Green Economy Reboot

Se vivemos uma crise decorrente de fator ecológico – um vírus que surgiu devido a uma “invasão” do homem aos habitats dos animais – não podemos usar as teorias do passado para promover a recuperação.

A recuperação da economia no pós Covid tem de ser verde e inclusiva. Se não for a probabilidade de termos mais pandemias aumenta a curto prazo. E por isso, ou os economistas percebem isso agora, ou vamos desenvolver políticas de recuperação económica que podem levar a um aumento das pandemias, e consequentemente, a futuras perdas económicas ainda maiores.

Se vivemos uma crise nunca antes vista, decorrente de um fator ecológico – um vírus que surgiu devido a uma “invasão” do homem aos Habitats dos animais – então não podemos usar as teorias do passado para promover a recuperação. Devemos incluir um novo pensamento nessas teorias: queremos crescer e evitar pandemias destas no futuro.

Isto significa que, o Pacto Ecológico, o Green Deal, deve continuar a ser a politica de desenvolvimento económico da União Europeia, e que o investimento, que será necessário reforçar, deve continuar a promover: a) a transição para uma economia de baixo carbono, apoiando a requalificação de pessoas e setores para atividades com menores emissões de CO2; b) a aceleração para uma economia assente nas energias renováveis, na gestão eficiente dos recursos, no respeito pelo equilíbrio dos ecossistemas; e c) os empregos verdes e inclusivos.

Vários são os estudos que indicam que uma utilização eficiente da energia1, aumenta a chamada produtividade da energia tem impactes positivos no crescimento do PIB. O problema é que estes estudos não são lidos pelos economistas usuais, pois ligam a ciência e a termodinâmica com a economia, e os economistas não estão habituados a lidar com esta transversalidade. A boa noticia é que o Pacto Ecológico aposta no aumento da produtividade da energia, uma vez define uma estratégia de desenvolvimento económico assente em investimento, e logo, em emprego e inovação, que origine:

  • Uma descarbonização total do setor da energia até 2050

  • Renovação dos edifício introduzindo equipamento e material mais eficiente a nível energético

  • Um aumento das simbioses industriais e da reutilização dos bens na fase final da sua cadeia de valor

  • Diminuição de resíduos para aterro

  • Uma mobilidade partilhada e assente em veículos com emissões zero no seu uso

  • A incorporação da sustentabilidade no processo de decisão industrial

  • Uma diminuição dos impactes negativos na biodiversidade

  • Um sistema financeiro alinhado com a neutralidade carbónica

Sem dúvida que, para uma economia assente no consumo, a forma mais rápida de se recuperar é promover o consumo. A presente crise precisa de investimentos públicos no consumo, de forma que as famílias tenham rendimentos, e na produção, de forma a que as empresas consigam ter o capital necessário para recomeçar a atividade quando a economia começar a abrir gradualmente, sempre conscientes que, possivelmente, poderá existir uma outra paragem no outono ou inverno. No entanto, há que ser realista. A única forma de evitarmos pandemias futuras mais frequentes é incluirmos o ambiente no coração das políticas fiscais, monetárias, emprego, educação e de apoio ao desenvolvimento. Atualmente, quando todas estas políticas estão a ser revisitadas e com abertura de espírito para tal, a recuperação económica tem de vir por esta via.

Não sou obviamente a única economista a pensar assim. Muito menos uma de poucos cidadãos. Na realidade as “Cartas” a apelar a uma recuperação verde estão a crescer e vários sãos os agentes económicos a subscrever. É o caso da Carta recentemente lançada pelo Clube de Roma e a Carta inicialmente lançada pelos Ministros do Ambiente europeus, e que conta também assinaturas de CEOs de grandes empresas internacionais, instituições financeiras, universidades, ONGs, entre muitos outros.

Este tem de ser o caminho. O Covid 19 desenvolveu-se num mercado de animais selvagens na China. A origem deste mercado, foi a fome. Com a globalização, o vírus não fica apenas na comunidade que interage de perto com os animais selvagens, e salta para o mundo inteiro. Com as alterações climáticas e a subida das temperaturas são os países mais pobres que mais sofrerão e serão eles os que terão ainda menor acesso a alimentos. O que vai levar a uma maior invasão do Homem à natureza, i.e., aos animais selvagens para efeitos de alimentação.

Pode-se proibir os mercados de animais selvagens em todo o mundo. Mas se a fome vier novamente, acham que não vamos todos procurar por comida? Mesmo que seja selvagem? Ou vamos fechar para sempre as fronteiras? Este é um cenário muito possível. Por isso a recuperação, agora, tem de ser verde e inclusiva.

  • Economista especializada em sustainable and climate finance

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