Alterações climáticas podem destruir 6% da economia portuguesa

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  • 27 Abril 2021

Eventos meteorológicos extremos, causando inundações e seca, e impacto no turismo e agricultura constituem cenário de perdas a que Portugal se deve adaptar.

O Swiss Re Institute testou 48 países a cenários de stress para aferir o impacto da mudança climática em cada um. São três os cenários climáticos, com níveis de gravidade variáveis, que serviram para calcular a posição de cada uma dessas economias que, em conjunto, representam 90% do pib mundial num novo índice de resiliência às alterações climáticas com alcance temporal até meio do século.

Na Terra inteira, supondo incremento de 2°C no aquecimento global até 2048, o impacto das alterações climáticas é estimado em 11% do PIB mundial, assume o relatório. “O risco climático é um risco sistémico e só poderá ser abordado globalmente”, afirma Jérôme Haegeli, economista-chefe do grupo Swiss Re, citado no relatório.

Portugal é quarto no New Climate Economics Index, à frente de países como, por exemplo, Canadá e Noruega, e que comparativamente apresentam risco mais elevado de exposição à subida do nível das águas do mar.

No cenário severo, principal referência do estudo que modela outros dois cenários alternativos, considerando que a temperatura suba 2%, o impacto negativo (perdas económicas) para Portugal em resultado das alterações climáticas corresponderão a 6,2% da riqueza nacional (pib). Caso o país cumpra a metas do Acordo de Paris, o impacto negativo terá sido atenuado em 4% no final do horizonte temporal.

Em função da ponderação de variáveis agregadas que concorrem para o 4º lugar da geral – impactos no produto interno bruto; risco meteorológico extremo; capacidade de adaptação -, Portugal obtém uma pontuação de 15,9 (quanto mais baixa for a pontuação menor é a gravidade da exposição à mudança climática). No ranking global Portugal é apenas precedido pela Finlândia (1º, com 11,3 de pontuação), Suíça (2º, com 11,6) e Áustria (3º, a pontuar 15,1), seguindo-se Canadá (16).

A lista das 10 melhores pontuações completa-se com Noruega (17,4), EUA (17,9), Suécia (os mesmos 17,9), Dinamarca (18,8) e Alemanha (19,4). Em cada uma das métricas do estudo, à medida que vai subindo pontuação, mais preocupante se apresenta a situação de um país (ou dos riscos físicos e económicos analisados), correspondendo também a cores que tendem mais para o encarnado na infografia do relatório.

No mapa das ameaças, a situação de Portugal é agravada pela exposição a eventos meteorológicos extremos associados a condições de humidade severa e à subida do nível do mar (fatores potencialmente causadores de cheias e galgamentos costeiros), constituindo variáveis físicas que atiram Portugal para posição 30 do índice, a mesma em que o país fica quando analisado o impacto das alterações climáticas no turismo (receitas de exportação). Logo a seguir, em termos de gravidade, surge o impacto medido sobre a produtividade agrícola.

Figurando na metade inferior do índice no que respeita aos riscos de seca e inundações, a posição de Portugal em termos da capacidade de adaptação às alterações climáticas (ações e medidas de mitigação dos riscos), necessidade realçada há poucos dias pelo ministro Matos Fernandes (Ambiente e Ação Climática) desce face ao lugar no índice geral. Na adaptação à incerteza e impacto das mudanças no clima, o ranking de risco climático do Swiss Re Institute coloca Portugal em 10º lugar entre os 48 analisados.

No mundo, se nada for feito para mitigar os riscos e considerando uma subida de 3,2°C na temperatura do planeta, a estimativa do impacto das alterações climáticas corresponderá a perder 18% do PIB global. Com aumento de 2,6°C e algumas medidas, as perdas pesariam 14% do produto global e, por fim, verificando-se 2°C de aquecimento até 2048, o impacto estimado é de 11% do PIB mundial. Este último é o cenário de referência para o alerta deixado no estudo, considerando que a trajetória de aumento da temperatura global se mantém nos próximos 30 anos e que, tanto o Acordo de Paris como o objetivo de zero emissões falhem.

Segundo explica a Agência Portuguesa do Ambiente, o Acordo de Paris (adotado em dezembro de 2015 e em vigor desde novembro de 2016) visa alcançar a descarbonização das economias mundiais e estabelece como um dos seus objetivos de longo prazo limitar o aumento da temperatura média global a níveis bem abaixo dos 2ºC acima dos níveis pré-industriais e prosseguir esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC, reconhecendo que isso reduzirá significativamente os riscos e impactos das alterações climáticas.

Antes de trabalhar para conseguir a recente aprovação da Lei do Clima da UE, o Governo aprovou, em agosto de 2019, o Programa de Ação para a Adaptação às Alterações Climáticas. O decreto explica os objetivos estabelecidos.

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