataforma para colecionadores, para troca de informações, onde comunico com vários colecionadores. Eu gosto de tudo o que é bonito aos meus sentidos.

Nuno Pinto de Magalhães

E a arte corre ao lado da sua vida profissional, como costuma dizer. “As minhas primeiras compras foram com a minha semanada, com 16 ou 17 anos, já comprava caixas de metal, móveis pequenos, vidros”. E já na sobremesa conta-nos mais uma história: “o Cardeal Mazarin era um grande colecionador e quando morreu deixou um testamento a dizer ‘peço desculpa aos meus herdeiros pelo trabalho que vão ter’ e eu, no fundo, olho para os meus filhos e penso nisso” diz bem disposto, “muitas vezes eles perguntam-se, quanto é que isso vale, só para me provocar…”

A arte é um fenómeno de criação e também mexe com a sensibilidade das pessoas, procuro ter um sentido estético, na vida, no trabalho, estar rodeado de coisas bonitas e coisas estéticas. A estética faz parte ate da minha arrumação de cabeça.

Nuno Pinto de Magalhães

“Se a estética influencia o meu trabalho? Não tenho dúvidas, procuro sempre uma certa perfeição. Aprendi o double, triple check, as pessoas acham-me um chato, mas é isso que traz a tal perfeição” termina.

 

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