9 to 5 ever again?

  • Susana Santos Valente
  • 19 Março 2021

Em 2020, e em pouco mais de uma semana, a pandemia e o confinamento obrigaram-nos a adaptar métodos, a criar condições de trabalho, a reinventar contactos e a revisitar a forma de comunicar.

Numa altura em que contabilizamos quase um ano de confinamento, com mais ou menos liberdade, mais ou menos teletrabalho, telescola, tele reuniões e cafés com ou sem postigo, importa refletir sobre o modelo de trabalho que tínhamos na pré pandemia, o que construímos e o que teremos. Praticamos uma advocacia de proximidade. De contacto direto com o cliente, de reuniões presenciais, de almoços de trabalho, brainstorming e escritórios cheios. Em 2020, e em pouco mais de uma semana (nalguns casos menos), a pandemia e o confinamento obrigaram-nos a adaptar métodos, a criar condições de trabalho, a reinventar contactos e a revisitar a forma de comunicar. Descobrimos o zoom e o teams. Percebemos que não existe número máximo de participantes ou localizações para uma reunião. Reduzimos deslocações. Demos mais valor à pontualidade. Habituámo-nos a conviver com o interior das casas de cada um e até com filhos e birras. Flexibilizámos a hora de almoço, a hora de jantar e os fins-de-semana. Deixámos escritórios vazios. Superámos obstáculos. Ficámos mais condescendentes. Misturámos a vida pessoal com a profissional, numa só. E quando pudermos voltar? Voltaremos ao modelo pré-covid? Estou convicta que não, até porque esse modelo foi ultrapassado pelas conquistas para que este enorme e repentino esforço nos empurrou. Aprendemos que nem todo o trabalho implica presença no escritório e que nem todas as reuniões têm que ser presenciais. E perante isso teremos necessariamente que repensar necessidades, estruturas, localizações, investimentos e rotinas profissionais e pessoais tidas como certas. Para responder com eficácia precisamos dos escritórios que temos, ou o futuro é inevitavelmente o da aposta e investimento no on-line office? A partilha de postos de trabalho em função das necessidades é já uma realidade em muitas consultoras e multinacionais, e o regresso pós pandemia alargá-la-á certamente a outras áreas. E pessoalmente? Ganhamos no equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal, mas a equação não é certamente sempre positiva. O regime WFH – working from home, pressupõe, ainda que implicitamente, uma disponibilidade 24/7, o que não só se revela nefasto do ponto de vista da separação da vida pessoal da profissional, como da própria gestão de ambas. Exigirá definição de regras e respeito pelas mesmas. Mas esta não é certamente a única desvantagem. Os escritórios, tal qual os conhecemos, vivem e crescem também sob o espírito de equipa, entreajuda, camaradagem e amizade. Com a ausência, ainda que temporária, de parte das equipas, será necessário promover novas e astutas formas de motivação e team building. O papel das equipas de RH e Comunicação nunca terão sido tão desafiantes. Caberá aos escritórios, num futuro próximo, tomar decisões sobre o modelo a adotar. Mas a definição desses modelos terá já hoje de ser uma prioridade tendo, aliás, em conta que, até ao momento do regresso ao “normal” é expectável que existam tempos intermédios com necessidades de adaptação diferentes. O caminho a escolher dependerá certamente das estruturas, pessoas, espaços e capacidades. Mas estou certa que muito dificilmente se voltará a regimes pré pandemia. Com maior ou menor intensidade, com mais ou menos coragem, a solução passará sempre por regimes mistos que aproveitem os benefícios do home office sem prejudicar a eficácia, a rentabilidade e a proximidade. Será tarefa exigente mas que já se avistava no horizonte, tendo apenas sido precipitada pela pandemia.

  • Susana Santos Valente
  • Sócia da PRA-Raposo, Sá Miranda & Associados

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