Os seguros na era da tecnologia

  • Manuel Tânger
  • 4 Dezembro 2019

Manuel Tânger, co-fundador da Beta-i, exemplifica, com realidades de hoje, um futuro em que as insurtechs auxiliam as seguradoras tradicionais a ficarem mais rápidas.

A vida e o comércio sempre tiveram os seus riscos e como tal, mecanismos para os reduzir, eliminar ou compensar foram sendo desenvolvidos em práticas como os seguros. Há registos de mecanismos de partilha de riscos tão antigos como os da China do 3º milénio AC onde carga era distribuída por vários navios que navegavam o Yangtzé para minimizar o impacto de um naufrágio. De facto, os instrumentos de proteção contra perdas financeiras devido a riscos espectáveis foram quase exclusivamente usados no âmbito do transporte de cargas por via marítima até à era mais moderna. Nas décadas antes da ascensão naval Portuguesa, era a República de Génova que dominava o comércio por via das trocas no mediterrâneo que concluíam a grande Rota da Seda que atravessava a Ásia e o Médio Oriente. É desses mesmos Genoveses o primeiro contrato segurador de que se tem registo e data de 1347.

As rotas navais Portuguesas tornaram de certa forma redundantes as frotas Genovesas do Mediterrâneo e esse acréscimo de comércio levou também os Portugueses a serem uma voz construtiva no desenvolvimento conceptual e prático dos seguros. Especialmente relevante é o primeiro tratado impresso sobre seguros ser escrito por um Português, Pedro de Santarém (Petrus Santerna), com o título de Tractatus assecurationibus et sponsionibus mercatorum (habitualmente traduzido apenas como “Tratado de seguros”), escrito em 1488 e publicado em 1552 em Latim na Antuérpia.

O grau de sofisticação e tipos de coberturas foram crescendo ao longo do tempo e o epicentro do pensamento dos seguros passou a ser Londres a partir do século XVIII. Hoje a indústria dos Seguros estima-se cobrir globalmente mais de 5 triliões de euros.

A adaptação da indústria dos seguros aos tempos tem sido uma constante e não menos verdade nesta era de tremendos avanços tecnológicos, sobretudo com as evoluções exponenciais na captura e tratamento de dados e aplicação de inteligência e capacidade de previsão com a inteligência artificial. Há, no entanto uma diferença crucial. O facto da velocidade de mudança ser tão grande que nem estruturas tão grandes e bem financiadas como as seguradoras modernas conseguirem desenvolver novos produtos e serviços baseados nestas novas tecnologias sem recorrer, e muito, a agentes externos. É a era das insurtech.

É por isso que num esforço de testar novas soluções e abordagens, a mais antiga seguradora Portuguesa, a Fidelidade, está a correr a 4ª edição do programa de inovação aberta com startups, o Protechting. Fá-lo de mãos dadas com a Fosun (grupo ao qual pertence a Fidelidade), a Luz Saúde (participada da Fidelidade) e o banco privado Alemão Hauck & Aufhäuser (H&A, participada da Fosun). Esta plataforma de inovação colaborativa é desenhada e gerida pela Beta-i.

Estas empresas reconhecem corretamente que para adotar inovações mais disruptivas e experimentais têm que ir além dos fornecedores mais tradicionais de tecnologia. 12 startups estão neste momento a testarem as suas soluções na forma de pilotos que serão apresentados antes do próximo verão. Das edições anteriores destaco apenas algumas para ilustrar. A Wall-i é uma startup portuguesa que identifica e reconhece pessoas por reconhecimento facial e permite à Fidelidade comunicar de forma mais relevante a quem está nas suas lojas ou lojas dos seus parceiros. A Copsonic é uma tecnologia francesa que permite comunicar entre aparelhos por ultrassons e até servir como password ultrassónica para aceder de forma segura aos serviços bancários da H&A ou da Fidelidade. A Amiko é um sistema integrado de inalação italiano que mede e comunica com precisão a quantidade de medicamento por inalação de pacientes, particularmente útil para algumas unidades da Luz Saúde.

Nos tempos incertos e voláteis de hoje, os seguros ganham ainda mais importância no garante da continuidade das nossas atividades, sejam elas comerciais ou pessoais. A sua digitalização torná-los-á mais justos e adequados aos nossos reais riscos individuais. São tempos interessantes estes.

  • Manuel Tânger
  • Co-fundador e Diretor de Inovação da Beta-i.

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