Nuno Arruda (WTW): “Inflação exige cuidado das empresas com os seus capitais seguros”

O novo presidente da WTW Portugal fala da nova fase da corretora depois de uma fusão anunciada e terminada e de como conseguiu atravessar 2 anos de turbulência com 25% de crescimento dos negócios.

 

Nuno Arruda: “com o degradar da oferta pública de saúde, cada vez mais nos vemos obrigados a recorrer aos prestadores privados o que, sem o apoio do mercado segurador, seria muito difícil”.

A WTW arrancou 2022 com muitas novidades. Logo por ter acabado a indefinição se a fusão mundial com a concorrente AON ia acontecer, o que em julho do ano passado se confirmou que não. A acontecer a fusão resultaria no conjunto AON/WTW, 2ª e 3ª do ranking mundial atrás da Marsh, a tornar-se a maior corretora do mundo. Já em Portugal as duas corretoras estariam em 3º lugar. Mas a fusão não aconteceu e a WTW atingiu 10, 4 milhões de euros de volume de negócios, subiu a 6ª do ranking nacional, obtendo ainda lucros líquidos de 2,5 milhões.

Outra mudança significativa foi o nome com a sintetização definitiva em WTW em lugar de Willis Towers Watson. No entanto, o novo ano trouxe ainda a mudança na presidência da WTW Portugal, com a promoção de Nuno Arruda, até então vice-presidente.

Nuno Arruda está há 20 anos na empresa e, segundo Gianmarco Tosti, Head of Mediterranean Region da WTW, é “altamente eficaz a trabalhar em estreita colaboração com colegas, clientes e mercados para alcançar o crescimento desejado por todos os stakeholders. Para descrever a nova vida da corretora foi entrevistado por ECOseguros.

A WTW cresceu 12% os seus negócios em 2021, acima da média das 20 maiores corretoras, mas teve uma ligeira quebra de lucros? Por que motivo os resultados não acompanharam os negócios?

Tivemos efetivamente um bom ano em 2021, fruto não só do crescimento orgânico da nossa carteira mas também da capacidade em continuar a gerar novo negócio de forma consistente. Quanto à ligeira quebra do resultado líquido, deveu-se essencialmente ao natural aumento de custos em relação a um ano de 2020 que foi muito atípico em função da pandemia, sendo que em 2021 procurámos restaurar a normalidade possível na nossa atividade, sempre salvaguardando a saúde dos nossos colaboradores, clientes e parceiros e a flexibilidade que nos caracteriza. Mas, não posso deixar de sublinhar que para além do obviamente relevante crescimento dos nossos negócios, é para nós muito importante também reconhecer o crescimento do papel de Portugal na nossa companhia e que melhor testemunho que a notoriedade que o nosso centro de serviços alcançou pelo excelente trabalho desenvolvido, tendo Lisboa sido agora escolhida como Hub regional para toda a Europa.

As alterações climáticas, a resiliência das cadeias de fornecimento, a continuidade de negócio, os riscos cibernéticos, a sustentabilidade, a atração e retenção de talento, o bem-estar, a literacia financeira, os benefícios flexíveis são, entre muitas outras, áreas nas quais estamos a trabalhar muito ativamente

A sua mudança de Vice-presidente para presidente da WTW em Portugal significa também uma mudança de estratégia da empresa?

A ambição que a nossa equipa de gestão tem para a nossa organização em Portugal é muito clara e está em linha com a estratégia global da nossa organização: crescimento sustentável das nossas operações, com grande foco nos clientes e com a WTW a assumir-se cada vez mais como um suporte importante para as empresas enfrentarem um contexto global e local muito desafiante; simplificar e transformar processos no sentido de sermos mais ágeis e utilizarmos os nossos recursos de forma mais eficiente; garantir que estar na WTW seja uma experiência enriquecedora, que nos dê a todos prazer e orgulho em fazer parte desta comunidade.

Qual o perfil dos clientes da WTW? Alinhamento internacional? Empresas portuguesas no estrangeiro? Particulares serão poucos, presumo?

O foco da WTW continuará a ser o segmento Corporate. A nossa estrutura, planos de serviços e soluções estão desenhados no sentido de apoiar organizações com alguma dimensão e complexidade, que procurem um parceiro global, altamente especializado para com elas enfrentar desafios complexos em matérias de risco e capital humano. As alterações climáticas, a resiliência das cadeias de fornecimento, a continuidade de negócio, os riscos cibernéticos, a sustentabilidade, a atração e retenção de talento, o bem-estar, a literacia financeira, os benefícios flexíveis são, entre muitas outras, áreas nas quais estamos a trabalhar muito ativamente em parceira com os nossos clientes, sustentados em equipas muito experientes e numa capacidade de inovação sem paralelo.

Lê-se no relatório de 2021 que a WTW “prevê a continuação de endurecimento de condições para as transferências de riscos, mas que também está a colocar forte pressão de controlo de custos nos nossos clientes”. O hard market mantém-se na Europa e quais as consequências? Os clientes portugueses podem infra segurar-se para poupar nos prémios?

Efetivamente os dados de que dispomos levam a crer que o hard market se manterá a curto/médio prazo, mas possivelmente não de forma tão acentuada como vivemos nos últimos 36 meses, com exceção para alguns ramos específicos, nomeadamente o Cyber e os Riscos Profissionais. Naturalmente que este contexto é um desafio acrescido para as empresas que, para manterem o mesmo nível de proteção, têm visto os seus custos aumentar substancialmente.

Como pode a WTW ajudar a moderar os custos das empresas com seguros?

Trabalhar com os nossos clientes na gestão dos seus riscos, mapeando e quantificando antes de os transferir, permitindo por um lado a sua mitigação – reduzindo os custos diretos e indiretos – e por outro lado a identificação dos modelos mais eficientes de transferência. No fundo procurando o melhor binómio possível entre retenção e transferência com vista à redução do custo total de risco.

E como se dão esses passos?

Suportando-nos em ferramentas analíticas, capacidade de engenharia e articulação da dimensão e visão global e local do mercado, ferramentas essenciais para o momento de recorrer ao mercado segurador.

Como está a viver a subida da inflação?

A inflação tem um impacto muito direto na massa segurável e na incapacidade das cadeias de fornecimento em responder atempadamente em caso de incidente. Efetivamente reconstruir hoje uma unidade produtiva ou imóvel tem um custo muito superior ao que tinha há 6 meses e o tempo de reposição de equipamentos e disponibilidade de mão de obra e matéria prima são também mais penalizadores em geral. É essencial estar muito atento para garantir que capitais seguros, limites de indemnização e períodos de perdas de exploração estão adequados à realidade e não se incorra no referido infra seguro, ainda que inadvertidamente.

O negócio de saúde e benefícios é um acrescento ou é fundamental ao negócio segurador?

Atrevo-me a dizer que mais do que fundamental para o negócio segurador, é fundamental para a sociedade, para as empresas e para os seus colaboradores. A verdade é que com o degradar da oferta pública de saúde, cada vez mais nos vemos “obrigados” a recorrer aos prestadores privados o que, sem o apoio do mercado segurador, seria muito difícil. Os benefícios de seguros e soluções adjacentes, por exemplo no espaço do bem-estar, são hoje instrumentos essenciais de atração e retenção de talento e até de responsabilidade social. O grande desafio para o futuro é assegurar que os mesmos sejam sustentáveis a médio/longo prazo, mas também adequados e com a flexibilidade suficiente para responder às necessidades e prioridades de populações muito heterogéneas.

Existe muito a visão redutora e até algo cínica de que os temas LGBT+, assim como os restantes pilares de Inclusão & Diversidade, são essencialmente uma agenda de marketing corporativo. Não na WTW.

A existência e fim do processo de fusão com a AON teve algumas consequências na atividade da WTW em Portugal?

Respeitamos muito a AON como concorrente e importante player no nosso mercado e nunca saberemos o que teria resultado desta combinação. Inevitavelmente um processo desta natureza e com a duração que teve tem algum impacto, desde logo no estado anímico em função da incerteza – a que se juntou a pandemia – pelo que a nossa prioridade foi sempre promover uma comunicação próxima e honesta e reforçar o foco nos nossos clientes que estavam eles próprios a passar momentos de grande incerteza. Olhando para trás, podemos enquanto empresa olhar com muito orgulho para o que em conjunto alcançámos e a resiliência demonstrada, ilustrada por um crescimento acumulado nesses dois anos superior a 25%.

A venda da Willis Re à Gallagher afetou o negócio de resseguro da WTW em Portugal?

De maneira nenhuma uma vez que não geríamos desde Portugal negócio de Tratados, apenas de Contratos Facultativos e que não esteve no âmbito da venda, mantendo-se um pilar importante da nossa oferta para o mercado segurador. É de resto uma área que queremos desenvolver tendo nomeado recentemente um novo responsável que procurará identificar novas oportunidades e soluções inovadoras, em articulação com as nossas equipas globais.

O apoio bastante visível à causa LGBT+ é arriscada do ponto de vista de imagem? Ou, para a reputação da empresa em Portugal, é neutra ou até positiva?

Nunca será arriscado fazer o que está certo. O verdadeiro risco está em não ter uma organização onde as pessoas se sintam livres para expressar a sua individualidade e trazer o melhor de si. Existe muito a visão redutora e até algo cínica de que os temas LGBT+, assim como os restantes pilares de Inclusão & Diversidade, são essencialmente uma agenda de marketing corporativo. Não na WTW. Sem fundamentalismos, sem moralismos, acreditamos profundamente na diversidade seja em que dimensão for porque estamos convictos que todos ganhamos: os nossos colegas, os nossos clientes e, no fim da linha, os resultados serão disso um reflexo. Como referi antes, queremos ser e contribuir para uma mudança positiva na sociedade e que melhor sítio para começar do que “a nossa casa”?

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