A TINA voltou

  • Diogo Prates
  • 20 Janeiro 2021

A TINA está de volta, agora pela mão da esquerda, não há desculpa para que não se tivesse posto em acção um plano que englobasse o sector privado e social.

TINA – There Is No Alternative. O acrónimo eternizado por Margaret Thatcher, referindo-se à inexistência de alternativa ao capitalismo, que englobava na sua visão, concorrência justa e mercado-livre. Tatcher passou a ser apelidada de “Tina” pelos seus adversários políticos, nomeadamente os socialistas que tentaram, sem sucesso diga-se, apresentar uma suposta alternativa. A filha do merceeiro de Gratham, Lincolnshire, pequena cidade a meio caminho entre Londres e Manchester, mudou a face de um Reino Unido perdido, destinado à insignificância internacional e ao declínio socioeconómico.

A TINA voltou em 2016, Portugal estava então sob um programa de resgate, o governo liderado por Pedro Passos Coelho percebeu que não existia, na altura, alternativa a uma política que não passasse por uma contenção de despesa; salários e pensões foram sacrificados, fizeram-se algumas reformas, como a reforma das freguesias e o fim dos governos civis. Naturalmente, a esquerda ripostou, a austeridade não era inevitável, foi uma opção do governo neoliberal de direita diminuir salários e degradar o Serviço Nacional de Saúde e a escola pública, tudo em nome do défice e das contas certas.

Nas eleições de 2016, e apesar de a coligação Portugal à Frente composta por PSD/CDS-PP ter ficado em primeiro lugar, foi o PS apoiado no parlamento por PCP e BE a formar governo, prometendo maior investimento no Serviço Nacional de Saúde, por exemplo. Acontece que esse maior investimento não se verificou, a despesa do Estado em saúde em percentagem em PIB diminuiu de 4.7% em 2015 para 4.3% em 2018, ficando-se pelos 4.5% em 2019.

É por esta razão que não me posso conformar com a actual ordem da Ministra da Saúde de suspender cirurgias oncológicas prioritárias, o que levará, muito provavelmente, à ultrapassagem do tempo máximo de cirurgia (45 dias) para estes doentes. Estará o governo capaz de confirmar cabalmente que o IPO de Lisboa, Porto e Coimbra serão capazes de assegurar estas cirurgias no tempo previsto? Infelizmente duvido. Não me posso resignar que o Serviço Nacional de Saúde não seja capaz de dar resposta a estes doentes e que, os governantes que não investiram no SNS, não lhes permitam o tratamento noutras unidades de saúde, sejam estas privadas ou do sector social, por pura cegueira ideológica.

A TINA está de volta, agora pela mão da esquerda. Dizem-nos que não há alternativa, todo o SNS tem de estar exclusivamente dedicado a tratar doentes Covid, todos os outros terão de esperar, mesmo os oncológicos. Na verdade, existia alternativa, não é preciso ser médico para saber que no inverno a pressão nas urgências hospitalares aumenta substancialmente, e este ano por maioria de razão, aumentaria ainda mais. Não há desculpa para que não se tivesse posto em acção um plano que englobasse o sector privado e social, que permitisse dar resposta ao aumento da afluência às urgências e, ao mesmo tempo, permitisse manter as cirurgias e consultas programadas.

Quando se fala em aumento da mortalidade de doentes não-Covid como dano colateral da pandemia é imperativo que se compreenda que não é por escolha dos decisores políticos, ou da gestão hospitalar ou dos próprios médicos”, refere Gustavo Carona, médico intensivista. Lamento discordar do Gustavo. Há alternativa, mas não existe vontade.

  • Diogo Prates
  • Colunista convidado

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