Bancos centrais estão a empurrar os investidores para o risco. FMI alerta para aumento das vulnerabilidades

A política monetária está a apoiar o crescimento económico, mas também a distorcer o mercado de ativos e a pressionar as margens financeiras da banca, de acordo com a análise do Fundo.

Os recuos e avanços na guerra comercial têm criado pressão nos mercados financeiros e sentimento empresarial, nos últimos seis meses, e têm sido os bancos centrais a acalmarem as crescentes preocupações com a economia global. Esta atuação tem, no entanto, um efeito perverso: os investidores têm de arriscar mais para ter retornos, o que cria um cenário de vulnerabilidades, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O prolongado período de condições financeiras acomodatícias têm empurrado os investidores para procurar retorno, criando um ambiente favorável à acumulação de vulnerabilidades“, alerta o FMI no Relatório de Estabilidade Financeira Global publicado esta quarta-feira.

Com a economia a desacelerar e a incerteza face ao impacto do conflito entre China e EUA a aumentar, os bancos centrais voltaram a mostrar-se dispostos a atuar. A Reserva Federal norte-americana — que estava a limpar da folha de balanço os ativos comprados durante a crise e já tinha subido juros — interrompeu a normalização para descer os juros duas vezes este ano. O Banco Central Europeu (BCE) — que tinha os juros ainda em mínimos históricos e ainda fazia reinvestimentos no programa de aquisição de ativos — desceu ainda mais os juros dos depósitos e relançou a compra líquida de dívida.

A mudança para um posicionamento mais dovish de política monetária por todo o mundo, que tem sido acompanhado por uma pronunciada quebra das yields de longo prazo, ajudaram a mitigar as preocupações“, refere o FMI, lembrando que o mercado antecipa que os juros vão manter-se baixos por mais tempo do que esperavam no início do ano, e que 15 biliões de dólares em obrigações têm atualmente yields negativas.

Risco da banca é “moderado”, mas avaliações estão em queda

Por um lado, “as yields mais baixas das obrigações dos governos contribuíram para aliviar as condições financeiras globais”, particularmente nos EUA e na Zona Euro, e para apoiar o crescimento económico. Por outro, “também encorajaram uma maior tomada de risco financeiro e acumulação de vulnerabilidades financeiras, colocando em risco o crescimento de médio prazo”.

Especialmente os investidores institucionais veem-se impelidos a arriscar mais para encontrar retornos, incluindo acumulando em carteira obrigações de emitentes com baixo rating. “A parcela de dívida da responsabilidade das empresas com pouca capacidade para cumprir as obrigações é já considerável em várias grandes economias e poderá chegar a níveis pós-crise financeira em caso de uma inversão económica global”, alerta o FMI.

No setor segurador, a instituição de Bretton Woods vê riscos “elevados”, enquanto no setor bancário considera serem “moderados”. Ainda assim, sublinha que as margens financeiras e as avaliações da banca estão a ser pressionados, em linha com os alertas feitos por vários bancos europeus e que tem levado a uma estratégia de forte investimento em dívida pública.

Taxas de juro mais baixas e o alisamento da curva de yields — a par de uma perspectiva económica moderada — tem levado as avaliações da banca nos mercados acionistas a caírem, com os investidores a esperarem que a compressão nas margens financeiras reduzam a rentabilidade das instituições”, aponta o FMI.

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