BRANDS' TRABALHO As dissonâncias nas organizações: quem cala consente!

  • PESSOAS + EY
  • 4 Outubro 2021

Num mundo cada vez mais conectado, a transparência está a redesenhar a relação entre as pessoas e as organizações, refere Beatriz Marques, Senior Consultant EY, People Advisory Services.

Hoje, uma organização é encarada como uma autêntica glass box – um caixa de vidro – em que se consegue ver tudo aquilo que se passa no seu interior. É possível ver as pessoas, as estratégias, os processos, os valores e até as emoções de quem vive lá dentro.

Esta realidade representa uma evolução, dado que até há pouco tempo as organizações eram encaradas como caixas opacas, sendo muito difícil compreender o que se passava lá dentro. Apenas deixavam transparecer para o exterior aquilo que estava “aprimorado do lado de fora da caixa” e que, na maioria das vezes, era o que chegava através das campanhas de marketing.

Apesar da atual evolução, existem ainda algumas organizações em que a realidade que é vivida internamente não corresponde àquilo que é comunicado para o exterior.

Quando isto acontece, acaba por se dar uma dissonância cognitiva. Este conceito remete para a necessidade de o indivíduo procurar coerência entre suas cognições, isto é, conhecimentos, opiniões ou crenças. A dissonância ocorre quando existe uma incoerência entre as atitudes ou comportamentos nos quais o indivíduo acredita serem certos e o que realmente é praticado.

Quais são as dissonâncias mais comuns ao nível das organizações?

Na minha opinião existem algumas dissonâncias que tipicamente se destacam de forma transversal nas organizações, que estão assentes na Cultura Organizacional e nas Lideranças.

Concretizando alguns exemplos entre a narrativa que é comunicada e praticada no dia a dia:

  • Comunica-se que é parte da cultura de uma organização o comportamento de “sair fora da caixa”, assumir riscos, procurando inovar. Contudo, quando as pessoas erram, são punidas ou rotuladas de alguma forma.
  • Apregoam-se culturas autênticas, próximas, assentes na confiança e na colaboração. Todavia, revelam-se culturas hierárquicas, com falta de comunicação e transparência.
  • Promove-se o empowerment nos colaboradores e a capacidade de tomar decisões, mas, quando é solicitado algum guidance às chefias, assume-se que não têm autonomia e que não têm capacidade para desenvolver o seu trabalho, sendo mais tarde prejudicados.
  • Divulga-se que, cada vez mais, as organizações estão preocupadas com a saúde mental e o wellbeing dos colaboradores. Porém, verifica-se um excesso de workload, que ultrapassa os horários “normais” e é exigido o cumprimento de objetivos, cada vez mais, ambiciosos.

"Cada organização poderá estar num estádio de maturidade diferente, no entanto, acredito que a missão de cada um de nós passa por ter coragem de trazer para cima da mesa o que é disfuncional, para atuar como facilitador da mudança.”

Beatriz Marques

Senior Consultant EY, People Advisory Services

O que podemos fazer para evitar estas dissonâncias?

Estas dissonâncias podem impactar negativamente a experiência do colaborador na organização, pelo que é importante manter uma visão crítica, ampla e o discernimento de identificar aquilo que não é funcional na cultura organizacional.

Adicionalmente, é fundamental preparar e apoiar as lideranças no desenvolvimento de algumas skills que promovam na organização os comportamentos desejados.

Mudar crenças disfuncionais enraizadas poderá ser um desafio, mas terá a vantagem de olhar para o que efetivamente podemos alterar e mobilizar para uma mudança de atitudes e mindset.

Cada organização poderá estar num estádio de maturidade diferente, no entanto, acredito que a missão de cada um de nós passa por ter coragem de trazer para cima da mesa o que é disfuncional, para atuar como facilitador da mudança, através de um diálogo constante e de uma postura positiva, procurando ressaltar aquilo que é funcional para os vários grupos que convivem na organização.

Ao garantir a cultura como um eixo firme e, simultaneamente, flexível, em constante evolução, é possível promover a humanização das organizações e ser mais fiel na experiência que é vivenciada internamente e que é partilhada para o exterior.

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