Revolução 4.0: ressignificando o trabalho

  • Daniel Schwebel
  • 17 Dezembro 2020

Graças à pandemia, a variável “distância” deixou de ter impacto e é neste contexto que estamos a viver: a Revolução 4.0 no mundo do trabalho.

O mercado de trabalho transforma-se intensamente e molda-se a cada revolução industrial. Basta observar que, na metade do século XVIII, os campos e a atividade agrícola deram espaço às fábricas, as quais se tornaram os principais espaços de produção em massa. Já na 3.ª Revolução Industrial – depois da Segunda Guerra Mundial -, o mundo foi apresentado às grandes multinacionais que conhecemos até hoje. Desde então, vivemos profundas transformações aceleradas pela tecnologia.

Nos dias de hoje, vivemos outra revolução. Uma revolução acelerada pela pandemia e que não foi iniciada pelas indústrias, mas sim pelos profissionais que por sua vez estão descobrindo que, para trabalhar, nem sempre é necessário estar em um escritório. As relações físicas no âmbito laboral são intangíveis perto do conhecimento agregado do profissional. Graças à pandemia, a variável “distância” deixou de ter impacto e é neste contexto que estamos a viver: a Revolução 4.0 no mundo do trabalho.

As habilidades comportamentais, ou “soft skills”, tornaram-se mais importantes e valorizadas do que nunca. Habilidades socioemocionais, criatividade, adaptabilidade e resiliência, autogestão e intraempreendedorismo são características do profissional capaz de compreender o mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) em que vivemos, no qual é impossível até mesmo para as empresas prever e preparar-se para tudo o que irá acontecer, e torna o capital humano um dos recursos mais importantes para as organizações, para que se adaptem e procurem soluções inovadoras independentemente do contexto.

O trabalho deixou de ser o local para onde vamos e foi ressignificado. Explico: acordar cedo diariamente, passar horas no trânsito para se deslocar até o escritório, inserir a impressão digital com tolerância máxima de 5 minutos e trabalhar 8 horas completas com 1 hora de almoço deixou de fazer sentido para muitos profissionais, mesmo que essa descrição de rotina ainda seja o significado de “ir ao trabalho” para muitos.

O objetivo comum é que todas as empresas precisam de atrair e reter os melhores talentos para si, mas limitam-se aos melhores profissionais que estão a um pequeno raio de distância, até 15 km do seu escritório. Já em empresas 100% remotas ou híbridas – que entendem o trabalho remoto como uma oportunidade para encontrar os melhores profissionais do mundo – essa fronteira regional não existe, porque não importa onde você está, mas sim o que você é capaz de fazer. Por esse motivo, daqui em diante, as empresas que não conseguirem ter essa mudança de mindset estarão a competir a nível internacional por talentos locais.

O que vimos quase que imediatamente no início da pandemia foi um grande aumento no número de profissionais do mundo inteiro trabalhando em suas casas. Quantos deles conseguirão descontinuar esse hábito? Ou melhor, quantos irão querer voltar para a antiga (e já ultrapassada) maneira de trabalhar? Ainda que ninguém tenha esta resposta, pesquisas mostram que profissionais que podem escolher onde trabalhar tendem a produzir mais, e a produtividade é apenas uma das vantagens do trabalho remoto.

De facto, já se falava em trabalho remoto como tendência muito antes da pandemia, pela flexibilidade e liberdade que proporciona, muito associadas ao estilo de vida e propósitos dos millennials, principalmente. O coronavírus foi um catalisador, por obrigar as empresas a concretizar essa mudança que elas vinham adiando há certo tempo, porque muitos gestores ainda não acreditavam na ideia de que é possível liderar uma equipa à distância com ferramentas e comunicação eficientes.

Como resultado desta experiência global de trabalho remoto, é possível sentir uma mudança mais permanente face ao trabalho à distância porque os profissionais estão a alterar os seus hábitos e a descobrir as vantagens de trabalhar num ambiente mais confortável e não perder tempo no trânsito, por exemplo.

No mundo do trabalho pós-pandemia, escolher em que empresa trabalhar implicará novos fatores, além de questões muito mais profundas sobre a nossa própria vida: já parou para pensar o que o trabalho significa para si? E se pudesse escolher, como gostaria de trabalhar? O trabalho precisa de ter um alto grau de liberdade. Porque se não tivermos liberdade e autonomia, como seremos o melhor de nós mesmos?

Ainda não podemos prever como será o trabalho pós-pandemia, quantos profissionais e empresas irão aderir ao trabalho remoto definitivamente, mas a tendência é que esta resposta seja dada pelos próprios profissionais que, uma vez adaptados à rotina e à flexibilidade do trabalho remoto, não desejarão mais relacionar o seu trabalho com o ambiente do escritório, mas sim consigo mesmos, já que o trabalho deixou de ser o lugar para onde vamos para ser o que fazemos.

*Daniel Schwebel é country manager da Workana no Brasil.

  • Daniel Schwebel

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