O Coronavírus. A Economia Donut. E o city branding.

A pandemia levou Amesterdão a adotar o chamado modelo económico “doughnut”. Porque o vírus afetou-nos, mas também afetou as nossas cidades.

Tenho-me questionado sobre a forma como as cidades se vão adaptar aos novos tempos. Agora que, aos poucos, se vão reabrindo aos seus cidadãos. O city branding é dos temas que mais me apaixonam, e não tem só a ver com a forma como a cidade se vende aos olhos do mundo, tem muito a ver com o ser “liveable” para quem as habita, ou visita todos os dias, por exemplo para trabalhar. Ou seja, o garantir um sentimento de segurança, de inclusão, um ambiente sustentável, acesso a casas, transportes, educação, serviços de saúde, cultura… e podíamos continuar.

Foi notícia que Amesterdão na sequência da pandemia, adotou o modelo económico “doughnut”, ou seja, um donut é uma forma simples de ilustrar um sistema económico em que a cidade não permite que os seus habitantes caiam na pobreza, e que garante um ambiente sustentável. Enquanto ainda procura mecanismos de proteção dos seus habitantes contra a Cóvid-19, ao mesmo tempo, a cidade já está a trabalhar com a economista britânica Kate Raworth, no sentido de encontrar formas de reerguer a economia local, através de um modelo que não quer o crescimento económico a qualquer custo.

Ao que parece, é a primeira cidade do mundo a fazê-lo. E isso, só por si, torna-a um caso interessante em matéria de city branding. Se estes meses de isolamento nos deram algum espaço para repensarmos os nossos comportamentos relativamente à relação que temos com as marcas, sendo uma cidade uma marca, há aqui um primeiro movimento interessante por parte de Amesterdão. Uma marca territorial que percebeu que ao “reabrir” vai encontrar cidadãos diferentes e com novas motivações. E a acreditar no que os futuristas apontam, o que mais vamos querer é segurança, apoio e inspiração. Sem entrar em análises económicas, o modelo desenvolvido pela economista inglesa Kate Raworth, é uma forma simples de ilustrar objetivos complexos, que ao que parece a cidade quer atingir, um sistema em que todas as necessidades para vivermos bem são garantidas – em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, e sem esgotar os recursos ou comprometer o equilíbrio do planeta.

Amesterdão posiciona-se assim como pioneira para a era pós-cóvid com um modelo que, em declarações públicas, a cidade já admitiu não ser “uma visão hippie de mundo”.

A verdade é que tudo mudou e em tão curto espaço de tempo. E entre modelos económicos ou em projetos exploratórios ou ensaios criativos, vemos a intenção, o propósito e a vontade de as cidades mudarem connosco. Curiosamente, no mesmo país, o coletivo de arquitetos Shift Architecture Urbanism de Roterdão, propôs ainda durante a quarentena uma solução para o comércio local, e que pode também funcionar agora que voltamos a circular nas cidades, sempre com o sentimento de segurança presente. Um projeto que em micro-escala permite comprar alimentos frescos, locais e saudáveis e que melhor do que explicar, fica a sugestão de fim de semana de o explorar no aqui no próprio site do coletivo de arquitetos.

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