Soft Skills Vs Evolução tecnológica

  • Miguel Ferreira
  • 31 Agosto 2021

Para Miguel Ferreira, national sales manager Portugal da corretora Nacora, a matriz relacional existente nos seguros não pode ser substituída por um algoritmo qualquer.

As empresas tiveram forçosamente que se adaptar à revolução digital, que lhes obrigou a mudar a sua forma de trabalhar e de interação com os seus clientes e stakeholders.

O pretexto configurou-se como perfeito e muitas empresas deram o passo (obrigatório) para colocar em prática políticas laborais e de gestão que apesar de conhecidas e estudadas em tese, apenas veriam a luz do dia daqui a muitos anos, depois de muitos experimentalismos e projetos-piloto.

A verdade é que a tecnologia faz parte do nosso dia-a-dia, seja na esfera pessoal como profissional. De repente, tudo aquilo que fora desenvolvido pelo homem teve o seu derradeiro papel de contribuição inexorável, permitindo uma normalização das atividades das empresas, minimizando assim o impacto de uma crise desconhecida até então.

No meio deste cenário utópico para muitos, as vantagens e benefícios dos novos modelos de trabalho, a nova forma de ver o work-life balance, geraram produtividades marginais crescentes em várias empresas numa fase inicial. Atualmente, essas produtividades marginais crescentes já se tornaram decrescentes, com as empresas agora em busca de modelos híbridos, que permitam que os seus colaboradores permaneçam motivados e imbuídos na cultura organizacional e com sentido de pertença, que por estes dias é quase nulo ou muito mal percecionado pelos colaboradores. A experiência de equipa começa a fazer falta e o brainstorming presencial com líderes proativos, exponenciam novas ideias, que no trabalho remoto torna-se difícil de alcançar.

Aqui entra um novo paradigma e urge o setor segurador saber ler este momento de forma serena, com um redesenho capaz de ir ao encontro das necessidades de todos. A matriz relacional existente nesta atividade, sem paralelismo com nenhuma outra, não pode ser substituída por um algoritmo qualquer. E se falamos em trabalho remoto possível para quem presta um serviço intangível, a verdade é que a génese desta atividade, principalmente na corretagem e de serviço apoiado às empresas, não se compadece sem o interlocutor privilegiado, especialista e capacitado perto dos seus clientes.

Mas, será que elevaremos assim tanto a fasquia de forma a que um B2B ou B2C seja substituído por D2C? Não creio, mesmo considerando a perspetiva única dos millenials sobre o mundo e a sociedade. O imediatismo que os caracteriza, provavelmente ditará a necessidade premente da subscrição de um risco de um momento para o outro a uma distância de um clique, mas as organizações carecem de um profissional dotado, capaz de lhes demonstrar confiança e mostrando de forma clara as soluções existentes para colmatar as suas necessidades. Afirmaria que a tecnologia será um importante complemento, mas não funcionará, per si, sozinha e de forma autónoma nesta atividade.

Um exemplo concreto da atualidade, as insurtechs, operam a montante com a disponibilização ao consumidor final das várias opções de mercado junto das Seguradoras, com a concretização do negócio a ser feito on demand. Essencialmente construídas para público de massas, quando se procuram algo mais complexo e de acordo com as necessidades específicas de cada empresa, carecerá sempre de uma análise prévia e estudada, sempre na senda do perfil do potencial cliente, o que só é conseguido com a intervenção de um profissional.

Tudo aponta para a extinção de determinadas atividades e profissões, completamente substituídos por máquinas e softwares inteligentes, com o contrapeso da criação de outras novas, provavelmente desconhecidas no dia de hoje, mas que serão alvo de uma procura elevada pelas próximas gerações.

A lacuna da não capacidade de inovação, sob pena de não ser possível atingir um objetivo de forma mais rápida e precisa, tornou-se um risco emergente e que deverá ser mitigado. O repensar de uma estratégia, capaz de colocar a inovação como ponto fulcral para a competitividade das empresas, acarreta um novo olhar sobre o mundo, em que o ímpeto para ser simplesmente humanizado significará menos lucro, menor competitividade e provavelmente extinção a médio prazo.

Perante este cenário, existe apenas uma opção, ou não existirão alternativas que permitam encontrar um ponto ótimo entre evolução tecnológica e as soft skills, porventura humanas, que só o profissional consegue oferecer? Na área de corretagem de seguros, não propriamente. Necessitamos de um atuariado forte, com algoritmos capacitados e fiáveis, mas a explicação cabal de uma solução, o entendimento da cultura das empresas, a assertividade de uma resposta com vantagens, isso só será possível através de pessoas qualificadas.

A atividade seguradora e principalmente a área da corretagem, tem um ativo imensurável que se baseia na relação, na interação, na moldagem conjunta na busca de novas soluções. As emoções e capacidade de empatia só são plenamente entendíveis se retirarmos da equação as ditas máquinas inteligentes.

Dito isto, mesmo sendo um adepto de novas tecnologias, mas também consciente que o meu filho mais velho já começa a entender mais do que eu em várias vertentes, há que não ter medo de assumir que a desumanização, com a substituição do trabalho por máquinas, não será transversal a toda a indústria… sob pena de destruirmos valor.

  • Miguel Ferreira
  • National Sales Manager em Portugal da Nacora - International Insurance Brokers

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