O jornalismo que queremos

O jornalismo está em crise? Não, o país é que está em crise e também atinge os jornalistas. Ao mesmo tempo, há oportunidades que nunca existiram e, no final do dia, contarão as melhores notícias.

O ECO tem pouco mais de três meses de vida, nasceu por várias razões, a primeira das quais a vontade de fazer jornalismo, de cumprir uma função de serviço público. Estive no congresso dos jornalistas e vi e ouvi uma geração de estudantes e jovens jornalistas que também partilham desta vontade, de querer fazer. Há muitas formas de fazer jornalismo, foram apresentados novos projetos interessantes e que refletem várias realidades, mas todos com a mesma convicção, a de que estão a acrescentar alguma coisa aos meios de comunicação social que já existem. Os leitores decidirão.

O jornalismo está em crise? Não, o país é que está em crise, a precariedade que, infelizmente, ainda existe no jornalismo é também uma realidade noutras profissões. Cito apenas a dos professores, poderia escolher outras.

O que é que temos? Temos alunos mais bem preparados, temos mais leitores do que nunca, temos ferramentas para fazermos melhor jornalismo, somos alvo de um escrutínio que nunca existiu, e isso obriga a melhor jornalismo.

O que não temos? Sim, não podemos fazer jornalismo sem a independência financeira das empresas em que trabalhamos, sem as condições mínimas que permitam às redações fazer jornalismo. Se queremos vender jornalismo, temos de fazer jornalismo, ouvi um dia. E subscrevo.

As receitas mudaram de sítio, estão a mudar. Do papel para o online, dos meios de comunicação social para as operadoras e para as empresas como a Google e Facebook ou LinkdIn. Os leitores estão a pagar a distribuição de notícias através dos contratos que têm com as operadoras, para aceder à televisão ou à internet, a que lhes dá acesso às redes sociais. Estão a pagar muito menos às empresas jornalísticas. Esse equilíbrio está por fazer e tem de ser encontrado, com o nosso envolvimento.

Não vai ser fácil, não é fácil, mas o caminho faz-se caminhado, com melhor jornalismo, que torne evidente para os leitores – e para a distribuição – as diferenças em relação ao jornalismo do cidadão (o que é isto?), as toneladas de ‘informação’ indiferenciada nas redes sociais que não obedece a princípios éticos e deontológicos, a regras profissionais de contraditório, à verificação. Fake news? Sempre existiram, não tinham era a repercussão e alcance que têm hoje.

A sustentabilidade financeira é também fundamental para investirmos mais em tecnologia, na contratação de programadores. O jornalismo de hoje também depende disso, não tenhamos medo das palavras. Gostaria de ter mais programadores no ECO para desenvolver todos os produtos que queremos, gostaria de ter condições financeiras para ter formas diferenciadas de chegar aos leitores. Vejam o que se faz nos grandes jornais internacionais ou em novos projetos jornalísticos online.

Há também responsabilidades enormes dos jornalistas, das direções, sim, no jornalismo que se faz. É mais difícil não alinhar no que está na moda e seguir um caminho próprio, é arriscado porque pode correr mal. É sempre mais fácil fazer o que todos estão a fazer, é mais difícil, demora mais tempo, seguir outro caminho.

Um dos convidados internacionais do Congresso foi um jornalista do Boston Globe, o Mike Rezendes, prémio Pulitzer por causa da investigação que fez sobre a pedofilia na igreja católica nos EUA. O que disse? A equipa de investigação cresceu, a redação global do Boston Globe caiu para metade nos últimos anos. Ou seja, houve uma escolha. E disse também que a investigação é rentável, traz leitores e receita.

Desculpem-me os que vivem situações difíceis, conheço ótimos profissionais que estão fora da profissão e não por opção, conheço ótimos profissionais sem emprego. Também preciso de acrescentar que esta realidade existe noutras profissões. Desculpem-me, mas estou otimista.

Há caminhos, cada um deve seguir o seu, cada jornalista, cada meio de comunicação social, aprender com o que está a ser feito pelos concorrentes, aqui ao lado ou do outro lado do mundo.
No final do dia, o que fará a diferença? As melhores notícias, as melhores reportagens e investigação, as melhores entrevistas. E isso só os jornalistas podem garantir.

PS: Já se conhecem as conclusões do congresso dos jornalistas. São, em primeira linha, conclusões laborais. Importantes, sim, mas centradas sobretudo na dimensão laboral e a olhar menos do que gostaria para a dimensão editorial e de negócio – ambas com enorme peso da tecnologia – que hoje nos atinge.

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