Património dos portugueses engorda para recorde de 708 mil milhões

Num ano marcado pela crise pandémica, o património líquido dos portugueses continuou a crescer: aumentou 5,7% para os 708 mil milhões de euros, um novo máximo. 60% está no imobiliário.

Os portugueses reforçaram o seu património líquido em 2020 apesar da crise pandémica. Entre ativos financeiros (como depósitos bancários ou ações) e o imobiliário (casa própria), o conjunto dos portugueses tinha um total de 708,1 mil milhões de euros no final de 2020, o que corresponde a um aumento de 5,7% face a 2019, de acordo com os dados do Banco de Portugal. No ano passado também o rendimento disponível dos cidadãos aumentou em termos agregados, em vez de cair como é expectável numa crise.

O património líquido corresponde aos ativos (como os depósitos bancários, ações ou casa própria) subtraídos dos passivos (dívidas como o crédito à habitação). Recentemente o banco central atualizou esta série estatística que começa em 1997 com dados para 2020, mas é de assinalar que não é descontado o efeito da inflação ao longo dos anos.

No ano passado, apesar da crise pandémica que levou a uma queda de 7,6% do PIB, o património líquido dos portugueses cresceu 5,7% (mais 38,1 mil milhões de euros face a 2019) — o crescimento mais baixo desde 2016 –, correspondendo a 349% do PIB anual do país. A parte financeira, em termos líquidos, subiu 5,6% ao passo que a parte de habitação aumentou 5,8%.

O que justifica esta evolução num ano de crise? “A valorização do mercado imobiliário e de ativos de rendimento variável, o suporte dado às famílias em ano de pandemia e o aumento da poupança são fatores que explicam esta evolução“, explica o BPI no “Pulso Económico” desta segunda-feira.

Património líquido dos portugueses recuperou da crise anterior em 2016

Fonte: Banco de Portugal. Em milhões de euros.

Esta melhoria do património dos portugueses durante a crise aconteceu num ano em que o rendimento disponível dos particulares aumentou 1%, em termos agregados (haverá situações muito díspares), devido à subida dos salários mas também graças às prestações sociais e outras transferências correntes entre o Estado e os cidadãos, as quais foram reforçadas por causa da pandemia.

Além disso, a queda do consumo por causa das restrições para controlar a pandemia levaram um aumento significativo da taxa de poupança para os 12,8% em 2020. Os dados do Instituto Nacional de Estatística mostram que os portugueses não poupavam uma percentagem tão grande do seu rendimento desde 2002. Em 2019, a percentagem de poupança era de 7,1%.

O património líquido dos portugueses só não cresceu mais em 2020 porque o passivo financeiro cresceu ao ritmo mais elevado desde a crise financeira. O stock de empréstimos (dívida) dos cidadãos aumentou 1,6%, o que corresponde a mais 2,1 mil milhões de euros face a 2019, para um total de 138,4 mil milhões de euros. Porém, este valor ainda está longe do pico de endividamento dos particulares atingido em 2010 (163,2 mil milhões de euros).

Habitação corresponde a 60% do património dos portugueses

O maior ativo dos portugueses é a sua habitação: os ativos em imobiliário correspondem a 60% do total do património em 2020. Esta componente foi a que mais sofreu na crise financeira e a das dívidas soberanas, mas com o boom do mercado imobiliário passou a dar um contributo maior para o aumento do património dos portugueses.

O ano passado não foi exceção com o preço das casas a crescer 8,4%, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). No total, o património dos portugueses em habitação cresceu 23 mil milhões de euros em 2020 para os 423,4 mil milhões de euros, mais 5,8% do que em 2019.

Ainda assim, a crise não está invisível nestes dados. Os preços das casas desaceleraram e a taxa de crescimento do património imobiliário foi a mais baixa desde 2016.

De notar que estes valores do património em imobiliário não são líquidos uma vez que o crédito à habitação é um passivo financeiro, sendo contabilizado (neste caso, subtraído) no património financeiro.

Depósitos na banca nunca tinham aumentado tanto num só ano

O efeito da crise pandémica, principalmente pela queda do consumo privado fruto das restrições implementadas para controlar a Covid-19, é ainda mais visível nos dados do património financeiro. Os depósitos (e o valor em numerário) aumentaram 7,1%, o equivalente a mais 13,7 mil milhões de euros, para 207,4 mil milhões de euros.

Este é o maior aumento dos depósitos desde o início da série em 1997, ficando ligeiramente acima do reforço de 13,4 mil milhões de euros registado em 2008, ano da crise financeira, de acordo com os dados do Banco de Portugal. O aumento dos depósitos dos portugueses junto dos bancos já vinha sendo visível nos dados mensais publicados pelo banco central.

Depois dos depósitos, a maioria dos ativos financeiros dos portugueses está em ações e outras participações. Esta componente cresceu 6,1% em 2020, ano em que os mercados acionistas colapsaram em março mas recuperaram rapidamente.

No total, os portugueses tinham 132,6 mil milhões de euros investidos neste tipo de ativos financeiros no final do ano passado, ao que se soma 22,1 mil milhões de euros em fundos de investimento e ainda 67,5 mil milhões em seguros, pensões e garantias. Este último caiu 5,3% face a 2019.

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