Snowden falou, mas ninguém o ouviu

Num evento em que temos de instalar uma app para entrar, o homem que virou os EUA ao contrário alertou os participantes do Web Summit que o "big brother" tecnológico chegou.

Nos 20 minutos em que Edward Snowden falou na Altice Arena, a ordem era “não se entra, não se sai”. A lotação estava esgotada, enquanto mais 10.000 pessoas esperavam à porta por uma oportunidade de aceder ao pavilhão.

Não foi a primeira vez que um whistleblower esteve no Web Summit, mas foi a estreia de Snowden. Fê-lo por videochamada, de Moscovo, onde está refugiado da Justiça dos EUA, depois de ter exposto um programa de vigilância em massa dos cidadãos, levado a cabo por uma agência governamental ao arrepio da Constituição.

Para quem já espreitou a recém-publicada autobiografia, Permanent Record, a “vinda” de Snowden ao Web Summit foi um bom complemento ao livro. Mas, mesmo para estes, algumas das declarações do norte-americano podem ter sido chocantes. Sobretudo, num evento de tecnologia.

Na Altice Arena, Snowden recordou aos milhares de participantes que, queiram ou não, estão a ser vigiados: “Há forma de saber que vocês estão aqui. Seja porque se ligaram ao Wi-Fi, ou porque os vossos telemóveis estão ligados à torre de telecomunicações.”

Isto num evento que obriga a ter uma app instalada para se entrar no recinto. E que importa para o sistema todos os contactos que temos no telemóvel e informação das nossas redes sociais.

“Em vez de pedirem às pessoas para confiarem em vocês e nos vossos serviços, façam com que as pessoas nem tenham de confiar em vocês”, pediu aos empreendedores. Uma quase súplica que dificilmente será tida em conta, numa era de big data e sensores em cada esquina.

Snowden até pode ser visto como “herói”, pelo menos no Web Summit — os muitos aplausos são a prova disso. Mas creio mesmo que ninguém o ouviu.

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