Os desafios das obrigações verdes

  • Nuno Esteves
  • 23 Novembro 2019

As obrigações verdes enfrentam neste momento algumas dores de crescimento, que podem impactar negativamente o seu crescimento nos anos vindouros.

Em 11 anos, as obrigações verdes passaram de um produto opaco e residual para uma massificação global, com as emissões previstas para este ano, de acordo com a Moody´s, a rondarem os 250 mil milhões de euros.

Este instrumento apresenta-se como uma forma de alinhar a estratégia das empresas com o desenvolvimento sustentável das economias locais, que permita a mitigação dos efeitos das alterações climáticas e a sustentabilidade dos ecossistemas ambientais.

No entanto, e apesar da onda verde que varre as economias desenvolvidas, as obrigações verdes enfrentam neste momento algumas dores de crescimento, que podem impactar negativamente o seu crescimento nos anos vindouros.

Se numa emissão de dívida clássica a qualidade creditícia origina-se em diversos fatores como a natureza do emitente, risco projeto ou risco país, numa emissão de obrigações verdes, a aprovação do financiamento ou as condições financeiras aprovadas dependem também do facto de se tratar de um projeto com benefícios ambientais, muitas vezes relacionado com a natureza das infraestruturas, como é o caso das energias renováveis. Ou seja, ao contrário do que acontece com as obrigações clássicas, nas obrigações verdes, o que está também a ser avaliado é o fim – a causa – não só a capacidade de uma entidade que emite dívida poder pagar de volta o empréstimo, ao qual está associado uma taxa de juro que varia de acordo com o risco-rentabilidade, mas também, a avaliação ambiental do projeto.

No entanto, e à semelhança das agências de rating institucionais, Moody´s, Fitch e Standard & Poors, existe uma miríade de agências de rating ambiental, social e de governação, que avaliam as emissões verdes e que delas fazem depender a avaliação e viabilidade dos projetos.

Um rating ambiental menos favorável vai gerar uma menor procura das obrigações e um incentivo para o emitente em procurar agências que atribuam rating mais favoráveis. Por outro lado, quanto melhor a classificação ambiental, menores os custos de financiamento. A inexistência de metodologias transversais a todas as agências ambientais origina enviesamentos e omissões nas suas avaliações, sendo importante a regulação neste setor, no sentido de permitir a comparabilidade dos projetos, legitimação dos métodos seguidos pelas agências de rating e a consequente correta avaliação do seu prémio de risco.

Por outro lado, a primeira vaga de projetos associados a energias renováveis seguiu a metodologia tradicional – projetos de dimensão elevada ligados a infraestruturas energéticas, como foi o caso das torres eólicas integradas na rede elétrica nacional, com projetos de financiamento standard e mais acessíveis em termos de estruturação.

Os projetos atuais estão mais distribuídos entre setores, geografias e indústrias, como é o caso de empresas de telecomunicações a produzirem a sua própria energia renovável. Estes novos modelos originam uma maior complexidade na avaliação dos projetos de investimento e de estruturação dos financiamentos, com as instituições financeiras a serem obrigadas a ajustar-se no sentido de acompanhar as oportunidades nesta área de negócio.

As obrigações verdes apresentam uma floresta de desafios para investidores, emitentes e instituições financeiras, permitindo a transição do paradigma económico, incorporando também, uma mensagem de oposição a todos os Trumps e Bolsonaros deste Mundo, com o seu legado a ir muito para além da divisão e devastação.

  • Nuno Esteves
  • Colunista

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