Sérgio Santos Pereira, country managing partner da Forvis Mazars Portugal, afirma que o objetivo é continuar a ganhar quota de mercado, mas sem perder a relação de proximidade com os clientes.
A Forvis Mazars tem vindo a ganhar quota de mercado em Portugal, aproximando-se de território das big four, nomeadamente através da conquista de grandes empresas. Em entrevista ao EContas, Sérgio Santos Pereira, country managing partner da Forvis Mazars em Portugal, garante, porém, que o objetivo não é tornar-se numa das quatro maiores consultoras, querendo manter um serviço de proximidade com os clientes.
É com esta lógica em mente que a empresa pretende expandir-se em território nacional. Numa altura em que já conta com escritórios em Lisboa, Porto, Leiria e, mais recentemente, no Algarve, o responsável explica que a Forvis Mazars está a analisar a integração de auditoras mais pequenas, que procuram ganhar capacidade de investimento em tecnologia e recursos humanos, para chegar a outras zonas do país.
Temos um mercado muito concentrado nas chamadas big four. A vossa meta é chegar a este território?
A nossa meta é aquela que temos estado a conseguir atingir, que é sermos claramente os quintos no mercado. Deixar todos os nossos concorrentes mais afastados e aproximarmo-nos das big four. Agora, não queremos ser uma big four. Queremos manter uma prestação de serviço muito mais personalizada, de proximidade. Não queremos entrar num mass market em que o cliente não perceba porque é que somos a Forvis Mazars, porque é que a nossa cultura é distinta, porque é que a nossa preocupação humana é muito diferenciada. Mas queremos continuar a conquistar quota de mercado.
Até onde querem ir?
Diria que temos de nos renovar todos os anos, em todos os planos estratégicos, para que o crescimento não seja sequer negociável. É um must-have. Se não houver crescimento, como é que conseguimos aumentar os salários, fazer investimentos, dar perspetivas de carreira ou atrair novas pessoas?
Têm vindo a conquistar também grandes clientes?
No nosso plano estratégico – e tem vindo a ser alcançado – está a nossa conquista de quota de mercado em clientes icónicos. Não estamos contentes por ficar só com as pequenas e médias empresas (PME) e middle market. Estamos a chegar cada vez mais e com mais intensidade [às grandes empresas]. A partir do momento em que se criam relações de confiança com base em trabalho feito e ainda acrescentamos valor do ponto de vista de proximidade, conseguimos rapidamente conquistar quota de mercado também nesse patamar. Não é tão fácil como no middle market, porque aí estamos a falar diretamente com o acionista, com o dono, mas tem sido possível e acho que vai ser acelerado nestes próximos anos.
Recentemente, ficámos a saber que a BDO foi a auditora escolhida pelo Santander…
Connosco está a acontecer o mesmo. Mesmo ao nível europeu, temos conquistado todos os dias clientes de Tier1. O mercado quer alternativas. Temos o nosso espaço e vamos conquistar mais. Estamos lá, taco a taco. Ainda não temos a mesma dimensão. Mas não nos sentimos diminuídos em nada.
A nossa meta é aquela que temos estado a conseguir atingir, que é sermos claramente os quintos no mercado. Deixar todos os nossos concorrentes mais afastados e aproximarmos das ‘big four’. Agora, não queremos ser uma ‘big four’. Queremos manter uma prestação de serviço muito mais personalizada, de proximidade. Não queremos entrar num ‘mass market’.
As regras de supervisão, nomeadamente a obrigatoriedade de rotação ao fim de 10 anos, também ajudaram a mudaram o paradigma?
Sim. E há também a questão de mindset. No passado, na área da banca, seguros, havia uma pressão dos stakeholders e dos reguladores [porque a escolha de uma] big four era mais confortável para todos. Creio que isso mudou. Vim agora de uma conferência onde os nossos colegas chineses partilharam que mesmo na China vão avançar para o joint audit. Ou seja, para se evitar uma proximidade excessiva de uma auditora com determinado cliente, essa auditoria é partilhada por duas empresas distintas. Isto também já existe em França.
Isso também acontece em Portugal?
Em Portugal, não. Estamos há muitos anos a tentar fomentar esse espírito, porque, efetivamente, para além de alargar a quota de mercado, [reforçaria também a perceção de qualidade do serviço], porque essa proximidade entre cliente e fornecedor deixava de existir de forma tão gritante. Diria que os nossos reguladores também deviam pensar algo semelhante.

Porque não acontece cá?
Porque a lei não obriga e há a questão dos custos. Imagine que hoje um banco é auditado por uma big four. A repartição desse trabalho por duas auditoras significaria que a receita também tinha de ser partilhada. Como deve calcular, não é fácil alterar as regras do jogo, tal como estão estabelecidas, mas por uma questão de regulação, achamos que era o passo certo. Teríamos duas entidades a auditar que teriam de chegar a acordo relativamente à emissão da certificação.
Vê uma mudança de paradigma no mercado?
Não tenho dúvidas quanto a isso. O mercado da auditoria está dividido em duas grandes áreas. Uma área que é a indústria de serviços e depois há a área financeira. Na indústria de serviços, que é grande parte do nosso mercado, há cada vez mais há uma pressão do regulador para uma qualidade do serviço, das metodologias e até do ponto de vista tecnológico. Há muitas Sociedade de Revisores Oficiais de Contas (SROC) pequenas que não conseguem fazer o investimento para passar para esse patamar de excelência. Isto faz com que o mercado vá concentrar-se. Ou seja, as SROC de pequena dimensão vão-se concentrar em entidades como a nossa ou como outras semelhantes. Porque nós temos capacidade de investir, já temos as metodologias estabelecidas, os investimentos em parte feitos e, portanto, conseguimos dar essa resposta.
Essa integração das SROC mais pequenas está a acontecer?
Já, e normalmente não procuram as big four. Estamos a falar de realidades tão distintas que, mesmo do ponto de vista cultural, não é fácil assimilar. Acreditamos que essa concentração do mercado na indústria de serviços continua a acontecer. Do lado dos serviços financeiros, já é um bocadinho mais diferente, porque o nível de exigência ainda é maior – estamos a falar de bancos e seguros – e aí achamos que era mesmo interessante a questão do joint audit, porque permitiria uma corresponsabilização relativamente à certificação de contas a ser emitida. Isso iria trazer mais segurança ao mercado.
Temos alguns processos em curso de avaliação de pequenas SROC que se aproximaram de nós [para uma possível integração], que estão em geografias distintas de Lisboa, Porto, Leiria e Algarve, onde já estamos presentes.
Essas SROC estão a procurar a Forvis Mazars para essa integração?
Temos alguns processos em curso de avaliação dessas pequenas SROC que se aproximaram de nós, que estão em geografias distintas de Lisboa, Porto, Leiria e Algarve, onde já estamos presentes. Não lhe consigo dizer hoje se vamos conseguir fechar ou não essas operações. Mas se isso vier a acontecer, vão ser outras geografias.
Essas operações de integração aceleraram nos últimos dois anos?
Sim. Pelas pressões que referia há pouco. Os próprios reguladores têm exigências maiores e as pequenas SROC têm consciência que sozinhas não vão conseguir e é mais interessante juntarem-se a firmas com outro tipo de capacidade e todos juntos prestamos um serviço de excelência ao mercado.
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