Adam Smith e o Ambiente

O equilíbrio e a variedade de animais e plantas existentes no mundo – a biodiversidade – constitui uma das peças basilares do funcionamento da nossa economia e da nossa saúde.

A biodiversidade é constituída por vários ecossistemas compostos por organismos complexos vivos que vivem num determinado ambiente físico, estando todos esses organismos em interação e, como tal, numa situação de interdependência. A meu ver, a Economia deveria ser vista como a diversidade das atividades económicas, sendo estas constituídas por ecossistemas, organismos complexos vivos (o ser humano, animais e plantas) que vivem num determinado ambiente físico (fábrica, loja, escritório, mar, monte), estando todos estes organismos em interação e, como tal, interdependentes. Na realidade uma Economia tem muito do mecanismo da Biodiversidade, e as crises económicas têm muito de “desequilíbrios dos ecossistemas”. A Economia deveria aprender bastante com a dinâmica, equilíbrio e desequilíbrio dos ecossistemas, até porque os ecossistemas naturais são a base do funcionamento dos ecossistemas económicos.

Segundo a Comissão Europeia, mais de metade do PIB mundial depende da natureza e dos serviços por ela prestados, estando muito dependentes dessa natureza três dos maiores setores económicos: a construção, a agricultura e a produção de alimentos e bebidas. Vale a pena repetir: a perda de biodiversidade ameaça os nossos sistemas alimentares, colocando em risco a segurança alimentar e a nutrição. Por exemplo, mais de 75 % dos tipos de culturas alimentares mundiais dependem da polinização animal. Ou seja, se não protegermos a natureza e os serviços que esta nos dá, e ainda são dados, podemos estar a colocar em causa a alimentação Humana na Terra. Posto de outra forma, hoje já mais compreendida por todos, se não protegermos a natureza podemos estar a colocar em causa a saúde Humana na Terra.

Temos nós conseguido proteger a diversidade da natureza? Na Estratégia Europeia para A Biodiversidade 2030, lê-se que “As cinco principais causas diretas da perda de biodiversidade — alterações na utilização das terras e do mar, sobre-exploração, alterações climáticas, poluição e espécies exóticas invasoras — estão a provocar o rápido desaparecimento da natureza. Vemos as mudanças na nossa vida quotidiana: quarteirões de betão a surgir em espaços verdes, a natureza selvagem a desaparecer à frente dos nossos olhos e mais espécies em risco de extinção do que em qualquer outro momento da história da humanidade.” O documento informa-nos também que “nas últimas quatro décadas, as populações mundiais de espécies selvagens diminuíram 60 % em resultado das atividades humanas. Quase três quartos da superfície da Terra foram alterados, reduzindo a natureza a espaços cada vez mais pequenos do planeta.”

A Comissão Europeia afirma que “a perda de biodiversidade e o colapso dos ecossistemas estão entre as maiores ameaças que a humanidade enfrenta na próxima década. Estima-se que, entre 1997 e 2011, o mundo tenha perdido 3,5 a 18,5 biliões de EUR por ano em serviços dos ecossistemas devido a alterações da cobertura do solo e 5,5 a 10,5 biliões de EUR por ano em resultado da degradação dos solos. Em concreto, a perda de biodiversidade resulta na redução do rendimento das culturas e das capturas de peixe, em maiores perdas económicas decorrentes de inundações e outras catástrofes e na perda de novas fontes potenciais de medicamentos”.

Os defensores da causa ambiental, como eu, procuram sempre entidades institucionais para citar os cálculos associados às perdas e potenciais ganhos que um tema ambiental pode provocar na economia. A grande maioria dos agentes económicos não quer saber. É evidente este nível de ignorância e de ausência de consciência. Se não, não estaríamos na situação em que estamos, com uma diminuição de 60% das espécies selvagens devido à nossa atividade económica e com um aumento já de 1,5ºC na zona mediterrânica. Infelizmente o mercado não vai lá sozinho.

Sendo eu defensora da abordagem à sociedade de Adam Smith, acredito que ele, hoje, teria incluído nas funções do estado para além da saúde, defesa e educação, o ambiente.

É por isso que fico com alguma esperança que a Comissão Europeia, tão focada na recuperação verde das economias, consiga dar passos significativos, implementado o que está definido na estratégia e plano de ação para a Biodiversidade na Europa, já para 2021 com:

  • A promoção de uma iniciativa internacional relativa à contabilidade do capital natural
  • A criação de métodos, critérios e normas para descrever as características essenciais da biodiversidade, os seus serviços, valores e utilização sustentável, incluindo a medição da pegada ambiental de produtos e organizações, nomeadamente através de abordagens do ciclo de vida e da contabilidade do capital natural
  • O desenvolvimento de uma nova iniciativa de governo societário sustentável, incidindo sobre os direitos humanos e os deveres ambientais de cuidado e de diligência obrigatória nas cadeias de valor económico
  • A identificação de medidas para evitar ou minimizar a colocação de produtos associados à desflorestação ou à degradação florestal no mercado da EU
  • O apoio à criação de um movimento de empresas da UE em prol da biodiversidade
  • A inclusão da Biodiversidade na Taxonomia do financiamento sustentável
  • O desenvolvimento do plano de ação para a agricultura biológica para 2021-2026

Quando o mercado não se preocupa com o equilíbrio futuro, e não tem visão de longo prazo, então…. que venha a obrigatoriedade …

  • Economista especializada em sustainable and climate finance

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