Cool Hunter Favela. O Brasil é mais do que Bolsonaro

Do Brasil chegam ideias de como as comunidades estão a dar às marcas uma lição de resiliência face ao Cóvid-19. Num momento de protagonismo criativo da juventude.

Lydia Caldana, futurista e fundadora da @future.resources lançou esta semana uma análise que nos leva a conhecer algumas das formas como as comunidades brasileiras estão a fazer o seu próprio caminho face à pandemia – quando o governo não corresponde às suas expectativas. Diz-nos a futuristas que as marcas devem estar atentas. E porquê?

Segundo dados da Data Favela e Locomotiva, com mais de 13,6 milhões de pessoas a viverem em bairros de lata, o Cóvid-19 veio amplificar as desigualdades no país, enquanto deste lado do atlântico o que se sente é que o Governo ainda não encontrou uma estratégia para fazer face ao problema de saúde pública.

É neste vazio de informação que a futurista diz haver espaço para as marcas fazerem mais pelos seus consumidores. Sabemos que o momento é o de Marcas cívicas – no mundo em geral, mas também num país onde cerca de 80% da população acredita que as marcas são responsáveis pela sua proteção durante esta crise. Há aqui níveis de confiança nas marcas muito altos, e as empresas não deviam olhar para o lado. Tal como vimos em Portugal, o grupo de bebidas grupo AB-Imbev adaptou as suas cervejeiras em centros de produção de gel desinfetante; o Burger King já fez donativos ao sistema de saúde público do Brasil, mas para as comunidades, com uma probabilidade de morrer 10 vezes superior ao resto da população, é pouco…

Nasce aquilo a que a futurista chama de Cultura de Resiliência, através de soluções criativas e de empreendedorismo. E dá-nos exemplos: O Artista Tiago Lopo, em colaboração com Lá da Favelinha, angariou fundos para famílias na região Aglomerado da Serra; o coletivo de arte feminina Tarantinas está a usar os edifícios como tela para protestos contra a atual administração, mas também como fonte de informação. E há projetos como o Entrega.li, um site de entrega de microempresas em quatro cidades do nordeste, que não cobram taxas, para incentivar as compras locais; já o Coletivo Eco_Nomia faz permutas on-line com atividades baseadas em competências.

Ao retrato feito por Lydia Caldana que foge aos horários nobres, junto a minha descoberta recente – O projeto Cool Hunting Favela, um laboratório de pesquisa etnográfica, que procura identificar e descodificar tendências e movimentos sociais. Fundado por Rafaela Pinah que assina esta semana o “Report Juventude negra, protagonismo criativo”. E é verdade, no Brasil como em quase todo o mundo, as zonas mais periféricas são centros de inovação, estética, cultura, onde na verdade as “coisas” – ou seja, as tendências nascem.

Com o hastag #TakeOverRafaPinah é pesquisar e encontrar esse protagonismo criativo, esse Brasil que existe para além das manchetes com Bolsonaro. O Brasil criativo de Hanayrá Negreiros @hana.yra, que escreve para a Elle Brasil; de Nathalia Grilo Cipriano @preta.velha, historiadora e diretora da revista DiCheiro, de Carollina Lauriano @carollinalauriano, curadora que aborda os desafios de jovens mulheres artistas no mercado da arte.

Eu tenho o resto do fim de semana ocupado, entre tantas visões que podem acrescentar tanto à minha visão. E deixo para reflexão uma sugestão de Pinah no seu relatório: ” É urgente que marcas e negócios de Moda superem o medo de serem criticadas ou desprestigiadas. Porque esse medo não tem a ver só com vergonha ele é também um reflexo do nosso comodismo. É muito cómodo ocupar espaços centrais e privilegiados e não falar sobre certos assuntos. É muito cómodo tentar “apaziguar” um conflito que vira e mexe é silenciado ao invés de tentar solucioná-lo pra valer”.

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