A Europa na encruzilhada da transição energética

  • Ricardo Nunes
  • 18 Dezembro 2021

O mercado da energia nunca esteve tão dinâmico! Os que atravessarem esta encruzilhada para o lado certo terão mais oportunidades de crescimento e inovação, e maior competitividade.

O estado atual dos mercados de energia tem colocado a Europa numa verdadeira encruzilhada rumo à almejada transição energética. Com os preços da energia em máximos históricos, os Estados Membros têm vindo a identificar os melhores caminhos para cumprir os objetivos a que a Comissão Europeia se propôs sem que tal comprometa significativamente o outro lado da balança: o desenvolvimento económico e social.

O relatório anual do estado da energia na União Europeia realça o papel essencial que as energias renováveis têm vindo a assumir no perfil do consumo energético na Europa. Entre outras conclusões, o relatório refere que as energias renováveis já ultrapassaram as fontes de energia fóssil como a principal fonte de energia, demonstrando assim a sua capacidade de resposta e o seu papel preponderante para responder aos desafios interligados da descarbonização e da crise climática. Mas será suficiente?

A produção de eletricidade a partir de fontes renováveis envolve (ainda) a ultrapassagem de um obstáculo pertinente relacionado com a ausência de uma alternativa tecnológica consistente com as necessidades energéticas em carga base: a sua disponibilidade, algo intermitente, continuará a constituir um relevante handicap, dado o estado incipiente das tecnologias armazenamento de energia. O gás natural continuará a ser essencial para garantir uma produção estável [de eletricidade] pelo menos ao longo da próxima década, o que implica manter-se (ainda) alguma dependência dos mercados internacionais, nomeadamente da Rússia, para assegurar um fornecimento a preços competitivos.

Neste vetor energético (eletricidade) Portugal tem vindo a desenvolver um caminho muito consistente, antevendo-se uma minimização destes impactes ao longo dos próximos anos. Revela-se, todavia, pertinente, evidenciar que energia não é apenas eletricidade.

Os consumos de energia dos setores da indústria e dos transportes, que representam cerca de 60% do consumo final de energia em Portugal, têm ainda uma forte dependência de recursos energéticos não renováveis, nomeadamente combustíveis fósseis.

A aposta crescente no desenvolvimento de alternativas, como o hidrogénio e/ou os gases renováveis, constitui-se como uma tremenda oportunidade para os setores onde a eletrificação não se revela viável ou exequível, como acontece em alguns subsetores do setor dos transportes (pesados, aviação, etc.) e alguns subsetores do setor industrial (cerâmica e vidro, metalurgia, etc.). Esta é, aliás, uma área em que Portugal tem também estado a apostar de forma clara e que pode trazer diversos projetos de investigação e desenvolvimento relevantes para o país.

Mas se tudo aparenta ser tão positivo, quais são os principais obstáculos à sua concretização?

Na atual encruzilhada, em que ainda não temos todas estas soluções tecnológicas disponíveis, nem a facilidade de distribuição da produção de acordo com os mercados que mais necessitam, é essencial assegurar a interligação entre países e a criação de uma plataforma comum de negociação de eletricidade, para além da harmonização das regras nacionais sobre a negociação de energia e a operação dos sistemas, o que irá permitir a integração da resiliência essencial ao funcionamento do sistema energético [1].

O papel das comercializadoras de energia é também essencial para conseguir atingir este desiderato e ir ao encontro dos objetivos anunciados em Glasgow, NZE2050 (Net Zero Emissions 2050), que tem o ambicioso objetivo de assegurar que grande maioria da capacidade adicional de produção de energia seja proveniente de fontes de baixas emissões até 2030, procurando assim impactar na inflexão da curva de emissões [2].

Ao estarem na interseção entre produtores e consumidores, os comercializadores de energia têm uma visão e ação única entre todos os agentes do sector, que lhes permite agir como facilitadores de mudança no paradigma, potenciando a adoção de novas tecnologias e alertando para a necessidade de maior interligação entre os diferentes interlocutores, incluindo os reguladores.

O caminho para a transição energética já começou, é inegociável a sua aplicação, mas devemos desenvolver e investir nas ferramentas e tecnologias corretas, para que os nossos cidadãos e as nossas empresas possam, com o menor custo possível, serem também eles agentes impulsionadores e facilitadores deste grande desiderato geracional.

Notas:

[1] The 2021 State of the energy union report | European Commission (europa.eu)
[2] Executive summary – World Energy Outlook 2021 – Analysis – IEA

  • Ricardo Nunes
  • Economista, Chief Strategy Officer do OMIP, membro do Observatório de Energia da Sedes

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